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Brasil condena a invasão do território equatoriano
Brasília trabalha por pedido de desculpas "mais explícito" de Uribe a Rafael Correa
Diplomacia visa isolar Chávez, cuja atuação foi criticada por Lula, e criar diálogo entre Bogotá e Quito; Correa vem ao Brasil
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo brasileiro condenou publicamente a Colômbia
pelo ataque às Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) em território equatoriano, o que deixa o presidente
Álvaro Uribe isolado no continente. Ao mesmo tempo, porém, o Brasil se coloca como o
principal mediador na crise
aberta entre os dois países e alimentada pela Venezuela.
Em nome do governo, o ministro Celso Amorim (Relações
Exteriores) classificou "a violação territorial do Equador" como "extremamente grave, pois
fere um dos pilares das relações
internacionais e coloca em situação de insegurança todos os
Estados da região, especialmente os menores".
O Brasil, segundo ele, trabalha para que os dois países encontrem "alguma margem de
convergência" para reabrir o
diálogo. Amorim disse que
houve toda uma articulação para um pedido de desculpas da
Colômbia ao Equador, mas que
o governo de Rafael Correa
considerou o pedido feito insuficiente, porque "cheio de qualificativos e ressalvas".
Na opinião de Amorim, a Colômbia deveria fazer uma manifestação mais afirmativa para
"baixar a temperatura": "O caso
merece um pedido de desculpas mais explícito", disse, deixando claro que o Brasil trabalha nesse sentido.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva telefonou ontem
tanto para Uribe quanto para o
presidente do Equador, Rafael
Correa, para articular a criação
de uma comissão de investigação para averiguar as circunstâncias do ataque às Farc.
Correa virá a Brasília para
um encontro com Lula amanhã, às 10h, no Palácio do Planalto, como parte de um "giro"
pela América Latina para reunir apoios contra Uribe. No telefonema, Correa não comunicou a Lula que iria romper relações com a Colômbia. O Brasil
foi surpreendido pela notícia.
O presidente equatoriano
pediu para vir ainda hoje a Brasília, mas Lula preferiu marcar
para amanhã, porque quis esperar a reunião do Conselho
Permanente da OEA (Organização dos Estados Americanos), hoje em Washington, que
vai discutir a crise. A proposta
brasileira da criação da comissão de investigação será um dos
principais temas da pauta.
A intenção do Brasil é ganhar
tempo para que os dois países
consigam um mínimo de condição de diálogo. Também pretende isolar o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que já
declarou publicamente seu
apoio às Farc contra Uribe, que
tem apoio dos EUA.
O Brasil considera que a decisão de Chávez de enviar tropas
à fronteira só piora as coisas e
trabalha para que uma ação
conjunta na OEA possa "frear
os impulsos" e "tirar a legitimidade unilateral" do venezuelano, conforme a Folha ouviu
ontem em gabinete de Brasília.
Exageros de Chávez
Ontem de manhã, Lula usou
toda a reunião ordinária da
coordenação política do governo para discutir o conflito, convocando Amorim extraordinariamente. Na reunião, as maiores críticas foram dirigidas a
Uribe, mas Chávez também
não foi poupado. Segundo Lula,
Chávez "exagerou" ao deslocar
tropas para a fronteira e ao chamar Uribe de "criminoso".
Lula tinha previsto na agenda dois outros telefonemas,
além dos que fez para Uribe e
Correa: um para Chávez, que tinha telefonado para ele antes, e
outro para a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, que
já estava marcado antes, para
tratar de gás. Há duas versões
no governo. Uma de que Lula
retornou a ligação de Chávez,
duas outras a de que não.
De qualquer forma, o Brasil
condena publicamente Uribe
pela invasão de território equatoriano, mas condena também,
nos bastidores, o gesto de Chávez de estimular um estado de
guerra na região. Em entrevista, Amorim considerou "muitíssimo remota" a possibilidade
de um conflito armado que envolva o Brasil, mas considerou a
situação "gravíssima e extremamente preocupante". Perguntado três vezes sobre Chávez, o ministro escapuliu, preferindo dizer que "o foco é a
questão bilateral", ou seja, entre a Colômbia e o Equador.
Colaborou VALDO CRUZ, da Sucursal de Brasília
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