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Na igreja do senador negro, fiéis e pastor dizem "amém"
DO ENVIADO A CHICAGO (ILLINOIS)
Às dez da manhã locais (14h
de Brasília), na parte sul e pobre de Chicago, carros começam a despejar nas calçadas cobertas de neve centenas de famílias vestidas especialmente
para a ocasião, que aos poucos
vão lotar o santuário da Igreja
da Trindade Unida de Cristo. O
dia é especial: é domingo, é final
do campeonato nacional de futebol americano, o pastor principal da igreja está se aposentando e seu membro mais famoso está a 48 horas de passar
por seu maior teste.
O serviço começa pontualmente às 11h. São necessários
apenas 35 minutos para que o
nome de Barack Obama seja
pronunciado pela primeira vez
no púlpito. "Nosso próximo
presidente, amém?", grita Otis
Moss 3º. "Amém!", gritam de
volta os fiéis. Com quase dois
metros de altura, roupa branca
com detalhes dourados, bem
articulado, o líder religioso é o
herdeiro do fundador desse ramo da Igreja Protestante.
Depois de comandar a Trindade por 36 anos, o polêmico
Jeremiah Wright, 67, resolveu
sair de cena. Ele é o formador
religioso de Obama, que tirou o
título de um de seus discursos,
"A Audácia da Esperança", para
batizar sua segunda biografia.
Teologia da libertação
Recentemente, depois de aumentarem as chances de sua
indicação pelo Partido Democrata, o candidato vem diminuindo a importância que teria
tido em sua vida o pastor batista e um dos expoentes da teologia da libertação negra.
Sob o comando de Wright, a
igreja se tornou abertamente
política e combativa, como avisa um quadro pendurado no
átrio que leva ao santuário, em
que um Jesus negro abençoa
uma família tendo abaixo os dizeres: "Sem vergonha de ser negra e sem pedir desculpas por
ser cristã".
Numa das orações dessa manhã, o pastor diz "maravilhosas
são as obras de Deus", ao que os
fiéis respondem "maravilhosa
também é a cor da pele de nosso povo". Entre os cerca de 500
presentes, há seis brancos, dos
quais dois são jornalistas e três,
visitantes de uma igreja do sul.
É às 11h35 que Moss chama à
frente Marjorie Marsch, que
completava 95 anos ontem. Ela
foi líder distrital da igreja no
Estado de Iowa. "Foi por isso
que o irmão Obama ganhou em
Iowa!", entusiasma-se o pastor,
antes de ler uma carta enviada
pelo senador para a congregada. A platéia começa a cantar.
Um dos hinos é "We Shall
Overcome", que virou tema do
movimento pelos direitos civis
dos anos 60.
Então, é hora do sermão. É lida uma passagem do livro de
"Êxodo" em que Moisés questiona com Deus seu papel de líder de Israel. O subtexto político é evidente. Logo, os que estão contra o "movimento" são
os "faraós". "Os Pat Robertson
da vida falarem mal de nós eu
entendo", exorta Moss, referindo-se ao televangelista branco
ultraconservador. "O que eu
não entendo é isso vir de pessoas como nós."
Em entrevista à Folha, o diácono Hugh Brandon, 61, dá nome aos bois. "Sim, a comunidade apoiava os Clinton, mas o
que eles fizeram pelos negros
não foi mais do que a obrigação". Para ele, "com Obama será diferente. Estão acordando
um gigante adormecido".
(SD)
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