São Paulo, sábado, 03 de dezembro de 2005 |
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ÁSIA Apostando no entretenimento, no bizarro e no público jovem, Hunan TV torna-se fenômeno de audiência na China "Fábrica de TV" chinesa produz sucessos em Hunan
DAVID BARBOZA
O "game show" que a emissora mantém há anos, "Cidadela da Felicidade", é um dos programas de maior audiência da televisão chinesa. Outro programa de sucesso da emissora, "Quem é o Herói?", traz pessoas fazendo façanhas bizarras, tais como arrancar as tampas de garrafas de cerveja com os dentes. Esses programas fazem sucesso com os telespectadores. Eles até atraíram a atenção de multinacionais, como a Coca-Cola e a Pepsi, que, de repente, começaram a anunciar no horário nobre. "O sucesso imenso do "Supergarota" realmente fez as pessoas acordarem", diz Bessie Lee, executiva-chefe do Grupo M, uma agência de mídia que direciona anúncios para a televisão chinesa. Como todas as emissoras de televisão chinesa, a Hunan TV pertence ao governo e é controlada por ele. Mas as autoridades da Província autorizaram os produtores da emissora a testar os limites do que é permissível na TV. O resultado vem sendo programas de jornalismo que intercalam a notícia principal do momento com clipes de filmes antigos, além de programas de variedades com apresentadores animados e nada convencionais que fazem humor, cantam, dançam e chegam a chamar celebridades e membros do público para o palco para competir em brincadeiras leves. De vez em quando, porém, a emissora sofre a ação da censura. Há dois anos, o governo proibiu a transmissão de um programa meteorológico ligeiramente erótico, no qual vencedoras de concursos de beleza usando pouca roupa anunciavam a previsão do tempo deitadas num sofá ou cama. Os produtores da emissora realmente parecem ter o dom de prever o que fará sucesso. Eles produziram um drama anticorrupção intitulado "Poder Absoluto", que foi um sucesso absoluto de público. Muitas pessoas se perguntam como uma emissora de televisão da Província de Hunan, pouco desenvolvida, é capaz de lançar uma sucessão de sucessos nacionais. "Normalmente, quanto maior é o desenvolvimento econômico de uma região, melhor será sua emissora", diz Bai Ruoyun, pesquisador na Universidade de Illinois em Champagne e especialista em mídia chinesa. "Nesse sentido, a Hunan TV constitui uma anomalia. Ela é surpreendente." A ascensão da Hunan TV começou, de fato, em 1997, quando a emissora lançou seu canal via satélite, visando alcançar não apenas o público nacional mas também as partes mais distantes da Província. Seus programas de namoro e "game shows" viraram sensação quase imediata. "A China não tinha muitos programas de entretenimento naquela época", disse Li, da Hunan TV. "Não demoramos a descobrir que tínhamos um potencial ainda maior em nível nacional, não só dentro de nossa Província." A receita da emissora começou a crescer. A Hunan TV abriu o capital de seu braço de produção na Bolsa de Valores chinesa e, então, deixou sua sede pequena, mudando-se para uma sede num terreno de 200 hectares em Changsha. Hoje as instalações da emissora incluem um hotel quatro estrelas, chalés de luxo, um centro de convenções com platéia para 20 mil pessoas, um dormitório para seus funcionários, um grande edifício de escritórios e vários estúdios para a produção de programas. No entanto a concorrência se acirrou e a audiência da emissora diminuiu, submetendo o conglomerado de mídia em rápido crescimento a pressões financeiras, contam seus executivos. Perto do final de 2002, o ano mais difícil para a emissora, seus executivos principais se reuniram e traçaram um novo rumo para a Hunan TV, decidindo priorizar quase exclusivamente a programação voltada aos jovens. Mais tarde a emissora adotou o slogan "China Feliz", criou um logotipo laranja forte e prometeu ser moderna e ter como seu público alvo os jovens de 16 a 24 anos. Li Juan, produtor de 35 anos de idade, disse que foi orientado a transformar o que tinha sido um programa cultural no programa de entretenimento "Quem é o Herói?". "A única exigência foi transformar o programa de cultura em um programa que tivesse um público de massa e grande audiência", ele conta. "Não havia nenhuma outra exigência." Desde então, a receita subiu de US$ 35 milhões em 2002 para estimados US$ 90 milhões em 2005. E nenhum programa teve sucesso comparável ao de "Supergarota". Tradução de Clara Allain Texto Anterior: África: Pais fazem de suas filhas moeda de troca Índice |
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