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Obra da Odebrecht foi superfaturada, diz jornal argentino
Segundo o semanário "Perfil", a empresa brasileira assinou contrato para ampliar gasodutos com sobrepreço de 35%
Publicação faz oposição ao governo de Néstor Kirchner, que contratou empreiteira; Odebrecht promete dar esclarecimento do caso
RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES
Reportagem publicada ontem pelo semanário argentino
"Perfil" diz que contrato entre
o governo de Néstor Kirchner e
a empreiteira brasileira Odebrecht para a ampliação de dois
gasodutos no país foi assinado
com um sobrepreço de 35%, ou
US$ 486 milhões, em relação ao
valor originalmente orçado para a obra.
A Odebrecht foi contratada
para realizar a segunda fase da
expansão dos gasodutos do
Norte e do Sul, que ligam a Província de Buenos Aires a essas
regiões. A obra vai ampliar a capacidade de transporte dos gasodutos em 22,2 milhões de
metros cúbicos por dia.
A acusação de sobrepreços
tem como origem o próprio governo argentino. Em uma carta
enviada no último mês de maio
ao secretário de Energia, Daniel Cameron, o ex-presidente
do Ente Nacional Regulador de
Gás, Fulvio Madaro, revelou
que o organismo havia calculado para as obras um valor de
US$ 1,386 bilhão. O contrato
com a Odebrecht foi fechado
em US$ 1,872 bilhão.
"Focalizando os valores dos
contratos com a construtora
Norberto Odebrecht, se pode
afirmar que os mesmos se encontram notavelmente acima
dos valores detalhados anteriormente", afirma a carta de
Madaro.
Segundo o "Perfil", Cameron
teria ordenado que a carta de
Madaro fosse destruída, mas
uma cópia chegou ao jornal.
Naquele mesmo mês, Madaro
foi demitido da Enargas por suposto envolvimento em outro
caso de irregularidades no gasoduto norte -a cobrança de
comissões da empresa sueca
Skanska, que realizou as obras
da primeira fase de ampliação
do gasoduto.
A Folha procurou ontem a
Odebrecht para que se manifestasse sobre a reportagem do
"Perfil", mas a assessoria de
imprensa da empresa informou que as pessoas responsáveis por seus negócios na Argentina e que poderiam dar informações a respeito não estavam localizáveis. A empresa se
dispôs a prestar esclarecimentos sobre o tema hoje.
O jornal "Perfil" é conhecido
por ser crítico ao governo
Kirchner, tanto que não recebe
publicidade oficial. No fim de
2006, porém, revelou o caso
Skanska, que hoje se encontra
sob investigação da Justiça.
Antecedentes
A Odebrecht já havia participado da primeira fase de ampliação do gasoduto sul. Chegou a ter seu nome envolvido
nas investigações do caso
Skanska, pois subcontratou a
empresa sueca para realizar
parte das obras. As irregularidades investigadas pela Justiça
argentina, porém, referem-se
às obras no gasoduto norte, de
cuja primeira fase a Odebrecht
não participou.
O caso Skanska é até agora o
maior escândalo de corrupção
do governo Kirchner. A empresa sueca admitiu ter pago 13 milhões de pesos (cerca de R$ 8
milhões) em comissões indevidas. Além de Madaro, Néstor
Ulloa, do estatal Banco de la
Nación, também perdeu seu
cargo sob suspeita de ser um
dos destinatários dos subornos.
Ontem, ninguém do governo
argentino se manifestou sobre
as novas suspeitas de irregularidades.
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