São Paulo, sábado, 04 de janeiro de 2003

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AMÉRICA LATINA

Confronto entre policiais, oposicionistas e chavistas tumultua Caracas; presidente já fala em "medidas excepcionais"

Choque mata 2; Chávez ameaça endurecer

Andrés Leighton/Associated Press
Manifestante da oposição levanta cruz em direção a nuvem de gás lacrimogêneo durante ato próximo ao Forte Tiuna, em Caracas


DA REDAÇÃO

Pelo menos duas pessoas morreram em confrontos generalizados entre polícia e manifestantes favoráveis e contrários ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ontem em Caracas.
Policiais e soldados haviam dispersado com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha duas manifestações, de opositores e de chavistas, próximo à principal base militar de Caracas, para evitar confronto entre os grupos.
Cerca de 80 pessoas, incluindo sete policiais, ficaram feridas -três delas a bala-, segundo o chefe da polícia. Após a intervenção policial, os opositores desistiram de chegar até o Forte Tiuna, principal quartel da capital, onde pretendiam pedir o apoio das Forças Armadas à greve geral, iniciada no dia 2 de dezembro, e a libertação do general rebelde Carlos Alfonso Martínez, preso no dia 30 de dezembro.
"Nós pedimos aos dignos representantes de nossas Forças Armadas que não façam um golpe... Ajam! Juntem-se a nós!", afirmou o dirigente sindical Carlos Ortega, um dos líderes da greve geral, sugerindo que os oficiais estariam participando de um "golpe" ao apoiar Chávez.
O presidente disse que poderá adotar "medidas excepcionais" para enfrentar a forte confrontação no país, após 33 dias de greve convocada pela oposição. Segundo o presidente, as medidas serão tomadas se for "obrigado" pelos opositores a fazê-lo.
"Até agora, com tudo o que está acontecendo, não foi necessário aplicar nenhuma medida excepcional que a Constituição estabelece", disse. "Mas eu estaria obrigado a fazê-lo, porque estou obrigado a proteger o povo, a proteger a ordem pública, a proteger a segurança, a soberania e a defesa do país. Se me obrigarem, terei de fazê-lo, mas espero que não."
A greve vem afetando significativamente a indústria petrolífera, a mais importante do país, responsável por 80% das exportações. O país enfrenta desabastecimento de alimentos e de gasolina.

Os confrontos
A polícia separou os manifestantes opositores e centenas de chavistas, alguns dos quais lançaram fogos de artifício e pedras em direção aos soldados e aos opositores dos morros que circundam a área. Uma espessa nuvem branca de gás lacrimogêneo cobriu as avenidas ao lado da base.
Cerca de 300 chavistas se concentraram numa estação de metrô próxima e aplaudiram quando um caminhão de gasolina passou por eles. O governo diz que está normalizando o abastecimento de combustível, enquanto a oposição diz que o desabastecimento está piorando.
A oposição acusa Chávez de arruinar a economia do país com suas políticas populistas de esquerda. O presidente afirma ser vítima de um complô golpista, apoiado pelos grandes grupos de mídia, por ter atacado os privilégios das elites corruptas que mandaram na Venezuela por décadas.
A oposição exige a renúncia do presidente ou a convocação de eleições antecipadas. Chávez, cujo mandato vence em 2007, diz que não renunciará e que só aceita a realização de um referendo sobre seu mandato a partir de agosto, como prevê a Constituição.
Até agora, o grosso das Forças Armadas vem apoiando Chávez. Somente cerca de cem oficiais que foram retirados de postos de comando após o golpe frustrado de abril, que o tirou do poder por dois dias, se juntaram à oposição.
Chávez disse que apoiaria os esforços diplomáticos do que chamou de "grupo de nações amigas" para resolver a crise. "Esse tem de ser o caminho", disse Chávez anteontem em Brasília, onde acompanhou a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Até agora, a mesa de diálogo entre o governo e a oposição, mediada pela OEA (Organização dos Estados Americanos) há dois meses, não apresentou resultados.
Os EUA pediram ao governo e à oposição para negociar "com a máxima flexibilidade" no diálogo promovido pela OEA, para "conseguir uma solução pacífica, democrática, constitucional e eleitoral para a crise", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Richard Boucher.

Com agências internacionais


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