São Paulo, domingo, 04 de março de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EUA flexibilizam sua atitude com o "eixo do mal"

HELENE COOPER
DO "NEW YORK TIMES"

No espaço de duas semanas, os Estados Unidos concordaram em manter conversações de alto nível com o Irã e a Síria e retomar o caminho para o reconhecimento formal da Coréia do Norte. Estaria o governo de George W. Bush amolecendo com seus inimigos?
No dia 12 de janeiro, a secretária de Estado, Condoleezza Rice, repetiu uma constante na política externa de Bush -a recusa em conceder a Irã, Síria e Coréia do Norte a legitimidade de um envolvimento diplomático com os EUA enquanto esses países não se curvassem às exigências americanas. "
"Isso não é diplomacia", disse ela ao defender o repúdio a negociações diretas com Irã e Síria. "Isso é extorsão."
Em público, o governo insiste em que a nova atitude, que inclui a participação em uma conferência no Iraque junto com Irã e Síria, não significa uma mudança de política.
""Não há rachadura", disse o porta-voz da Casa Branca, Tony Snow.
Especialistas em política externa, críticos da Casa Branca no Congresso e ex-diplomatas discordam, afirmando que o governo parece ter reconhecido que atou as próprias mãos ao insistir em dialogar só com os amigos.
Até Rice chamou a abertura a Teerã e Damasco de uma "ofensiva diplomática". ""A questão não é se o eixo do mal está morto, pois não está", diz Daniel P. Serwer, do Instituto da Paz, ex-diplomata que foi diretor-executivo do Grupo de Estudos do Iraque, comissão bipartidária formada em 2006 para fazer recomendações ao governo sobre a guerra.
""A questão é se o conceito, da forma como foi aplicado, está morto. E é absolutamente claro para mim que devemos conversar com quem for preciso para resolver os problemas", diz ele.
Dentro do governo há uma antiga queda-de-braço entre os defensores do diálogo, representados pelos diplomatas do Departamento de Estado e algumas vezes liderados por Rice, e aqueles que preferem isolar os inimigos, liderados pelo vice-presidente Dick Cheney e apoiados pelo ex-embaixador na ONU John Bolton.
No período que antecedeu a Guerra do Iraque e nos anos posteriores, o segundo grupo provou estar em vantagem. Mas o resultado da eleição legislativa de novembro -na qual os republicanos perderam a maioria no Congresso para a oposição democrata-, junto com o caos no Iraque e a urgência de marcar gols na política externa à medida que o tempo se esgota para o governo Bush, criaram espaço para os proponentes do diálogo.
Ainda não está claro se um governo que esteve por tanto tempo comprometido em não dialogar pode fazer uma sincera meia-volta. Pouca gente no governo acredita que Cheney mudou repentinamente de idéia. Isso significa que Rice estará sob pressão para mostrar resultados rapidamente, uma missão difícil.


Texto Anterior: Crítico da ocupação será assessor de Rice
Próximo Texto: Dinamarca: Polícia prende mais de 500 em protesto violento
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.