São Paulo, terça-feira, 04 de março de 2008

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Uribe acusa vizinhos de ligação com Farc

Colombiano diz ter provas de laços de Correa e Chávez com guerrilha; equatoriano afirma que ação frustrou libertação de reféns

Quito rompe relações com Bogotá; Caracas expulsa embaixador colombiano e faz acusações de tráfico; OEA discutirá crise hoje

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Em resposta às duras reações de Caracas e Quito por ter matado o líder das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) Raúl Reyes em ataque no território equatoriano, o governo Álvaro Uribe contra-atacou acusando o presidente Hugo Chávez de enviar US$ 300 milhões às Farc, com quem teria uma "aliança armada".
Bogotá também afirmou ter "provas contundentes" de que há um relacionamento estreito entre o governo Rafael Correa e a guerrilha de esquerda.
O governo equatoriano negou qualquer ajuda às Farc e, no final da tarde, anunciou o rompimento das relações diplomáticas com a Colômbia. Por outro lado, seu ministro da Segurança Interna e Externa, Gustavo Larrea, admitiu ter se encontrado com Reyes no início deste ano, para tratar da libertação de reféns do grupo.

Como a França
No fim da noite, em cadeia nacional de rádio e TV, Correa disse que o ataque pôs fim a negociações para a libertação, neste mês, de 11 reféns, entre eles a franco-colombiana Ingrid Betancourt. "Tudo foi frustrado pelas mãos militaristas e autoritárias [de Uribe]", disse. "Todo contato com a guerrilha foi por motivos humanitários, junto com um país como a França. Ocorreria a alguém acusar o presidente [Nicolas] Sarkozy de apoiar as Farc?"
Mais cedo, o chanceler francês, Bernard Kouchner, havia lamentado a morte de Reyes, o dirigente das Farc com quem Paris "estava em contato".
A Venezuela também rechaçou as acusações e anunciou a expulsão imediata do embaixador colombiano de Caracas.
À noite, o ministro do Interior, Ramón Rodríguez Chacín, acusou o diretor da Polícia Nacional colombiana, Oscar Naranjo, de ser ligado ao megatraficante Wilber Varela, morto em janeiro na Venezuela. Anteontem, Chávez já havia ordenado o fechamento da embaixada em Bogotá e o envio de dez batalhões militares à fronteira -até o fechamento desta edição, nenhum reforço havia chegado à região.

Computador
As informações sobre o envolvimento dos dois países com as Farc estariam em um computador de Reyes encontrado na operação de sábado e foram apresentadas ontem pelo general Naranjo. Ele pediu uma investigação da OEA (Organização dos Estados Americanos) para certificar a veracidade do material. Hoje à tarde, o Conselho Permanente da OEA fará uma reunião em Washington para discutir a crise.
Para Naranjo, os documentos encontrados mostram "não apenas uma aproximação implícita como também uma aliança armada entre as Farc e o governo da Venezuela".
O diretor da polícia afirmou que um documento do mês passado assinado por Iván Márquez, um dos seis membros do secretariado das Farc, menciona o "financiamento da Venezuela às Farc de US$ 300 milhões". Márquez esteve no final do ano passado em Caracas, onde foi recebido por Chávez, em meio à mediação do venezuelano para libertar os reféns mantidos pela guerrilha.
Naranjo também afirma, com base nos supostos documentos, que as Farc enviaram 100 milhões de pesos colombianos (R$ 90,7 mil) a Chávez durante o período em que ele esteve preso, após liderar uma tentativa de golpe, em 1992.
A carta de Márquez diz ainda que Chávez prometeu, por meio de seu ministro Chacín, "que ia contribuir com uns estilingues velhinhos que tinha guardados por aí e que ele sabia que ainda funcionavam". Para Naranjo, é uma referência à entrega de fuzis.
Anteontem à noite, o mesmo Naranjo já havia apresentado dois documentos supostamente escritos por Reyes que comprovariam um encontro recente do guerrilheiro com o ministro Larrea, conhecido político de esquerda no Equador.
Nos documentos, dirigidos ao secretariado das Farc, Reyes afirma que Correa gostaria de se reunir com ele e que Larrea pediu a liberação de um policial refém das Farc há mais de dez anos. Segundo o documento divulgado por Bogotá, o equatoriano se diz disposto a mudar "mandos da força pública" hostis à população da fronteira.
O ministro Larrea disse que se encontrou com Reyes em janeiro para falar sobre a liberação de reféns. "Essa reunião de desenvolveu fora da Colômbia e fora do Equador", disse.

Contra-ataque
Em Caracas, o ministro Rodríguez Chacín convocou uma entrevista ontem à noite para negar todas as acusações: "Inventam um computador e então qualquer informação que sacam do computador é válida? Com que ética?".
O funcionário venezuelano passou em seguida ao ataque: tirou de uma sacola um computador portátil que teria sido de Wilber Varela -responsável, segundo os EUA, pelo envio de 70% da cocaína colombiana ao território americano- e afirmou que ali foram encontradas informações comprovando suas ligações com Naranjo.
"Neste computador, há importantes informações dos narcotraficantes que comprometem o general Naranjo com o tráfico de drogas, numa ramificação à qual pertence o seu irmão Juan David, que está preso na Alemanha por narcotráfico. E também o pagamento de suborno ao ministro da Defesa [Juan Manuel Santos] para nomeá-lo no alto mando", acusou.


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