São Paulo, quarta-feira, 04 de fevereiro de 2004

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IRAQUE OCUPADO

Secretário admite que falta de arsenal "muda a equação política" e que não sabe se apoiaria a invasão

Powell põe em dúvida seu apoio à guerra

DA REDAÇÃO

O secretário de Estado americano, Colin Powell, não tem certeza de que teria apoiado a Guerra do Iraque se soubesse que o país não possuía o arsenal de destruição em massa que os EUA o acusavam de manter.
"A falta de um arsenal muda a equação política, muda seu resultado", disse Powell em entrevista ao jornal "The Washington Post", publicada ontem. Ao ser indagado se recomendaria a invasão mesmo sabendo que Bagdá não tinha o arsenal proibido, como concluiu o chefe da busca americana pelas armas, David Kay, ele respondeu que não sabia.
"Não sei, porque o arsenal era a pecinha que faltava para tornar mais real e iminente o perigo representado para a região e para o mundo", disse Powell ao "Post".
Mas, horas após a publicação da entrevista, o secretário -que não só apoiou a invasão, em março, como a defendeu perante a ONU um mês antes, apresentando provas da ameaça iraquiana depois contestadas- voltou atrás.
Powell disse a jornalistas que "provavelmente concordaria" com a invasão, por causa da "intenção e da capacidade" de Bagdá de fabricar as armas proibidas.
"Acho que estava claro que esse era um regime com intenção e capacidade [para produzir armas] e que [representava] um risco ao qual o presidente sentia que não podíamos nos expor. Isso era algo com o que todos concordávamos e provavelmente concordaríamos novamente sob quaisquer outras circunstâncias", declarou. "O presidente tomou a decisão correta."
Na entrevista ao "Post", apesar de demonstrar dúvidas, Powell disse que a história julgaria que a guerra "era a coisa certa a ser feita". Para ele, o depoimento de Kay era mais favorável ao governo do que mostrou a mídia.
Kay, que deixou o Grupo de Pesquisa do Iraque há 12 dias, após sete meses conduzindo a busca por armas, declarou à Comissão de Serviços Armados do Senado que os EUA se enganaram sobre o arsenal iraquiano, usado como a maior razão para a guerra.
O inspetor atribuiu o erro a falhas dos serviços de inteligência, isentando o governo. A conclusão levou Bush a anunciar a formação de uma comissão independente bipartidária para apurar onde houve falhas, cujos integrantes devem ser nomeados em breve.
"Serão pessoas altamente íntegras e que terão a independência para fazer seu trabalho do modo como deve ser feito", disse o porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan, respondendo às críticas de legisladores democratas que puseram em dúvida a independência da comissão pelo fato de ela ser escolhida por Bush.

Gastos
Ontem, o secretário do Tesouro, John Snow, disse que o custo das operações no Iraque e no Afeganistão durante o próximo ano ainda é desconhecido e por isso ficou fora do Orçamento, apresentado anteontem. Autoridades americanas acreditam que a presença militar no Iraque deva seguir pelo menos até 2006, ainda que em escala reduzida.


Com agências internacionais

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