São Paulo, sábado, 04 de janeiro de 2003

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Coréia do Norte rejeita pressão americana

DA REDAÇÃO

A Coréia do Norte afirmou ontem que não cederá às pressões dos EUA para que interrompa seu programa nuclear e disse que a única solução possível para o impasse crescente entre os dois países seria a negociação de um tratado de não-agressão.
"Se os EUA garantirem nossa segurança legalmente com um pacto de não-agressão, a questão nuclear na península coreana poderia ser facilmente resolvida", afirmou Choe Jin Su, embaixador de Pyongyang (capital norte-coreana) em Pequim.
Entretanto Choe disse que seu governo rejeita qualquer precondição para iniciar um diálogo com os EUA. O governo Bush tem insistido que só dialogará com a Coréia do Norte depois que o país suspender seu programa nuclear.
China e Coréia do Norte, ambos países sob regimes comunistas, são tradicionais aliados, motivo pelo qual o embaixador de Pyongyang em Pequim tem peso e credibilidade para falar em nome do regime norte-coreano.
Choe defendeu a decisão de seu país de reiniciar as atividades da usina nuclear de Yongbyon em dezembro, o que levou a comunidade internacional a temer que a Coréia do Norte retomasse a produção de material radioativo para a fabricação de armas nucleares.
Segundo o embaixador, a Coréia do Norte teve de reagir diante da decisão dos EUA, anunciada em novembro, de interromper o envio de combustível para o país. Desde 1994, Pyongyang havia se comprometido a congelar seu programa nuclear em troca de fornecimento de combustível pelo Ocidente (em especial os EUA).
Segundo Choe, é preciso garantir o abastecimento energético do país. "Estamos sendo forçados a não implementar o tratado de 1994 sobre o congelamento de nosso programa nuclear", disse.
Os EUA justificam o corte no envio de combustível com o argumento de que, numa reunião em outubro entre autoridades americanas e norte-coreanas, as últimas teriam admitido possuir um programa nuclear ilegal -uma violação ao acordo de 1994.
Em dezembro, a Coréia do Norte expulsou do país os inspetores da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica, órgão das Nações Unidas que inspeciona programas nucleares em todo o mundo) e tem dado sinais de que pode se retirar do tratado global de controle de armas nucleares.
Os EUA e a Coréia do Norte lutaram em lados opostos na guerra da Coréia (1950-53) e nunca tiveram relações diplomáticas oficiais. A guerra terminou sem vitoriosos, com cerca de 4 milhões de mortos e a divisão da península coreana, com um país comunista ao norte e um capitalista ao sul.
A fronteira minada entre as duas Coréias é uma das regiões mais militarizadas do mundo, com grande concentração de tropas, artilharia e tanques. Cerca de 37 mil soldados americanos se encontram na Coréia do Sul.
Os EUA descreveram como "irrelevantes" as declarações do embaixador norte-coreano. "A questão não é a não-agressão. A questão é se a Coréia do Norte irá desmantelar, de forma verificável, seu programa de enriquecimento nuclear", afirmou o porta-voz do Departamento de Estado, Richard Boucher. "Nós não temos nenhuma intenção de nos sentarmos e negociar novamente."
Nos últimos dias, o governo Bush afirmou que os EUA não pretendem agir militarmente contra a Coréia do Norte, mas devem pressionar a comunidade internacional, por intermédio da ONU, a adotar sanções políticas e econômicas contra Pyongyang.


Com agências internacionais.

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