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Eleitor é atraído por laranja a preço de banana
DO ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU
Na zona eleitoral número 84,
baseada em uma escola secundária na rua Malaia Kislovski, a
atração principal logo à entrada
eram laranjas. Muitas laranjas
-e a preços camaradas (40 rublos, ou R$ 3, contra cerca de 50
a 60 rublos cobrados nos mercados de rua).
Essa é uma das peculiaridades das seções eleitorais em
Moscou. Para atrair eleitores,
que não são obrigados a votar
na Rússia, são feitas promoções
das mais diversas. Nos tempos
soviéticos, o dia da eleição era a
oportunidade para comprar
produtos de difícil acesso.
"Eu me lembro de que eu e
meus irmãos pedíamos para
minha mãe ir votar porque era
o único momento em que podíamos comer um pão com
chocolate delicioso, que era
distribuído de graça. Além disso, era possível comprar salmão defumado e queijos que
nunca víamos", conta a jornalista Lyubov Pronina.
No interior do país, as ofertas
são mais generosas. A imprensa
russa noticiou ofertas de exames médicos gratuitos e outros
favores que podem ser vistos
como compra de comparecimento, mas não necessariamente de voto. Como se vê pelo
relato de Pronina, a cultura
eleitoral é diferente, e o pleito
de ontem foi apenas o quinto
desde o fim da União Soviética.
Na zona eleitoral 84, o movimento foi contínuo durante todo o dia, mas não houve a formação de filas. A segurança era
rígida: eram dois policiais do lado de fora, e os eleitores tinham
de passar por um detector de
metais e ter bolsas revistadas
uma vez dentro do prédio, antes das laranjas.
Mas isso só aconteceu nas seções eleitorais centrais, e a 84
fica numa área especialmente
nobre, logo ao lado do Kremlin,
numa região com várias embaixadas -inclusive a brasileira.
Na periferia norte, a seção na
escola ao lado da estação Vladikino do metrô só tinha guardas,
mas não detectores.
Uma vez passado o detector,
tudo se parece muito com as seções eleitorais brasileiras. Um
secretário da seção checa o passaporte do eleitor no registro e
o passa para um mesário, que
fornece a cédula -uma grande
folha de papel, pouco maior que
duas páginas padrão A4 juntas.
Os partidos são identificados
por números, de 1 a 11, com seu
símbolo e o nome dos cabeças
de lista. Todos traziam três nomes -exceto o Rússia Unida,
que só ostentava "Putin Vladimir Vladimirovitch".
Não precisava mais, é argumentável, e as quatro pessoas
que abriram seu voto à Folha
revelaram ter votado "Za Putina" (pró-Putin).
Não havia computadores na
zona 84. Uma vez assinalado o
voto, o que é feito em pequenas
cabines de pano, a folha é dobrada e colocada na urna.
Em locais como a zona 2.074,
onde Putin votou com sua mulher, Ludmila, a urna "engolia"
mecanicamente a folha, como
se fosse um aparelho de fax
com vocação -por assim dizer- democrática.
(IG)
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