São Paulo, segunda-feira, 03 de novembro de 2008

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Republicanos advertem para "supermaioria" democrata

Se Obama vencer, partido dominará Executivo e Legislativo pela primeira vez em 13 anos

"Obama, Pelosi e Reid? Você quer esse trio mandando?", pergunta McCain, sobre atuais líderes democratas no Congresso americano

Jason Reeds/Reuters
Eleitores democratas assistem a comício de Obama em Missouri

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A CHICAGO (ILLINOIS)

O anúncio entrou no ar na última sexta, quando os norte-americanos celebraram o Dia das Bruxas. "Eles estão chegando!", começa, com uma música de terror ao fundo. Aparecem na seqüência as fotos de Barack Obama, Nancy Pelosi e Harry Reid, respectivamente o candidato à Presidência, a presidente do Congresso e o líder no Senado do Partido Democrata, hoje na oposição a George W. Bush.
"Liberais repugnantes ameaçam tomar controle completo de Washington", diz o locutor. "Sem freios nem contrapesos, com uma agenda esquerdizante tão assustadora que seus efeitos serão sentidos por uma geração." Esse é o último temor vendido pela campanha do Partido Republicano, como esforço, na reta final, para mobilizar os eleitores em direção à agremiação governista e seu candidato, John McCain.
Se Obama for eleito amanhã e seu partido avançar na maioria que já detém na Câmara dos Representantes (deputados federais) e no número de cadeiras no Senado, como mostram as pesquisas, então os democratas terão controle do Executivo e do Legislativo pela primeira vez desde 1993, quando Bill Clinton gozou desse privilégio por dois anos.
Isso não quer dizer que toda lei ou mudança na legislação propostas pelos democratas será automaticamente aprovada, assim como não significa que a agenda de um eventual governo Obama seria aceita sem modificações. Mas facilita sobremaneira a implantação de um programa de governo.

Trio dos impostos
"Meu amigo e senador Lindsey Graham afetuosamente se refere a Obama-Pelosi-Reid como o "trio dos impostos'", vem dizendo McCain -na verdade, Graham os chama de "trio dos infernos". "Você quer esse trio mandando no país? Aumentando seus impostos?", pergunta.
O argumento do republicano, de que um Executivo e um Legislativo de partidos oponentes é bom para manter o equilíbrio de forças, geralmente encontra apoio do eleitor americano. Desde a eleição de Richard Nixon, em 1968, o ocupante da Casa Branca e seu partido conseguiram essa sintonia apenas durante o mandato do democrata Jimmy Carter (1977-1981), no período já citado de Clinton e por quatro anos com George W. Bush.
Nessa corrida, no entanto, pesquisas apontam que a maioria dos eleitores prefere um Congresso democrata se McCain for eleito, mas não se importa com a coincidência de partido no comando dos dois Poderes se o escolhido for Obama. Analistas apontam como causas a situação econômica atual e o excesso de poder dado a Bush no período em que os republicanos dominaram também o Legislativo (2003-2007).
"Os fundamentos dessas eleições não poderiam ser mais pró-democratas", disse Larry Sabato, diretor do Centro de Política da Universidade da Virgínia. "Temos uma economia terrível, um presidente profundamente impopular e uma guerra impopular. Isso tudo junto deve produzir uma vitória democrata. A questão é: quão grande será ela?"

À prova de obstrução
O problema para os republicanos é que as pesquisas apontam para um Congresso em que não é impossível que os democratas tenham maioria à prova de veto presidencial na Câmara -ou seja, com mais de dois terços das cadeiras- e maioria à prova de obstrução no Senado-com 60 das 100 vagas.
É que, nas eleições de amanhã, estão em jogo também todas as 435 cadeiras da Câmara e 35 das 100 vagas do Senado. Das primeiras, cerca de 50 vêm sendo consideradas como "em jogo", no sentido de que podem mudar de partido. Dessas, 41 são republicanas e apenas 9 são democratas. Nas 35 corridas do Senado, apenas 13 são consideradas "republicanas" sólidas.
"Nós estamos confiantes de que vamos ampliar nossa vantagem no Senado", disse o senador Chuck Schumer, de Nova York, que comanda as campanhas democratas para a Casa. "Se vamos chegar a 60? Pode ser." O "número mágico", como é chamado no jargão político, agilizaria a passagem de leis da agenda democrata ao impedir que republicanos tranquem a pauta de votação.
Para completar o pesadelo republicano, os democratas podem aumentar sua maioria atual nos governos dos Estados. Dos 50, 11 vão às urnas amanhã para mudar o comando do Executivo local. São seis atualmente ocupados por democratas e cinco por republicanos. Contados os votos, estima-se que os primeiros ampliem sua vantagem, de atuais 28 Estados para 29, ganhando o Missouri.
Nem tudo são más notícias para o partido de Bush, no entanto: mais da metade dos Legislativos estaduais que também realizam eleições amanhã -79% dos Senados e Câmaras estaduais fazem pleitos- deve eleger maiorias republicanas.


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