São Paulo, quarta-feira, 03 de novembro de 2004

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Sem problemas graves, Flórida vota sob sol forte e vai às compras

DO ENVIADO ESPECIAL A MIAMI

Já começou a nevar no Colorado, no centro-oeste norte-americano, mas em Miami os termômetros teimavam, a tarde inteira, em marcar a tropical temperatura de 30C.
Tropical também eram os truques eleitorais aplicados no Estado. Frank Albano Torres, um colombiano que vive há 18 anos em Miami, recebeu telefonema, ontem cedo, dizendo que seu local de votação havia mudado. Foi ao novo local apenas para descobrir que era uma "pegadinha" dos republicanos (os latinos da Flórida, como dos EUA em geral, votam maciçamente por John Kerry, exceto os cubano-americanos).
O senador Eduardo Suplicy quase caiu num truque desses: um assessor de Paulo Maluf telefonou para dizer que mudara o horário de um debate na TV entre os candidatos à prefeitura. Suplicy quase não compareceu.
Albano Torres, ao contrário, deu-se ao trabalho de enfrentar uma segunda fila para votar (em Kerry, de fato), cansado da "guerra maluca" do presidente Bush.
Mas, fora pequenos e quase inofensivos truques como esse, a eleição na Flórida corria, até 17h (20h em Brasília), quase à perfeição, se comparada com o fiasco de 2000, quando o pleito caiu num pântano de demandas judiciais que segurou por 36 dias a confirmação do nome do presidente.
Desta vez, ao contrário, a votação corria com a manemolência típica de balneário, que é uma das duas características de Miami (a outra é ser um gigantesco shopping center). Aliás, o movimento nos centros de compra era maior do que nos locais de votação, talvez porque se calcula que 30% dos quase 11 milhões de eleitores votaram antecipadamente.
A queixa principal dos eleitores democratas era mesmo sobre os falsos avisos de mudança de local de votação. "Os eleitores estão quase levando ao colapso nossas linhas telefônicas com reclamações sobre isso", lamentava Theresa LePore, supervisora eleitoral do Condado de Palm Beach.
Mas os republicanos também tinham seus motivos de queixa: denunciavam, por exemplo, que 1.700 condenados pela Justiça haviam se registrado eleitoralmente, quando o condenado, no Estado da Flórida, perde, além da liberdade, os direitos cívicos, entre eles o de votar.
Como a eleição de 2000 foi decidida por apenas 537 votos, é natural que qualquer número de potenciais irregularidades seja examinado com lupa.
A propósito de condenados: em Iowa, ocorreu o contrário. Pelo menos 145 pessoas entraram em uma lista equivocada de suspensão dos direitos cívicos, embora não tenham sido condenadas.
De todo modo, os habitantes da Flórida estavam mais relaxados à medida em que se aproximava o horário de fechamento das urnas (19h, 22h em Brasília): o vexame de 2000 parecia afastado, pelo menos na primeira parte do processo, a votação.
"Assim mesmo, estou com os dedos cruzados, porque o problema surgiu há quatro anos na hora da apuração", brinca Fred Budde, agente de turismo que teme que uma segunda confusão afete a imagem do Estado, apesar do sol, das praias, da Disney World e dos shoppings. (CLÓVIS ROSSI)


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