São Paulo, quinta-feira, 04 de fevereiro de 2010

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Cristina obtém aval de vice para troca no BC

Com voto favorável do agora opositor Julio Cobos, Congresso corrobora decisão da presidente de demitir Martín Redrado

Depois de quase um mês, mandatária argentina nomeia nova chefe de BC e ironiza entraves criados pela oposição à exoneração


SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES

A presidente Cristina Kirchner obteve ontem o aval da comissão do Congresso instalada após determinação judicial para analisar sua decisão de exonerar o presidente do Banco Central, num desdobramento inesperado do caso que provocou uma grave crise institucional na Argentina.
Cristina demitiu Martín Redrado no dia 7 por meio de um decreto de necessidade e urgência, apesar de a legislação determinar que ela deveria consultar o Congresso antes de tomar a decisão. Com base nisso, Redrado conseguiu se manter no cargo mediante decisão judicial, e Cristina se viu forçada a instalar a comissão parlamentar. Antes que esta se pronunciasse, no entanto, Redrado desistiu da queda de braço com o governo e renunciou ao cargo, na última sexta.
O parecer da comissão -com dois votos a favor da exoneração e um contra- foi entregue à presidente na noite de terça.
Ignorando a renúncia de Redrado, Cristina ratificou ontem o decreto que o exonera por "má conduta e descumprimento de deveres" -a presidente decidiu demitir o funcionário, que tinha mandato até setembro, depois que este se recusou a cumprir outro decreto editado por Cristina, para realocar US$ 6 bilhões das reservas do banco a um fundo para o pagamento da dívida pública. Esse decreto ainda está suspenso por decisão judicial.
Para substituir Redrado, Cristina designou a presidente do estatal Banco de la Nación, Mercedes Marcó Del Pont.
Cristina saboreou a vitória ironizando a oposição. "Entre a decisão adotada no dia 7 e hoje passou quase um mês. O resultado é exatamente o mesmo. Isso pode ser sintetizado num dito popular: "Correr tanto para chegar a lugar nenhum!'".
Para o aval da comissão à Cristina, foi decisivo o voto de seu vice, Julio Cobos, que está rompido com ela desde que derrubou no Senado, em 2008, o projeto do governo de taxação da exportação de grãos.
Cobos, como presidente do Senado, voltou a ter a função de desempatar uma decisão, mas desta vez votou favoravelmente ao governo. Cristina disse que não lhe cabia comentar o voto de seu vice, mas criticou atitude anterior de Cobos, de tentar convocar o plenário do Congresso, que está em recesso, para debater a questão.
Para a presidente, "toda essa tensão institucional poderia ter sido evitada, se [os opositores] tivessem agido com mais colaboração institucional".
Na entrevista coletiva em que anunciou a nova titular do BC, Cristina discutiu com o repórter do "La Nación" que definiu Del Pont como favorável a reduzir a autonomia da entidade em relação ao governo.
Del Pont é autora de um projeto de reforma do regulamento do BC. Depois de indagar se o repórter havia lido o texto, Cristina insinuou que ele estava mal informado, porque "não dá para ler projetos pelos jornais, que você se dá mal".
Ela disse que Del Pont não propõe limitar a autonomia do BC, mas incluir "a geração de emprego e o crescimento econômico" entre seus objetivos.


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