São Paulo, terça-feira, 03 de outubro de 2000

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ELEIÇÃO NOS BÁLCÃS
Presidente da Iugoslávia vai à TV atacar opositores; Oposição Democrática Sérvia inicia greve geral
Polícia de Milosevic prende 11 opositores

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Manifestações de desobediência civil e a prisão de 11 manifestantes marcaram ontem o primeiro dia da greve geral planejada pela oposição iugoslava contra Slobodan Milosevic, que fez um pronunciamento -seu primeiro desde a divulgação dos resultados das eleições do dia 24 de setembro- para atacar a Oposição Democrática Sérvia (ODS).
A agência estatal iugoslava "Tanjung" informou que a polícia prendeu pelo menos 11 pessoas durante as manifestações de repúdio ao governo. Todos os presos são membros do partido de Zoran Djindjic, líder da ODS.
Segundo a polícia de Milosevic, nove pessoas foram presas em Belgrado por "mau comportamento".
O órgão eleitoral iugoslavo anunciou há uma semana que Vojislav Kostunica venceu o primeiro turno com 48,96% dos votos, contra 38,62% de Milosevic, resultado que obrigaria a realização de um segundo turno.
A ODS afirma que não irá participar de um segundo turno porque Milosevic teria fraudado os resultados do primeiro turno. A oposição diz que Kostunica obteve 54% dos votos, o que eliminaria a necessidade de nova votação.
Entre as manifestações de ontem houve bloqueio de estradas, interrupção de combustível de usinas termelétricas, passeatas e greve em escolas.
Até a mídia estatal, importante instrumento de Milosevic, se manifestou. Na Rádio Belgrado, 68 empregados dissidentes pediram o reconhecimento da vitória de Kostunica.
Em Belgrado, as demonstrações de desobediência civil começaram com pouca adesão. As lojas e as instituições estatais funcionaram normalmente durante todo o dia. Somente no final da tarde, cerca de 20 mil pessoas foram protestar no centro da cidade.

Milosevic vai à TV
Milosevic começou seu discurso dizendo que não iria desistir da realização do segundo turno das eleições presidenciais, marcado para o próximo domingo.
Milosevic atacou a ODS e disse que a oposição "recebe apoio e é financiada pelos países da Otan (aliança militar ocidental)".
Acusado pelo Tribunal Internacional da ONU para a ex-Iugoslávia de ordenar operações de "limpeza étnica" contra a população de origem albanesa de Kosovo (sul da Sérvia) durante a guerra de 1999, o presidente disse: "Após dez anos de governo, deveria estar claro para todos que eles (o Ocidente) não estão atacando a Sérvia por causa de Milosevic, mas estão atacando Milosevic por causa da Sérvia".
Em clara tentativa de conseguir votos com a intimidação dos eleitores, Milosevic disse que uma Sérvia sem ele seria atormentada por "violência constante".
Líderes da oposição comentaram que o presidente mostrou sinais de pânico em sua fala. "Seu discurso foi a perfeita imagem do ditador que, momentos antes de ser deposto, em tom de misericórdia, pede ajuda à população que aterrorizou por dez anos", comentou um partido da ODS.

Rússia
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, ofereceu-se como mediador para solucionar o impasse iugoslavo. "Estou preparado para receber nos próximos dias os dois candidatos que passaram para o segundo turno das eleições para discutir uma forma de resolver a situação atual", disse Putin, reconhecendo indiretamente o resultado oficial da eleição.


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