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Haiti critica reação de mídia dos EUA a prisões
Para premiê, polêmica sobre detenção de americanos suspeitos de sequestro desvia foco de vítimas de sismo
LUIS KAWAGUTI
EM PORTO PRÍNCIPE
O premiê haitiano, Jean-Max
Bellerive, fez duras críticas ontem à imprensa americana, alegando que a prisão dos dez missionários batistas, acusados do
sequestro de 33 crianças haitianas na última sexta, está desviando a atenção das vítimas do
terremoto do dia 12 de janeiro.
Ele afirmou não querer que o
caso influencie no envio de ajuda humanitária pelos EUA.
"Vocês estão falando comigo
como se não houvesse tráfico
de crianças. Acho que isso [a
prisão dos missionários] é uma
distração em relação ao que o
povo haitiano está passando."
"Vocês estão prestando mais
atenção em dez pessoas [americanas] do que em 1 milhão [de
haitianos] que estão sofrendo",
disse Bellerive a repórteres da
emissora TV dos EUA NBC, em
frente ao prédio da polícia, usado pelo presidente, René Préval, como sede do governo.
Bellerive foi questionado pela imprensa americana diversas vezes durante a tarde de ontem sobre o destino dos missionários e disse que a solução deve ser dada pela Justiça local.
"Eu não sou juiz. No Haiti, o
governo e a Justiça são instâncias independentes. Só o que eu
posso fazer é garantir que eles
sejam bem tratados durante o
processo. O julgamento deve
ser rápido e, se forem inocentes, em breve estarão em casa.
Se não, vão para a cadeia."
Ontem, um juiz haitiano interrogou cinco missionários
homens. Anteontem, as cinco
mulheres do grupo haviam sido
ouvidas pelo magistrado. Diferentemente do Brasil, no Haiti,
é o próprio juiz quem conduz as
investigações. Eles foram presos quando tentavam entrar de
ônibus com as crianças na República Dominicana.
O premiê também disse desejar que o caso dos missionários não seja relacionado ou
confundido com a ajuda humanitária que os EUA estão enviando ao Haiti. Atualmente há
3.700 militares americanos no
Haiti fazendo entrega de comida e água e quase 10 mil em navios na costa tratando de haitianos feridos. Além disso, voos
humanitários têm levado vítimas para tratamento nos EUA.
"Se eles estão lá [na prisão
que funciona na sede atual do
governo haitiano], é porque foram acusados de sequestro, e
não porque são cidadãos americanos. Respeitamos os americanos, não só seus governantes,
mas toda a sociedade civil que
está vindo ao Haiti", afirmou o
premiê haitiano. Ele reiterou o
pedido para que os EUA continuem ajudando seu país.
Bellerive também admitiu
que pode haver mais casos de
sequestros de crianças haitianas por causa do terremoto e
disse que muitos desses casos
podem estar sendo motivados
por exploração sexual.
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