São Paulo, segunda-feira, 03 de setembro de 2007

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Obra da Odebrecht foi superfaturada, diz jornal argentino

Segundo o semanário "Perfil", a empresa brasileira assinou contrato para ampliar gasodutos com sobrepreço de 35%

Publicação faz oposição ao governo de Néstor Kirchner, que contratou empreiteira; Odebrecht promete dar esclarecimento do caso

RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES

Reportagem publicada ontem pelo semanário argentino "Perfil" diz que contrato entre o governo de Néstor Kirchner e a empreiteira brasileira Odebrecht para a ampliação de dois gasodutos no país foi assinado com um sobrepreço de 35%, ou US$ 486 milhões, em relação ao valor originalmente orçado para a obra.
A Odebrecht foi contratada para realizar a segunda fase da expansão dos gasodutos do Norte e do Sul, que ligam a Província de Buenos Aires a essas regiões. A obra vai ampliar a capacidade de transporte dos gasodutos em 22,2 milhões de metros cúbicos por dia.
A acusação de sobrepreços tem como origem o próprio governo argentino. Em uma carta enviada no último mês de maio ao secretário de Energia, Daniel Cameron, o ex-presidente do Ente Nacional Regulador de Gás, Fulvio Madaro, revelou que o organismo havia calculado para as obras um valor de US$ 1,386 bilhão. O contrato com a Odebrecht foi fechado em US$ 1,872 bilhão.
"Focalizando os valores dos contratos com a construtora Norberto Odebrecht, se pode afirmar que os mesmos se encontram notavelmente acima dos valores detalhados anteriormente", afirma a carta de Madaro.
Segundo o "Perfil", Cameron teria ordenado que a carta de Madaro fosse destruída, mas uma cópia chegou ao jornal. Naquele mesmo mês, Madaro foi demitido da Enargas por suposto envolvimento em outro caso de irregularidades no gasoduto norte -a cobrança de comissões da empresa sueca Skanska, que realizou as obras da primeira fase de ampliação do gasoduto.
A Folha procurou ontem a Odebrecht para que se manifestasse sobre a reportagem do "Perfil", mas a assessoria de imprensa da empresa informou que as pessoas responsáveis por seus negócios na Argentina e que poderiam dar informações a respeito não estavam localizáveis. A empresa se dispôs a prestar esclarecimentos sobre o tema hoje.
O jornal "Perfil" é conhecido por ser crítico ao governo Kirchner, tanto que não recebe publicidade oficial. No fim de 2006, porém, revelou o caso Skanska, que hoje se encontra sob investigação da Justiça.

Antecedentes
A Odebrecht já havia participado da primeira fase de ampliação do gasoduto sul. Chegou a ter seu nome envolvido nas investigações do caso Skanska, pois subcontratou a empresa sueca para realizar parte das obras. As irregularidades investigadas pela Justiça argentina, porém, referem-se às obras no gasoduto norte, de cuja primeira fase a Odebrecht não participou.
O caso Skanska é até agora o maior escândalo de corrupção do governo Kirchner. A empresa sueca admitiu ter pago 13 milhões de pesos (cerca de R$ 8 milhões) em comissões indevidas. Além de Madaro, Néstor Ulloa, do estatal Banco de la Nación, também perdeu seu cargo sob suspeita de ser um dos destinatários dos subornos. Ontem, ninguém do governo argentino se manifestou sobre as novas suspeitas de irregularidades.


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