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NY se surpreende com a votação
LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK
Constance Ellis e Dan Littman
esperaram mais de 1h30 na fila em
frente à Universidade de Nova
York, no West Village, e ainda teriam de esperar pelo menos mais
20 minutos para votar. Ali perto,
Sandy Gabin contava que ao chegar na seção eleitoral que coordena, às 5h30 da manhã, havia uma
longa fila na porta. "Essa seção
costuma ser morta. Nunca vi nada parecido com isso."
Depoimentos semelhantes se
repetiam de Wall Street à Chinatown. E o fato de os nova-iorquinos, sempre tão impacientes e
apressados, esperarem em fila por
mais de uma hora é um bom atestado de o quanto o pleito de ontem foi importante para eles.
"Isso não é normal. Especialmente aqui em Nova York, onde
todo mundo já sabe qual vai ser
resultado", disse Ellis, recém-chegada da Flórida, onde trabalhara
como fiscal voluntária dos democratas. "Acho que as pessoas aqui
realmente querem que a mensagem seja ouvida em alto e bom
som", disse seu amigo Littman.
A cidade, apesar de ter um prefeito republicano, vota nos democratas para presidente. O Estado
também -em cem anos, apenas
nove vezes os 31 votos de Nova
York no colégio eleitoral foram
para um republicano.
É difícil achar eleitores de Bush
aqui. Mais difícil ainda é conseguir que eles declarem o voto em
uma das cidades tidas como mais
"liberais" -a palavra americana
para esquerdista- dos EUA.
A reportagem da Folha percorreu 15 seções em cinco bairros da
cidade, de norte a sul, com diferentes perfis culturais e econômicos. Só achou simpatizantes do
presidente no centro financeiro
-na seção eleitoral mais próxima a onde ficava o World Trade
Center- e na rica Park Avenue,
onde o casaco de pele era acessório indispensável na cabine eleitoral. A maioria se apresentava como opositora de Kerry, e não como partidária de Bush.
Perto do WTC, palco do 11 de
Setembro, a guerra ao terrorismo
surpreendentemente não era a
motivação dos dois eleitores de
Bush com quem a reportagem
conversou. Saindo da seção com o
filho bebê e a mulher Nikia, uma
democrata, Read Steadman amparou sua opção por Bush num
único motivo: "Eu não concordo
com a Guerra do Iraque. Mas sou
contra o aborto."
O policial Rob Gasperetti, que
orientava os eleitores na entrada
da mesma seção, também deu seu
voto ao presidente sem entusiasmo. "A polícia costuma votar nos
republicanos. Já meu pai, que é
sindicalista, votou no Kerry", explicou. "De qualquer forma, com
a eleição tão polarizada, parece
que muita gente está votando
contra o candidato que não gosta.
Eu fiz isso."
Não muito longe dali, no Lower
East Side, um bairro de classe média baixa, Kamiliah Altobelli, 19,
comemorava seu primeiro voto.
"Eu não suporto Bush", disse.
"Além disso, tenho um monte de
amigos no Exército, que estão no
Iraque sem saber por que. Kerry
vai mudar isso. Meu voto é pelos
meus amigos."
O brasileiro Carlos Lobo, que
tem cidadania americana, não se
conformou apenas em votar em
Kerry. Ele convenceu pelo menos
oito clientes de seu salão de cabeleireiro, na região conhecida como "Little Brazil", a se registrarem para votar no democrata. "Os
quatro anos de governo do "outro"
foram muito ruins", afirma. Mas e
se "o outro" ganhar? "Se Bush ganhar, vou começar a pensar mais
seriamente em voltar para o Brasil."
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