São Paulo, sexta-feira, 03 de novembro de 2006

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análise

Personagens da era Reagan saem do baú

NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

As eleições do próximo domingo na Nicarágua tiram do baú figuras que nos anos 80 gerenciaram uma guerra ilegal (ou suja) contra o regime sandinista, afinal derrubado pelo voto em 1990. O mexicano-americano Roger Noriega escreveu no "Washington Post" que a Nicarágua "desliza na direção do abismo" com o possível triunfo nas urnas de Daniel Ortega, chefe do que resta da Frente Sandinista de Libertação Nacional. Outro, Oliver North, que era tido como aposentado, irrompeu em Manágua alardeando a esperança de que "o povo da Nicarágua não volte a isso". Ou seja, não eleja Ortega.
Ex-encarregado da América Latina no Departamento de Estado no governo de George W. Bush, seu cargo mais recente, Noriega contou com espaço num jornal importante para veicular seus gritos de alarme.
Embora a "ressurreição" de Ortega possa ser um embaraço para os EUA, avisou Noriega, "os líderes regionais eleitos democraticamente terão muito mais a perder".
Não considera, portanto, e por antecipação, que um triunfo de Ortega, à frente nas pesquisas, se faça com votos democráticos.
Noriega lamenta que países latino-americanos se inclinem para um "populismo de esquerda". Nos anos 80, ele trabalhou para a Usaid, a agência internacional de desenvolvimento dos EUA. Administrou a ajuda "não letal" à América Central. Depois que o Congresso americano proibiu a entrega de armas aos "contras" da Nicarágua, a guerrilha anti-sandinista, o Pentágono e a Usaid instalaram "escritórios de ajuda humanitária" em Honduras, Costa Rica e partes da Nicarágua. Pura fachada.
Foi depois comprovado que Noriega ficou com a tarefa de conduzir as operações que tornaram os "contras" uma força militar em condições de travar uma guerra brutal, inclusive com armas capazes de atacar e explodir instalações portuárias.
Como isso foi possível, tendo em vista a proibição parlamentar? North, outro que reapareceu, foi personagem de primeira linha do Escândalo Irã-Contras, que por pouco não resultou em processo político contra o ex-presidente Ronald Reagan. Armas eram vendidas ilegalmente do Irã e o pagamento, encaminhado aos "contras".
O escândalo e a incapacidade dos "contras" de derrotar militarmente os sandinistas não significaram inatividade para ele. Foi inclusive acusado de ter sido um dos responsáveis pela derrubada de Aristide da presidência do Haiti. É hoje membro do American Enterprise Institute, um dos ninhos dos neoconservadores de Bush.


O jornalista NEWTON CARLOS é analista de questões internacionais


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