São Paulo, segunda-feira, 03 de dezembro de 2007

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Eleitor é atraído por laranja a preço de banana

DO ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU

Na zona eleitoral número 84, baseada em uma escola secundária na rua Malaia Kislovski, a atração principal logo à entrada eram laranjas. Muitas laranjas -e a preços camaradas (40 rublos, ou R$ 3, contra cerca de 50 a 60 rublos cobrados nos mercados de rua).
Essa é uma das peculiaridades das seções eleitorais em Moscou. Para atrair eleitores, que não são obrigados a votar na Rússia, são feitas promoções das mais diversas. Nos tempos soviéticos, o dia da eleição era a oportunidade para comprar produtos de difícil acesso.
"Eu me lembro de que eu e meus irmãos pedíamos para minha mãe ir votar porque era o único momento em que podíamos comer um pão com chocolate delicioso, que era distribuído de graça. Além disso, era possível comprar salmão defumado e queijos que nunca víamos", conta a jornalista Lyubov Pronina.
No interior do país, as ofertas são mais generosas. A imprensa russa noticiou ofertas de exames médicos gratuitos e outros favores que podem ser vistos como compra de comparecimento, mas não necessariamente de voto. Como se vê pelo relato de Pronina, a cultura eleitoral é diferente, e o pleito de ontem foi apenas o quinto desde o fim da União Soviética.
Na zona eleitoral 84, o movimento foi contínuo durante todo o dia, mas não houve a formação de filas. A segurança era rígida: eram dois policiais do lado de fora, e os eleitores tinham de passar por um detector de metais e ter bolsas revistadas uma vez dentro do prédio, antes das laranjas.
Mas isso só aconteceu nas seções eleitorais centrais, e a 84 fica numa área especialmente nobre, logo ao lado do Kremlin, numa região com várias embaixadas -inclusive a brasileira. Na periferia norte, a seção na escola ao lado da estação Vladikino do metrô só tinha guardas, mas não detectores.
Uma vez passado o detector, tudo se parece muito com as seções eleitorais brasileiras. Um secretário da seção checa o passaporte do eleitor no registro e o passa para um mesário, que fornece a cédula -uma grande folha de papel, pouco maior que duas páginas padrão A4 juntas.
Os partidos são identificados por números, de 1 a 11, com seu símbolo e o nome dos cabeças de lista. Todos traziam três nomes -exceto o Rússia Unida, que só ostentava "Putin Vladimir Vladimirovitch".
Não precisava mais, é argumentável, e as quatro pessoas que abriram seu voto à Folha revelaram ter votado "Za Putina" (pró-Putin).
Não havia computadores na zona 84. Uma vez assinalado o voto, o que é feito em pequenas cabines de pano, a folha é dobrada e colocada na urna.
Em locais como a zona 2.074, onde Putin votou com sua mulher, Ludmila, a urna "engolia" mecanicamente a folha, como se fosse um aparelho de fax com vocação -por assim dizer- democrática. (IG)


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