São Paulo, terça-feira, 04 de março de 2008

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Brasil condena a invasão do território equatoriano

Brasília trabalha por pedido de desculpas "mais explícito" de Uribe a Rafael Correa

Diplomacia visa isolar Chávez, cuja atuação foi criticada por Lula, e criar diálogo entre Bogotá e Quito; Correa vem ao Brasil

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo brasileiro condenou publicamente a Colômbia pelo ataque às Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) em território equatoriano, o que deixa o presidente Álvaro Uribe isolado no continente. Ao mesmo tempo, porém, o Brasil se coloca como o principal mediador na crise aberta entre os dois países e alimentada pela Venezuela.
Em nome do governo, o ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) classificou "a violação territorial do Equador" como "extremamente grave, pois fere um dos pilares das relações internacionais e coloca em situação de insegurança todos os Estados da região, especialmente os menores".
O Brasil, segundo ele, trabalha para que os dois países encontrem "alguma margem de convergência" para reabrir o diálogo. Amorim disse que houve toda uma articulação para um pedido de desculpas da Colômbia ao Equador, mas que o governo de Rafael Correa considerou o pedido feito insuficiente, porque "cheio de qualificativos e ressalvas". Na opinião de Amorim, a Colômbia deveria fazer uma manifestação mais afirmativa para "baixar a temperatura": "O caso merece um pedido de desculpas mais explícito", disse, deixando claro que o Brasil trabalha nesse sentido.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva telefonou ontem tanto para Uribe quanto para o presidente do Equador, Rafael Correa, para articular a criação de uma comissão de investigação para averiguar as circunstâncias do ataque às Farc. Correa virá a Brasília para um encontro com Lula amanhã, às 10h, no Palácio do Planalto, como parte de um "giro" pela América Latina para reunir apoios contra Uribe. No telefonema, Correa não comunicou a Lula que iria romper relações com a Colômbia. O Brasil foi surpreendido pela notícia.
O presidente equatoriano pediu para vir ainda hoje a Brasília, mas Lula preferiu marcar para amanhã, porque quis esperar a reunião do Conselho Permanente da OEA (Organização dos Estados Americanos), hoje em Washington, que vai discutir a crise. A proposta brasileira da criação da comissão de investigação será um dos principais temas da pauta.
A intenção do Brasil é ganhar tempo para que os dois países consigam um mínimo de condição de diálogo. Também pretende isolar o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que já declarou publicamente seu apoio às Farc contra Uribe, que tem apoio dos EUA.
O Brasil considera que a decisão de Chávez de enviar tropas à fronteira só piora as coisas e trabalha para que uma ação conjunta na OEA possa "frear os impulsos" e "tirar a legitimidade unilateral" do venezuelano, conforme a Folha ouviu ontem em gabinete de Brasília.

Exageros de Chávez
Ontem de manhã, Lula usou toda a reunião ordinária da coordenação política do governo para discutir o conflito, convocando Amorim extraordinariamente. Na reunião, as maiores críticas foram dirigidas a Uribe, mas Chávez também não foi poupado. Segundo Lula, Chávez "exagerou" ao deslocar tropas para a fronteira e ao chamar Uribe de "criminoso".
Lula tinha previsto na agenda dois outros telefonemas, além dos que fez para Uribe e Correa: um para Chávez, que tinha telefonado para ele antes, e outro para a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, que já estava marcado antes, para tratar de gás. Há duas versões no governo. Uma de que Lula retornou a ligação de Chávez, duas outras a de que não.
De qualquer forma, o Brasil condena publicamente Uribe pela invasão de território equatoriano, mas condena também, nos bastidores, o gesto de Chávez de estimular um estado de guerra na região. Em entrevista, Amorim considerou "muitíssimo remota" a possibilidade de um conflito armado que envolva o Brasil, mas considerou a situação "gravíssima e extremamente preocupante". Perguntado três vezes sobre Chávez, o ministro escapuliu, preferindo dizer que "o foco é a questão bilateral", ou seja, entre a Colômbia e o Equador.


Colaborou VALDO CRUZ, da Sucursal de Brasília


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