São Paulo, domingo, 04 de janeiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Eleições americanas devem custar mais de US$ 1 bi

VITOR PAOLOZZI
DA REDAÇÃO

Apesar da nova lei que eliminou das campanhas o "soft money" (as contribuições ilimitadas que podiam ser feitas a partidos e organizações políticas), as eleições norte-americanas deste ano mais uma vez baterão recordes de arrecadação. Muitos políticos e analistas acreditam que os grandes financiadores encontrem outras brechas na lei para doar fortunas aos candidatos. Donna Brazile, a chefe da campanha de Al Gore à Presidência em 2000, estima que o custo das disputas eleitorais para governos de Estados, Congresso e Presidência deva passar a marca de US$ 1 bilhão. Leia a seguir trechos da entrevista que Brazile concedeu à Folha.

 

Folha - Os republicanos sempre arrecadam mais. Até que ponto isso atrapalha os democratas?
Donna Brazile -
Os republicanos chegam a todas as eleições com mais dinheiro e melhor posição nas pesquisas. Acho que os democratas podem reduzir a vantagem financeira dos republicanos. Nós conseguimos em 2000. A arrecadação da chapa Bush-Cheney foi mais de US$ 100 milhões superior à nossa e ainda assim tivemos mais votos. O que os democratas devem fazer é arrecadar o suficiente para conseguir os seus votos e não se preocupar com quanto os republicanos tiverem.

Folha - Quanto será gasto nas próximas eleições?
Brazile -
Os dois candidatos vão receber cerca de US$ 70 milhões depois de terem suas candidaturas oficializadas. Isso é uma verba pública. Mas os dois partidos vão arrecadar mais de US$ 100 milhões. E ainda há o que chamamos aqui de organizações aliadas que formarão comitês para arrecadar outras centenas de milhões de dólares. No final, os EUA terão gastado provavelmente mais de US$ 1 bilhão nas eleições para presidente, Congresso e governos estaduais em 2004. Cerca de metade disso irá exclusivamente para a eleição presidencial.

Folha - O cineasta Michael Moore disse que os candidatos democratas deveriam parar de agir como bananas. A sra. concorda?
Brazile -
Acho que os candidatos democratas estão muito bem, diante das condições atuais. Durante todo o ano eles mantiveram o presidente Bush na casa dos 50% nas pesquisas nacionais de opinião sobre a reeleição.

Folha - Quais os pontos fortes e fracos de Howard Dean?
Brazile -
Como candidato, Dean tem sido consistente sobre a guerra. Ele está realmente conseguindo engajar os cidadãos comuns no processo político. Ele representa os democratas que sentem que o partido precisa reagir. Mas Dean precisa demonstrar que pode ampliar a coalizão que conseguiu montar, que pode construir um exército capaz de enfrentar o presidente Bush.

Folha - Que estratégia os democratas devem adotar contra Bush?
Brazile -
Primeiro, eles devem defender seus próprios temas e princípios e somente depois combater Bush. Vai ser uma eleição bastante apertada, e a única maneira de os democratas vencerem uma disputa que a maioria dos analistas vê como bastante similar à de 2000 é sair e atrair as bases, inclusive aqueles que não costumam votar.

Folha - Se a sra. trabalhasse para os republicanos, o que faria?
Brazile -
Faria uma campanha baseada na redução de impostos, como aconteceu em 2002. Os republicanos ganharam eleições falando de impostos e guerra. É a maneira pela qual podem convencer os eleitores de que deram o impulso necessário à economia para tirar o país da recessão.

Folha - O que os democratas podem fazer se o governo americano sincronizar o julgamento de Saddam Hussein com as eleições?
Brazile -
A luta vai ser sobre isso. Acho que campanhas devem ser diálogos sobre temas e eventos do futuro, não apenas do passado. Acho que temos uma grande oportunidade em 2004. É um ano importante para os democratas enfatizarem suas diferenças em relação aos republicanos, à abordagem deles quanto ao governo e à liderança americana no mundo.



Texto Anterior: Candidato arrecada fundos pela internet
Próximo Texto: Desgaste: Unidade democrata está na estaca zero
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.