São Paulo, domingo, 04 de março de 2007

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Para analista, Bayrou tem tirado votos da esquerda

Em terceiro nas pesquisas, o candidato está a 6,5 pontos de Ségolène Royal

Segundo diretor de instituto de pesquisas, hoje bloco esquerdista é menor do que em 2002, o que prejudicaria socialista num 2º turno

DA REPORTAGEM LOCAL

Em janeiro, era de 16 pontos percentuais a diferença entre François Bayrou, que se diz "candidato da terceira via" nas eleições presidenciais francesas, e a socialista Ségolène Royal. A diferença agora é de apenas 6,5 pontos.
O crescimento de sua candidatura é comentado por Frédéric Dabi, diretor de opinião do Ifop (Instituto Francês de Opinião Pública).
Ele diz que o Partido Comunista chegou ao fundo do poço e constata a insuficiência de votos que a esquerda não-socialista dará a Ségolène se ela chegar a disputar o segundo turno, no dia 6 de maio. Eis trechos de sua entrevista à Folha.

 

FOLHA - Há a possibilidade de François Bayrou disputar o segundo turno com Nicolas Sarkozy, eliminando a candidata socialista?
FRÉDÉRIC DABI
- As pesquisas nunca são premonitórias. Mas o que constatamos nas últimas semanas é uma tendência consistente do crescimento da candidatura de Bayrou. Ele estava com 12% das intenções de voto. Saltou para 14%, depois para 17% e chegou agora a 19%. Em janeiro a diferença entre ele e Ségolène Royal era de 16 pontos. Está agora em apenas 6,5 pontos. Não posso afirmar que ele seguirá nessa trajetória. Mas as pesquisas indicam que tudo é possível. Inclusive que ele dispute o segundo turno com Sarkozy.

FOLHA - É possível dizer que a candidata socialista está em queda?
DABI
- Não creio que se possa por enquanto fazer esse diagnóstico. É verdade que, em uma semana, Ségolène caiu 2,5 pontos. E é também verdade que Bayrou cresceu dois pontos por meio da transferência de intenções que beneficiavam a esquerda. Mas a candidata socialista continua no patamar de 25%, que é bastante elevado e oito pontos acima da votação de Lionel Jospin, o candidato socialista à Presidência [derrotado] em 2002. A fraqueza da candidatura dela está na existência de um bloco de esquerda e de extrema esquerda incrivelmente anêmico, com votos insuficientes a serem transferidos para ela no segundo turno. A esquerda como um todo reúne hoje menos votos do que tinha no primeiro turno de 2002.

FOLHA - Como explicar que Marie-George Buffet, a candidata do Partido Comunista, com toda a sua máquina e peso histórico, tenha apenas 2,5% das intenções?
DABI
- O PCF possui uma máquina invejável para fazer campanha, com militantes e centenas de prefeitos. Mas há outros fatores. As eleições presidenciais nunca foram aquelas em que os comunistas tiveram mais votos. Há também a lembrança de 2002 [quando o socialista Jospin foi desclassificado, e a esquerda ficou sem candidato no segundo turno], o que leva o eleitor comunista ao voto útil já no primeiro turno. Há por fim o declínio histórico dos comunistas, aliado ao fato de eles não terem conseguido criar uma dinâmica a partir do "não" no referendo de 2005 sobre a Constituição européia.

FOLHA - Pode-se afirmar que Sarkozy é o único a ter uma candidatura verdadeiramente sólida?
DABI
- Ele sem dúvida conseguiu se firmar na direita e entre setores do conservadorismo mais radical. Sarkozy atraiu uma parcela dos eleitores de Jean-Marie Le Pen [Frente Nacional, a direita de um nacionalismo xenofóbico].

FOLHA - Ou seja, parte dos eleitores da Frente Nacional aceita a existência de uma polarização e pratica o "voto útil" já no primeiro turno.
DABI
- Em 2002, quando Le Pen se classificou para o segundo turno, ele reuniu em torno de sua candidatura a totalidade dos simpatizantes da extrema direita. Isso hoje em dia não ocorre mais. Sarkozy seduziu uma parcela desses eleitores.

FOLHA - Como explicar que Olivier Besancenot, trotskista da Liga Comunista Revolucionária, seja hoje o mais forte dos candidatos da esquerda não-socialista, com 4%?
DABI
- Há a imagem de Besancenot, personagem que os franceses passaram a conhecer nas eleições de 2002. Seu nome ainda está crescendo. Ele poderá terminar o primeiro turno com 5% ou 6%. Besancenot tem para oferecer sua juventude [está com 32 anos] e uma linguagem muito clara e direta, sem dissimulações. Também é beneficiado pelo desgaste de Arlette Laguiller [dirigente da Luta Operária, grupo trotskista rival], que desde 1974 disputou todas as eleições presidenciais. Em 2002 ela não definiu como prioridade derrotar a extrema direita de Le Pen, contrariamente ao que defendia Besancenot, mesmo se para tanto fosse preciso votar em Jacques Chirac. (JBN)


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