São Paulo, terça-feira, 04 de março de 2008

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entrevista

Chávez está em busca de apoio interno

ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO

Para Peter Hakim, presidente do think-tank Inter-American Dialogue, Venezuela e Equador se aproveitam da retórica anti-EUA -e conseqüentemente anti-Colômbia- para angariar apoio interno, mas sabem que "a era de intervencionismo pelo qual os EUA já foram conhecidos passou". Segundo ele, nessa guerra simbólica a chance de conflito real é muito pequena. Leia a seguir os principais trechos da entrevista que ele concedeu à Folha, por telefone, de Washington.

 

FOLHA - O ataque no Equador compensou para Uribe?
PETER HAKIM -
A reação da Venezuela objetiva exatamente deixar claro para a Colômbia que não valeria a pena repetir esse ataque. Não sei se esta ação compensou, mas imagino que a tentação para a Colômbia tenha sido muito grande, porque Raúl Reyes era um líder tremendamente importante. E suspeito que na Colômbia o ataque gerou uma recepção muito positiva para o governo.

FOLHA - Qual o risco de conflito entre Caracas e Bogotá?
HAKIM -
Há 95% de chance de não vermos um conflito armado. Pelo que eles lutariam? Você pode brigar por território, pela posição das fronteiras, por cidadãos detidos... nesse caso, nenhum lado saberia o quê exatamente exigir do outro. E haveria um custo altíssimo tanto para Colômbia quanto para Venezuela. Há quase US$ 5 bilhões de comércio entre esses países, um enorme trânsito de pessoas e seria muito danoso a ambos uma guerra, inclusive em termos de apoio público.

FOLHA - O sr. crê que a ação da Colômbia se insere na lógica da guerra contra o terror?
HAKIM -
Não. Quando falamos de uma guerra contra o terror, falamos em guerrilhas de alcance mais global. Não é o caso das Farc, que têm um interesse localizado na Colômbia.

FOLHA - Qual a influência do antiamericanismo nas reações contra a Colômbia?
HAKIM -
Acho que Hugo Chávez aproveita todas as oportunidades para criticar e descarregar sua raiva contra os EUA. Na verdade, Chávez e Rafael Correa já perceberam que a era de intervenção do tipo pelo qual os EUA já foram conhecidos passou. Os EUA não usam a Colômbia como uma base de operações para influenciar a América Latina, então isso é uma guerra de retórica.
Para Venezuela e Equador, essa é uma forma de ganhar apoio interno e de continuar sua busca por uma identificação como contraponto aos EUA. Se eles estivessem realmente preocupados com a ação americana, acho que teriam mais cuidado.

FOLHA - Como o sr. avalia o fechamento de embaixadas?
HAKIM -
Isso tudo é muito simbólico. Os países não vão à guerra, mas chamam seus embaixadores e esperam. Não é uma ocorrência incomum. Mas é um sinal de que as relações na América Latina não estão nada construtivas. Há mais divisões entre países agora do que em qualquer época que eu possa me lembrar, e acho que os conflitos ainda vão perdurar. Chávez é uma força desestabilizadora. Ele continuará usando o antiamericanismo para gerar apoio. Mas Equador e Venezuela não vão arriscar perder relações comerciais com os EUA.


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