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Para analista, Bayrou tem tirado votos da esquerda
Em terceiro nas pesquisas, o candidato está a 6,5 pontos de Ségolène Royal
Segundo diretor de instituto de pesquisas, hoje bloco esquerdista é menor do que em 2002, o que prejudicaria socialista num 2º turno
DA REPORTAGEM LOCAL
Em janeiro, era de 16 pontos
percentuais a diferença entre
François Bayrou, que se diz
"candidato da terceira via" nas
eleições presidenciais francesas, e a socialista Ségolène Royal. A diferença agora é de apenas 6,5 pontos.
O crescimento de sua candidatura é comentado por Frédéric Dabi, diretor de opinião do
Ifop (Instituto Francês de Opinião Pública).
Ele diz que o Partido Comunista chegou ao fundo do poço e
constata a insuficiência de votos que a esquerda não-socialista dará a Ségolène se ela chegar a disputar o segundo turno,
no dia 6 de maio. Eis trechos de
sua entrevista à Folha.
FOLHA - Há a possibilidade de François Bayrou disputar o segundo turno com Nicolas Sarkozy, eliminando
a candidata socialista?
FRÉDÉRIC DABI - As pesquisas
nunca são premonitórias. Mas
o que constatamos nas últimas
semanas é uma tendência consistente do crescimento da candidatura de Bayrou. Ele estava
com 12% das intenções de voto.
Saltou para 14%, depois para
17% e chegou agora a 19%. Em
janeiro a diferença entre ele e
Ségolène Royal era de 16 pontos. Está agora em apenas 6,5
pontos. Não posso afirmar que
ele seguirá nessa trajetória.
Mas as pesquisas indicam que
tudo é possível. Inclusive que
ele dispute o segundo turno
com Sarkozy.
FOLHA - É possível dizer que a candidata socialista está em queda?
DABI - Não creio que se possa
por enquanto fazer esse diagnóstico. É verdade que, em uma
semana, Ségolène caiu 2,5 pontos. E é também verdade que
Bayrou cresceu dois pontos por
meio da transferência de intenções que beneficiavam a esquerda. Mas a candidata socialista continua no patamar de
25%, que é bastante elevado e
oito pontos acima da votação
de Lionel Jospin, o candidato
socialista à Presidência [derrotado] em 2002.
A fraqueza da candidatura
dela está na existência de um
bloco de esquerda e de extrema
esquerda incrivelmente anêmico, com votos insuficientes a
serem transferidos para ela no
segundo turno. A esquerda como um todo reúne hoje menos
votos do que tinha no primeiro
turno de 2002.
FOLHA - Como explicar que Marie-George Buffet, a candidata do Partido Comunista, com toda a sua máquina e peso histórico, tenha apenas
2,5% das intenções?
DABI - O PCF possui uma máquina invejável para fazer campanha, com militantes e centenas de prefeitos.
Mas há outros fatores. As
eleições presidenciais nunca
foram aquelas em que os comunistas tiveram mais votos. Há
também a lembrança de 2002
[quando o socialista Jospin foi
desclassificado, e a esquerda ficou sem candidato no segundo
turno], o que leva o eleitor comunista ao voto útil já no primeiro turno. Há por fim o declínio histórico dos comunistas,
aliado ao fato de eles não terem
conseguido criar uma dinâmica
a partir do "não" no referendo
de 2005 sobre a Constituição
européia.
FOLHA - Pode-se afirmar que Sarkozy é o único a ter uma candidatura verdadeiramente sólida?
DABI - Ele sem dúvida conseguiu se firmar na direita e entre
setores do conservadorismo
mais radical. Sarkozy atraiu
uma parcela dos eleitores de
Jean-Marie Le Pen [Frente Nacional, a direita de um nacionalismo xenofóbico].
FOLHA - Ou seja, parte dos eleitores da Frente Nacional aceita a existência de uma polarização e pratica
o "voto útil" já no primeiro turno.
DABI - Em 2002, quando Le
Pen se classificou para o segundo turno, ele reuniu em torno
de sua candidatura a totalidade
dos simpatizantes da extrema
direita. Isso hoje em dia não
ocorre mais. Sarkozy seduziu
uma parcela desses eleitores.
FOLHA - Como explicar que Olivier
Besancenot, trotskista da Liga Comunista Revolucionária, seja hoje o
mais forte dos candidatos da esquerda não-socialista, com 4%?
DABI - Há a imagem de Besancenot, personagem que os franceses passaram a conhecer nas
eleições de 2002. Seu nome
ainda está crescendo. Ele poderá terminar o primeiro turno
com 5% ou 6%. Besancenot
tem para oferecer sua juventude [está com 32 anos] e uma
linguagem muito clara e direta,
sem dissimulações. Também é
beneficiado pelo desgaste de
Arlette Laguiller [dirigente da
Luta Operária, grupo trotskista
rival], que desde 1974 disputou
todas as eleições presidenciais.
Em 2002 ela não definiu como
prioridade derrotar a extrema
direita de Le Pen, contrariamente ao que defendia Besancenot, mesmo se para tanto fosse preciso votar em Jacques
Chirac.
(JBN)
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