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Ortega tenta pela quarta vez voltar à Presidência
Aliado a ex-inimigos, líder da Frente Sandinista é favorito na eleição de domingo
EUA, que financiaram "contras" nos anos 1980, ameaçam cortar ajuda à Nicarágua se o dirigente da revolução de 1979 vencer
MARK LACEY
DO "NEW YORK TIMES", EM MANÁGUA,
NICARÁGUA
Velho inimigo de Washington no final da Guerra Fria, Daniel Ortega continua a ser uma
figura tão controversa hoje
quanto a do jovem revolucionário que enfrentou Ronald Reagan. Depois de três tentativas
frustradas de retornar ao poder
nos últimos 15 anos, El Comandante, como Ortega é conhecido no país, está uma vez mais
sorrindo nos cartazes de propaganda eleitoral nicaragüenses.
Careca e ostentando certa barriga, Ortega, 60, tem sua melhor chance de voltar ao poder
desde a queda dos sandinistas,
nas eleições de 5 de novembro.
Ainda que as pesquisas de
opinião pública dêem a Ortega
cerca de 35% dos votos, ele é o
líder em uma eleição rachada
entre cinco candidatos. Para
vencer, precisa ter 35% dos votos e uma distância de cinco
pontos percentuais do segundo
colocado. Mas a rejeição ao seu
retorno é ampla, e os esforços
para impedir sua vitória são intensos, e não só na Nicarágua.
A perspectiva gerou profunda ansiedade no governo Bush,
que considera Ortega como
possível novo aliado para o presidente Hugo Chávez, da Venezuela, na contestação à política
dos EUA. Chávez expressou
apoio a Ortega, enquanto Washington indicou que a assistência ao país será reavaliada caso
ele seja eleito.
A política nicaragüense continua a girar em torno do ex-marxista, que comandou o país
quando a Frente Sandinista de
Libertação Nacional libertou o
país de quatro décadas de ditadura da família Somoza. Durante seu governo, disputas internas e uma insurgência direitista promovida pelos EUA, os
"contras", causaram um banho
de sangue nas regiões rurais.
Desafiantes
"A decisão que os eleitores
tomarão em 5 de novembro é
questão de sobrevivência nacional", disse Eduardo Montealegre, candidato da Aliança Nacional Nicaragüense (herdeira
do movimento dos "contras"),
em entrevista. "Com Ortega,
não sobreviveremos." Montealegre, que foi ministro das Finanças e do Exterior em governos conservadores, conta com a
aprovação de Washington.
Outro candidato, Edmundo
Jarquin, economista e ex-diplomata na administração sandinista, critica Ortega por "se
concentrar demais em conflitos". Ainda outro dos candidatos, José Rizo, ex-vice presidente pelo Partido Constitucionalista Liberal, uma agremiação que defende a economia de mercado, disse que o
primeiro mandato de Ortega
como presidente, nos anos 80,
foi marcado por abusos contra
os direitos humanos e por fracassos econômicos -agravados, é claro, pelo embargo comercial imposto pelo governo
de Ronald Reagan (1980-1989).
A pletora de desafiantes faz
com que cresçam as chances de
Ortega no primeiro turno. Caso
ele não vença no domingo, as
chances que teria em um segundo turno se reduzem.
Os discursos de Ortega em
palanque mantêm os apelos
apaixonados aos pobres do
país. Mas anos mostraram que
Ortega é um líder muito menos
ideológico do costumava ser
quando criticava o Ocidente.
Operador político astucioso, de
acordo com o consenso das
avaliações, ele tentou ampliar
sua base formando alianças
com velhos rivais, como alguns
dos membros do Partido Constitucionalista Liberal, de Arnoldo Alemán, um antigo presidente conservador.
O mais proeminente dos novos partidários de Ortega é Jaime Morales, ex-membro dos
contras, que se tornou candidato a vice-presidente na chapa
de Ortega. Ele diz ter recebido
indenização de Ortega pela casa que os sandinistas confiscaram de sua família em 1980, e
na qual Ortega ainda vive. "O
Daniel Ortega de hoje não é o
mesmo que no passado", disse.
O fator que mais beneficia a
campanha de Ortega é a condição precária em que vivem os
nicaragüenses. A despeito de
grande queda na dívida nacional e crescimento econômico,
muitos se vêem como excluídos
da recuperação nacional.
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