São Paulo, segunda-feira, 04 de fevereiro de 2008

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Na igreja do senador negro, fiéis e pastor dizem "amém"

DO ENVIADO A CHICAGO (ILLINOIS)

Às dez da manhã locais (14h de Brasília), na parte sul e pobre de Chicago, carros começam a despejar nas calçadas cobertas de neve centenas de famílias vestidas especialmente para a ocasião, que aos poucos vão lotar o santuário da Igreja da Trindade Unida de Cristo. O dia é especial: é domingo, é final do campeonato nacional de futebol americano, o pastor principal da igreja está se aposentando e seu membro mais famoso está a 48 horas de passar por seu maior teste.
O serviço começa pontualmente às 11h. São necessários apenas 35 minutos para que o nome de Barack Obama seja pronunciado pela primeira vez no púlpito. "Nosso próximo presidente, amém?", grita Otis Moss 3º. "Amém!", gritam de volta os fiéis. Com quase dois metros de altura, roupa branca com detalhes dourados, bem articulado, o líder religioso é o herdeiro do fundador desse ramo da Igreja Protestante.
Depois de comandar a Trindade por 36 anos, o polêmico Jeremiah Wright, 67, resolveu sair de cena. Ele é o formador religioso de Obama, que tirou o título de um de seus discursos, "A Audácia da Esperança", para batizar sua segunda biografia.

Teologia da libertação
Recentemente, depois de aumentarem as chances de sua indicação pelo Partido Democrata, o candidato vem diminuindo a importância que teria tido em sua vida o pastor batista e um dos expoentes da teologia da libertação negra.
Sob o comando de Wright, a igreja se tornou abertamente política e combativa, como avisa um quadro pendurado no átrio que leva ao santuário, em que um Jesus negro abençoa uma família tendo abaixo os dizeres: "Sem vergonha de ser negra e sem pedir desculpas por ser cristã".
Numa das orações dessa manhã, o pastor diz "maravilhosas são as obras de Deus", ao que os fiéis respondem "maravilhosa também é a cor da pele de nosso povo". Entre os cerca de 500 presentes, há seis brancos, dos quais dois são jornalistas e três, visitantes de uma igreja do sul.
É às 11h35 que Moss chama à frente Marjorie Marsch, que completava 95 anos ontem. Ela foi líder distrital da igreja no Estado de Iowa. "Foi por isso que o irmão Obama ganhou em Iowa!", entusiasma-se o pastor, antes de ler uma carta enviada pelo senador para a congregada. A platéia começa a cantar. Um dos hinos é "We Shall Overcome", que virou tema do movimento pelos direitos civis dos anos 60.
Então, é hora do sermão. É lida uma passagem do livro de "Êxodo" em que Moisés questiona com Deus seu papel de líder de Israel. O subtexto político é evidente. Logo, os que estão contra o "movimento" são os "faraós". "Os Pat Robertson da vida falarem mal de nós eu entendo", exorta Moss, referindo-se ao televangelista branco ultraconservador. "O que eu não entendo é isso vir de pessoas como nós."
Em entrevista à Folha, o diácono Hugh Brandon, 61, dá nome aos bois. "Sim, a comunidade apoiava os Clinton, mas o que eles fizeram pelos negros não foi mais do que a obrigação". Para ele, "com Obama será diferente. Estão acordando um gigante adormecido". (SD)


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