|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
análise
Personagens da era Reagan saem do baú
NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
As eleições do próximo domingo na Nicarágua tiram do
baú figuras que nos anos 80
gerenciaram uma guerra ilegal (ou suja) contra o regime
sandinista, afinal derrubado
pelo voto em 1990. O mexicano-americano Roger Noriega escreveu no "Washington
Post" que a Nicarágua "desliza na direção do abismo"
com o possível triunfo nas
urnas de Daniel Ortega, chefe do que resta da Frente
Sandinista de Libertação Nacional. Outro, Oliver North,
que era tido como aposentado, irrompeu em Manágua
alardeando a esperança de
que "o povo da Nicarágua
não volte a isso". Ou seja, não
eleja Ortega.
Ex-encarregado da América Latina no Departamento
de Estado no governo de
George W. Bush, seu cargo
mais recente, Noriega contou com espaço num jornal
importante para veicular
seus gritos de alarme.
Embora a "ressurreição"
de Ortega possa ser um embaraço para os EUA, avisou
Noriega, "os líderes regionais
eleitos democraticamente
terão muito mais a perder".
Não considera, portanto, e
por antecipação, que um
triunfo de Ortega, à frente
nas pesquisas, se faça com
votos democráticos.
Noriega lamenta que países latino-americanos se inclinem para um "populismo
de esquerda". Nos anos 80,
ele trabalhou para a Usaid, a
agência internacional de desenvolvimento dos EUA. Administrou a ajuda "não letal"
à América Central. Depois
que o Congresso americano
proibiu a entrega de armas
aos "contras" da Nicarágua, a
guerrilha anti-sandinista, o
Pentágono e a Usaid instalaram "escritórios de ajuda humanitária" em Honduras,
Costa Rica e partes da Nicarágua. Pura fachada.
Foi depois comprovado
que Noriega ficou com a tarefa de conduzir as operações que tornaram os "contras" uma força militar em
condições de travar uma
guerra brutal, inclusive com
armas capazes de atacar e explodir instalações portuárias.
Como isso foi possível,
tendo em vista a proibição
parlamentar? North, outro
que reapareceu, foi personagem de primeira linha do Escândalo Irã-Contras, que por
pouco não resultou em processo político contra o ex-presidente Ronald Reagan.
Armas eram vendidas ilegalmente do Irã e o pagamento,
encaminhado aos "contras".
O escândalo e a incapacidade
dos "contras" de derrotar
militarmente os sandinistas
não significaram inatividade
para ele. Foi inclusive acusado de ter sido um dos responsáveis pela derrubada de
Aristide da presidência do
Haiti. É hoje membro do
American Enterprise Institute, um dos ninhos dos neoconservadores de Bush.
O jornalista NEWTON CARLOS é analista de
questões internacionais
Texto Anterior: Ortega tenta pela quarta vez voltar à Presidência Próximo Texto: Cúpula ibero-americana começa esvaziada Índice
|