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Cristina obtém aval de vice para troca no BC
Com voto favorável do agora opositor Julio Cobos, Congresso corrobora decisão da presidente de demitir Martín Redrado
Depois de quase um mês, mandatária argentina nomeia nova chefe de BC e ironiza entraves criados pela oposição à exoneração
SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES
A presidente Cristina Kirchner obteve ontem o aval da comissão do Congresso instalada
após determinação judicial para analisar sua decisão de exonerar o presidente do Banco
Central, num desdobramento
inesperado do caso que provocou uma grave crise institucional na Argentina.
Cristina demitiu Martín Redrado no dia 7 por meio de um
decreto de necessidade e urgência, apesar de a legislação
determinar que ela deveria
consultar o Congresso antes de
tomar a decisão. Com base nisso, Redrado conseguiu se manter no cargo mediante decisão
judicial, e Cristina se viu forçada a instalar a comissão parlamentar. Antes que esta se pronunciasse, no entanto, Redrado
desistiu da queda de braço com
o governo e renunciou ao cargo,
na última sexta.
O parecer da comissão -com
dois votos a favor da exoneração e um contra- foi entregue
à presidente na noite de terça.
Ignorando a renúncia de Redrado, Cristina ratificou ontem
o decreto que o exonera por
"má conduta e descumprimento de deveres" -a presidente
decidiu demitir o funcionário,
que tinha mandato até setembro, depois que este se recusou
a cumprir outro decreto editado por Cristina, para realocar
US$ 6 bilhões das reservas do
banco a um fundo para o pagamento da dívida pública. Esse
decreto ainda está suspenso
por decisão judicial.
Para substituir Redrado,
Cristina designou a presidente
do estatal Banco de la Nación,
Mercedes Marcó Del Pont.
Cristina saboreou a vitória
ironizando a oposição. "Entre a
decisão adotada no dia 7 e hoje
passou quase um mês. O resultado é exatamente o mesmo. Isso pode ser sintetizado num dito popular: "Correr tanto para
chegar a lugar nenhum!'".
Para o aval da comissão à
Cristina, foi decisivo o voto de
seu vice, Julio Cobos, que está
rompido com ela desde que
derrubou no Senado, em 2008,
o projeto do governo de taxação
da exportação de grãos.
Cobos, como presidente do
Senado, voltou a ter a função de
desempatar uma decisão, mas
desta vez votou favoravelmente ao governo. Cristina disse
que não lhe cabia comentar o
voto de seu vice, mas criticou
atitude anterior de Cobos, de
tentar convocar o plenário do
Congresso, que está em recesso, para debater a questão.
Para a presidente, "toda essa
tensão institucional poderia ter
sido evitada, se [os opositores]
tivessem agido com mais colaboração institucional".
Na entrevista coletiva em
que anunciou a nova titular do
BC, Cristina discutiu com o repórter do "La Nación" que definiu Del Pont como favorável a
reduzir a autonomia da entidade em relação ao governo.
Del Pont é autora de um projeto de reforma do regulamento do BC. Depois de indagar se o
repórter havia lido o texto,
Cristina insinuou que ele estava mal informado, porque "não
dá para ler projetos pelos jornais, que você se dá mal".
Ela disse que Del Pont não
propõe limitar a autonomia do
BC, mas incluir "a geração de
emprego e o crescimento econômico" entre seus objetivos.
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