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EUROPA
Oposição tem agora quase dois terços da Câmara Alta
Derrota em pleitos regionais deixa Schröder sem ação na Alemanha
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Gerhard Schröder, chanceler
(premiê) alemão, assumiu ontem
sua "responsabilidade política"
pela derrota de seu Partido Social-Democrata nas eleições regionais
de anteontem, realizadas nos Estados da Baixa Saxônia, seu "curral eleitoral", e de Hessen, porém
descartou as hipóteses de reformular o gabinete ou de renunciar.
Por conta de particularidades
do sistema eleitoral alemão, o fato
terá forte influência na cena política federal, agravando a crise que
já pesa sobre a coalizão governamental, que é formada pelos social-democratas e pelos Verdes e
foi reeleita em setembro último.
Afinal, a representação dos Estados no Bundesrat (Câmara Alta
do Parlamento) depende do resultado dos pleitos regionais.
"A situação do chanceler ficou
bastante difícil no Bundesrat, pois
a CDU [União Democrata Cristã,
maior partido de oposição] terá
quase dois terços das cadeiras da
Casa, podendo bloquear as iniciativas de Schröder", explicou à Folha Anne-Marie le Gloannec, do
Centro Marc Bloch, um instituto
de pesquisas situado em Berlim.
De fato, os conservadores dispõem agora de 41 das 69 cadeiras
do Bundesrat, cuja aprovação é
imprescindível para a adoção da
maioria dos projetos de lei importantes, como a reforma da legislação sobre a imigração. A coalizão
corre, portanto, o risco de ficar
sem margem de manobra, devendo obrigatoriamente buscar o
apoio da oposição para realizar as
reformas de que o país precisa, de
acordo com o próprio Schröder.
"Sem a anuência da CDU, as reformas não ocorrerão. Sem elas, o
país continuará imobilizado. Assim, Schröder será forçado a atenuar suas propostas para ter alguma chance de chegar a um acordo
com a oposição. Se não fizer isso,
o governo correrá o risco de bloquear totalmente a cena política
alemã apesar de ter uma estreita
maioria no Bundestag [Câmara
Baixa]", avaliou Le Gloannec.
Nesse contexto, quem deverá
ganhar força nos próximos meses
é Roland Koch, o democrata-cristão linha-dura que foi reeleito para o governo de Hessen. Cientistas políticos alemães crêem que
ele possa tornar-se o nome forte
da CDU no futuro. "Koch terá um
papel crucial no Bundesrat ao liderar seu Estado, sendo um interlocutor incontornável para
Schröder", disse Le Gloannec.
As derrotas de anteontem também deverão influenciar a política
externa alemã, já que os conservadores são contrários ao que chamam de "isolacionismo de Schröder". O chanceler se opõe à participação do país numa eventual
guerra contra o Iraque. Contudo
os democrata-cristãos temem que
sua posição prejudique as relações entre Berlim e Washington.
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