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À VONTADE
Público reage bem às mudanças do pré-candidato, e sua campanha eleitoral ganha força
Ascensão deixa senador mais relaxado
TODD S. PURDUM
DO "NEW YORK TIMES", EM ALBUQUERQUE
O senador John Kerry acabava
de chegar, no sábado, a um comício no Estado do Oklahoma e
estava animado: "George W.
Bush achou que pudesse brincar
de teatro num porta-aviões e
que vocês não fossem perceber.
A missão de quem já foi cumprida?". A multidão gritou de volta:
"A dele". Kerry brincou: "Ninguém me disse que eu teria um
público participativo aqui".
Durante muito tempo, Kerry
não teve esse tipo de público, e
vê-lo em campanha hoje serve
para estudar o desenvolvimento
de um candidato político e a psicologia das multidões. Kerry
continua a dizer a maioria das
coisas que vinha dizendo, mas,
agora que ele é o pré-candidato
democrata com mais chances de
disputar a Presidência, as multidões estão reagindo da maneira
como ele gostaria.
"O que vocês acharam do New
England Patriots?", perguntou
num comício em Albuquerque,
anteontem, comemorando a vitória de seu time no Super Bowl.
"É ótimo ver o pessoal da Nova
Inglaterra ir ao Texas e ganhar.
Isso cria um precedente muito
bom." O Super Bowl foi disputado em Houston, no Texas.
Quando era menino, seu filme
predileto era "Scaramouche", a
história de um aventureiro na
Revolução Francesa -que
"nasceu com o dom do riso e o
sentimento de que o mundo era
louco". Durante o tempo em que
era um menino solitário num internato na Suíça, um tenente da
Marinha no delta do Mekong,
no Vietnã, ou um senador por
Massachusetts (e candidato à
Presidência), Kerry raramente
deixou de sentir que o mundo
estava louco. Mas nem sempre o
dom do riso lhe veio facilmente.
Mesmo hoje, ele jamais será
visto como um sujeito muito
simpático. É alto, magro e sério
demais para isso. Dois anos
atrás, os assessores de Kerry lhe
mostraram fitas do senador
John Edwards, com seu jeito extrovertido de falar, para tentar
ajudá-lo a se abrir. Mesmo hoje,
falta a Kerry a empatia natural
que Bill Clinton possuía com as
pessoas e as multidões. Mas, à
medida que sua campanha ganha contornos nacionais, Kerry
parece fazer reais progressos.
Em cada parada nova que faz
em sua campanha, ao que parece, Kerry vem anunciando um
novo apoio à sua candidatura.
Em Albuquerque, foi o secretário da Justiça de Nova York,
Eliot L. Spitzer. No sábado, em
Oklahoma, uma voz o interrompeu: "Senador, sou o prefeito de
Watonga, em Oklahoma, e eu
também o apoio".
Sem hesitar, Kerry fez algo que
teria sido praticamente impensável na sua fase de campanha
desajeitada. Desceu do palco e
abraçou Richard Hightower, o
prefeito da cidadezinha vizinha,
de 3.200 habitantes. Em seguida,
levou-o ao palco e declarou: "Senhoras e senhores, eis meu simpatizante mais recente".
Mas nem tudo é brincadeira.
Em Dakota do Norte, no sábado,
quando discursava perante 600
pessoas, usando roupa casual,
um homem mais velho que estava perto do palco caiu.
"Temos alguém desmaiado
aqui", afirmou Kerry, descendo
do palco. Momentos depois, ele
disse com calma: "Senhoras e senhores, ele está bem. Ele é um
veterano da Segunda Guerra e
estava em pé havia tempo. Ele só
precisa de um pouco de ar."
"O senhor deveria ser presidente!", gritou uma mulher.
É quase impossível dizer até
que ponto a situação de Kerry
melhorou por conta de seu próprio desempenho ou da repentina convicção de muitos democratas de que ele é a opção mais
elegível hoje. O que é indiscutível é que ele começou a ser mais
bem-visto pelas multidões.
Kerry ainda é capaz de iniciar
suas frases com fórmulas ultrapassadas e ainda gosta de inversões retóricas que remetem a
John F. Kennedy. Ele tem alguns
tiques verbais, como dizer "literalmente" quando quer dizer
"figurativamente".
Mas fala com uma convicção
inabalável -e está conquistando cada vez mais seguidores.
Tradução de Clara Allain
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