São Paulo, domingo, 03 de novembro de 2002

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SUCESSÃO EM PEQUIM

Começa nesta semana o congresso que marca a transição do poder de Jiang Zemin ao 'tecnocrata' Hu Jintao

China inaugura sua 4ª geração de líderes

JAIME SPITZCOVSKY
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Com a pompa típica das grandes cerimônias oficiais na era maoísta, o Partido Comunista da China abre nesta semana o seu 16º congresso, evento quinquenal que vai consolidar uma mudança de geração na liderança chinesa. Jiang Zemin, 76, deve entregar o cetro a Hu Jintao, 59, mas buscará guardar influência e contribuir para a manutenção do país na rota atual, das reformas econômicas pró-capitalismo num regime político de partido único.
A palavra de ordem na retórica do PC chinês é "manter a estabilidade", expressão que virou mantra reverberado pela mídia chinesa, ferreamente controlada pelo governo. A troca da guarda na cúpula partidária revela uma sucessão com caráter simbólico e histórico, planejada e acertada em negociações palacianas. Não significa, portanto, uma guinada na condução do país mais populoso do planeta.
A chegada de Hu Jintao ao poder sinaliza a emergência da "quarta geração de líderes revolucionários", para emprestar termos ainda usados pelo PC. Jiang Zemin, no poder desde 1989, capitaneia a terceira geração. O emblema da primeira é Mao Tsé-tung, que liderou a Revolução de 1949; o da segunda é Deng Xiaoping, mago que, em 1978, criou a alquimia de misturar capitalismo na economia com regime de partido único na política.
Deng, ao consagrar Jiang como seu herdeiro nos anos 90, também indicou Hu Jintao para ser o seguinte na linha sucessória. E desde 1997, ano da morte de Deng, cristalizava-se a idéia de que o 16º congresso seria o momento apropriado para a mudança de geração, por conta da idade de Jiang.
Hu Jintao, atual vice-presidente chinês, lidera a onda de dirigentes descritos como "tecnocratas", com sólidos conhecimentos na área econômica, em contraste com a "terceira geração" composta por engenheiros que tiveram sua formação na extinta União Soviética.
A prioridade da nova liderança em Pequim será evitar reformas políticas que coloquem em xeque o monopólio do poder nas mãos do PC e manter uma "diplomacia mais pragmática e menos ideológica". Ou seja, priorizar uma política externa que contribua para a expansão da economia chinesa.
O novo governo pretende conservar o país na trilha do acelerado crescimento econômico. Apesar do cinzento cenário internacional, a economia da China, apoiada nas exportações e na absorção de investimentos estrangeiros, se expandiu 7,9% nos primeiros nove meses deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado.

O futuro de Jiang
Escorado no argumento de que o país precisa de estabilidade e de uma liderança experiente, Jiang Zemin se esforçou para garantir a manutenção de uma parcela de poder depois do 16º congresso, quando deve abandonar a secretaria geral do PC.
Em março, ele deixa a Presidência da China, porque está constitucionalmente impedido de ter um terceiro mandato. Especula-se que Jiang possa manter o terceiro cargo que acumula atualmente: o de chefe da Comissão Central Militar, que controla as Forças Armadas. O sucessor de Deng Xiaoping também negocia a inclusão de seus protegidos entre os sete principais integrantes do Politburo, o órgão máximo de poder no Partido Comunista.
Hu Jintao, embora trabalhe em consonância com o atual presidente e tenha o perfil de um "quadro partidário competente, mas com pouco brilho", não é visto por Jiang como um homem de sua absoluta confiança. Jiang se lembra de que a escolha do substituto foi feita pelo patriarca Deng, que, antes de sua morte, em 1997, procurou deixar o roteiro da sucessão de seu herdeiro.
As intensas e secretas negociações palacianas dos últimos meses se debruçaram sobre a fatia de poder que Jiang manterá e sobre a nova composição da hierarquia partidária. Os resultados serão divulgados a partir de sexta-feira, quando se formaliza a entrada da China na era dos "líderes da quarta geração" e que guardam como missão manter o país na trilha do crescimento econômico.


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