|
Próximo Texto | Índice
Uribe acusa vizinhos de ligação com Farc
Colombiano diz ter provas de laços de Correa e Chávez com guerrilha; equatoriano afirma que ação frustrou libertação de reféns
Quito rompe relações com Bogotá; Caracas expulsa embaixador colombiano e faz acusações de tráfico; OEA discutirá crise hoje
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Em resposta às duras reações
de Caracas e Quito por ter matado o líder das Farc (Forças
Armadas Revolucionárias da
Colômbia) Raúl Reyes em ataque no território equatoriano,
o governo Álvaro Uribe contra-atacou acusando o presidente
Hugo Chávez de enviar US$
300 milhões às Farc, com quem
teria uma "aliança armada".
Bogotá também afirmou ter
"provas contundentes" de que
há um relacionamento estreito
entre o governo Rafael Correa e
a guerrilha de esquerda.
O governo equatoriano negou qualquer ajuda às Farc e,
no final da tarde, anunciou o
rompimento das relações diplomáticas com a Colômbia.
Por outro lado, seu ministro da
Segurança Interna e Externa,
Gustavo Larrea, admitiu ter se
encontrado com Reyes no início deste ano, para tratar da libertação de reféns do grupo.
Como a França
No fim da noite, em cadeia
nacional de rádio e TV, Correa
disse que o ataque pôs fim a negociações para a libertação,
neste mês, de 11 reféns, entre
eles a franco-colombiana Ingrid Betancourt. "Tudo foi frustrado pelas mãos militaristas e
autoritárias [de Uribe]", disse.
"Todo contato com a guerrilha
foi por motivos humanitários,
junto com um país como a
França. Ocorreria a alguém
acusar o presidente [Nicolas]
Sarkozy de apoiar as Farc?"
Mais cedo, o chanceler francês, Bernard Kouchner, havia
lamentado a morte de Reyes, o
dirigente das Farc com quem
Paris "estava em contato".
A Venezuela também rechaçou as acusações e anunciou a
expulsão imediata do embaixador colombiano de Caracas.
À noite, o ministro do Interior, Ramón Rodríguez Chacín,
acusou o diretor da Polícia Nacional colombiana, Oscar Naranjo, de ser ligado ao megatraficante Wilber Varela, morto
em janeiro na Venezuela. Anteontem, Chávez já havia ordenado o fechamento da embaixada em Bogotá e o envio de dez
batalhões militares à fronteira
-até o fechamento desta edição, nenhum reforço havia chegado à região.
Computador
As informações sobre o envolvimento dos dois países com
as Farc estariam em um computador de Reyes encontrado
na operação de sábado e foram
apresentadas ontem pelo general Naranjo. Ele pediu uma investigação da OEA (Organização dos Estados Americanos)
para certificar a veracidade do
material. Hoje à tarde, o Conselho Permanente da OEA fará
uma reunião em Washington
para discutir a crise.
Para Naranjo, os documentos encontrados mostram "não
apenas uma aproximação implícita como também uma
aliança armada entre as Farc e
o governo da Venezuela".
O diretor da polícia afirmou
que um documento do mês
passado assinado por Iván
Márquez, um dos seis membros do secretariado das Farc,
menciona o "financiamento da
Venezuela às Farc de US$ 300
milhões". Márquez esteve no final do ano passado em Caracas,
onde foi recebido por Chávez,
em meio à mediação do venezuelano para libertar os reféns
mantidos pela guerrilha.
Naranjo também afirma,
com base nos supostos documentos, que as Farc enviaram
100 milhões de pesos colombianos (R$ 90,7 mil) a Chávez
durante o período em que ele
esteve preso, após liderar uma
tentativa de golpe, em 1992.
A carta de Márquez diz ainda
que Chávez prometeu, por
meio de seu ministro Chacín,
"que ia contribuir com uns estilingues velhinhos que tinha
guardados por aí e que ele sabia
que ainda funcionavam". Para
Naranjo, é uma referência à entrega de fuzis.
Anteontem à noite, o mesmo
Naranjo já havia apresentado
dois documentos supostamente escritos por Reyes que comprovariam um encontro recente do guerrilheiro com o ministro Larrea, conhecido político
de esquerda no Equador.
Nos documentos, dirigidos
ao secretariado das Farc, Reyes
afirma que Correa gostaria de
se reunir com ele e que Larrea
pediu a liberação de um policial
refém das Farc há mais de dez
anos. Segundo o documento divulgado por Bogotá, o equatoriano se diz disposto a mudar
"mandos da força pública" hostis à população da fronteira.
O ministro Larrea disse que
se encontrou com Reyes em janeiro para falar sobre a liberação de reféns. "Essa reunião de
desenvolveu fora da Colômbia
e fora do Equador", disse.
Contra-ataque
Em Caracas, o ministro Rodríguez Chacín convocou uma
entrevista ontem à noite para
negar todas as acusações: "Inventam um computador e então qualquer informação que
sacam do computador é válida?
Com que ética?".
O funcionário venezuelano
passou em seguida ao ataque:
tirou de uma sacola um computador portátil que teria sido de
Wilber Varela -responsável,
segundo os EUA, pelo envio de
70% da cocaína colombiana ao
território americano- e afirmou que ali foram encontradas
informações comprovando
suas ligações com Naranjo.
"Neste computador, há importantes informações dos narcotraficantes que comprometem o general Naranjo com o
tráfico de drogas, numa ramificação à qual pertence o seu irmão Juan David, que está preso
na Alemanha por narcotráfico.
E também o pagamento de suborno ao ministro da Defesa
[Juan Manuel Santos] para nomeá-lo no alto mando", acusou.
Próximo Texto: Saiba mais: Ataque usou tecnologia brasileira Índice
|