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entrevista
Chávez está em busca de apoio interno
ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO
Para Peter Hakim, presidente do think-tank Inter-American Dialogue,
Venezuela e Equador se
aproveitam da retórica anti-EUA -e conseqüentemente anti-Colômbia-
para angariar apoio interno, mas sabem que "a era
de intervencionismo pelo
qual os EUA já foram conhecidos passou". Segundo ele, nessa guerra simbólica a chance de conflito
real é muito pequena. Leia
a seguir os principais trechos da entrevista que ele
concedeu à Folha, por telefone, de Washington.
FOLHA - O ataque no Equador compensou para Uribe?
PETER HAKIM - A reação da
Venezuela objetiva exatamente deixar claro para a
Colômbia que não valeria
a pena repetir esse ataque.
Não sei se esta ação compensou, mas imagino que
a tentação para a Colômbia tenha sido muito grande, porque Raúl Reyes era
um líder tremendamente
importante. E suspeito
que na Colômbia o ataque
gerou uma recepção muito
positiva para o governo.
FOLHA - Qual o risco de conflito entre Caracas e Bogotá?
HAKIM - Há 95% de chance de não vermos um conflito armado. Pelo que eles
lutariam? Você pode brigar por território, pela posição das fronteiras, por
cidadãos detidos... nesse
caso, nenhum lado saberia
o quê exatamente exigir
do outro. E haveria um
custo altíssimo tanto para
Colômbia quanto para Venezuela. Há quase US$ 5
bilhões de comércio entre
esses países, um enorme
trânsito de pessoas e seria
muito danoso a ambos
uma guerra, inclusive em
termos de apoio público.
FOLHA - O sr. crê que a ação
da Colômbia se insere na lógica da guerra contra o terror?
HAKIM - Não. Quando falamos de uma guerra contra o terror, falamos em
guerrilhas de alcance mais
global. Não é o caso das
Farc, que têm um interesse localizado na Colômbia.
FOLHA - Qual a influência do
antiamericanismo nas reações
contra a Colômbia?
HAKIM - Acho que Hugo
Chávez aproveita todas as
oportunidades para criticar e descarregar sua raiva
contra os EUA. Na verdade, Chávez e Rafael Correa
já perceberam que a era de
intervenção do tipo pelo
qual os EUA já foram conhecidos passou. Os EUA
não usam a Colômbia como uma base de operações
para influenciar a América
Latina, então isso é uma
guerra de retórica.
Para Venezuela e Equador, essa é uma forma de
ganhar apoio interno e de
continuar sua busca por
uma identificação como
contraponto aos EUA. Se
eles estivessem realmente
preocupados com a ação
americana, acho que teriam mais cuidado.
FOLHA - Como o sr. avalia o
fechamento de embaixadas?
HAKIM - Isso tudo é muito
simbólico. Os países não
vão à guerra, mas chamam
seus embaixadores e esperam. Não é uma ocorrência incomum. Mas é um sinal de que as relações na
América Latina não estão
nada construtivas. Há
mais divisões entre países
agora do que em qualquer
época que eu possa me
lembrar, e acho que os
conflitos ainda vão perdurar. Chávez é uma força
desestabilizadora. Ele
continuará usando o antiamericanismo para gerar
apoio. Mas Equador e Venezuela não vão arriscar
perder relações comerciais com os EUA.
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