São Paulo, sexta-feira, 03 de dezembro de 2004

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Para Celso Amorim, nações ricas têm concepção diferente do Haiti

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em audiência pública sobre a missão de paz no Haiti, o ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) fez novas críticas às nações desenvolvidas e disse acreditar que a permanência das tropas brasileiras naquele país será prorrogada. Também há a possibilidade do envio de mais homens.
Segundo Amorim, uma das dificuldades de atuação da Minustah (Missão da ONU de Estabilização no Haiti) é que, embora coloquem dinheiro, os países desenvolvidos têm uma concepção diferente do trabalho.
"Aquilo ali para eles é um problema de segurança, um problema de migração e de narcotráfico. Então, na medida em que esses problemas estejam assegurados, com algumas tropas lá e a guarda costeira tomando conta, essas outras questões que envolvem um movimento financeiro de mais longo prazo não se obtêm com facilidade", disse ele, no Senado.
Para o chanceler, não é possível resolver os problemas de segurança do Haiti isoladamente da situação política, humanitária, social e econômica.
Ao estilo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Amorim usou uma metáfora para dizer por que países em desenvolvimento, na sua visão, são mais solidários. "Você vai no interior do Brasil e vê gente pobre adotando crianças enquanto as classes média e rica são mais hesitantes."
O ministro afirmou que, pela sua experiência na ONU, a Minustah será prorrogada. Já houve uma prorrogação de seis meses, até julho, mas, segundo Amorim, o desejo era que esse prazo fosse maior. Ele ressaltou que uma permanência maior das tropas vai depender de as "coisas caminharem na direção certa". Para ele, há possibilidade de enviar um batalhão de engenharia adicional.
Ao discorrer sobre as dificuldades enfrentadas no país do Caribe, o ministro afirmou que há preocupação da comunidade internacional com a aplicação do montante de U$ 1,2 bilhão doado. "Para que haja uma confiança na boa gestão dos recursos, é preciso que o governo provisório aceite algum nível de co-gestão, o que não é fácil", disse ele. O próprio premiê do Haiti, Gerard Latortue, mencionou, segundo Amorim, a corrupção como um problema grave no país.
Amorim aproveitou para pedir aos senadores que aprovem autorização para o Brasil tomar um empréstimo-ponte no Banco Mundial para o Haiti, no montante de US$ 150 milhões. "Como o Haiti é inadimplente, não pode pegar o empréstimo", disse. A operação já teria o aval do Ministério da Fazenda.


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