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Polícia reprime esboço de protesto de opositores em Moscou
Número de agentes de segurança ultrapassa o de manifestantes; pelo menos 25, que insistiram em protestar apesar do frio e da repressão, foram detidos
DO ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU
A moribunda oposição russa
tentou ontem fazer seu primeiro protesto depois da vitória esmagadora de Dmitri Medvedev
na eleição de domingo. Tentou.
A eficiência, por assim dizer,
das autoridades transformou o
ato em um conflito entre soldados e jornalistas pelo mesmo
objetivo: achar algum opositor.
Os que foram localizados
acabaram detidos. A Folha
contou pelo menos 25 prisões;
agências de notícias falavam
em "dúzias", aparente exagero.
Não havia tanta gente disposta
a enfrentar a neve, o frio e os
pelo menos 500 homens das
tropas do Ministério do Interior e do temido Omon, Esquadrão Policial de Ação Especial.
O palco foi a praça Turgenevskaia, no centro de Moscou.
Marcado pelo grupo A Outra
Rússia, frente oposicionista
que não conseguiu ter um nome concorrendo no pleito ganho com 70,23% dos votos por
Medvedev. Às 15h locais, duas
horas antes do horário marcado, três caminhões do Exército
e um da Omon distribuíam soldados pelas ruas laterais.
As autoridades negaram espaço para a manifestação, alegando que iria conturbar o
trânsito. Ao mesmo tempo, o
grupo jovem pró-Kremlin Nashi reuniu 5.000 pessoas junto à
Embaixada dos EUA.
Não havia organização centralizada dos opositores, embora o enxadrista Garry Kasparov
fosse esperado. Alguns se espalharam pela praça, trocando
disfarçadamente mensagens
de texto nos celulares -como
se combinando uma versão política e russa dos "flash mobs",
atos instantâneos ocidentais.
Sergei era um deles. Com um
chapéu e sobretudo que lembravam um agente da KGB de
filme de James Bond, ficou à
porta do metrô até as 16h45,
quando a primeira prisão foi
feita. Logo seria sua vez.
O Omon foi responsável pelas prisões. Por volta das 17h10,
teve início o protesto em si,
com cerca de 25 pessoas gritando slogans contra o governo
Putin, contra as eleições ("Farsa!") e em favor do A Outra
Rússia. Alguns sinalizadores
vermelhos foram queimados.
Sorte dos fotógrafos e cinegrafistas, que reclamavam entre si da ausência de imagens
vibrantes. Assim, quando o
Omon dispersou o centro do
protesto, muitos tomaram o
caminho do metrô ao lado.
Cada um que resolvia gritar
no meio da aglomeração atraía
não menos que 20 câmeras
-até que o Omon, sempre com
três homens, o pegava.
Foi assim com Dmitri. O jovem começou a falar com um
canal de TV alemão, em inglês
tosco, e com a Folha. "Sou
anarquista", foi o que conseguiu falar antes de ser arrastado para um dos cinco microônibus que recebiam os presos.
Então foi formada uma barreira com soldados de choque para forçar os jornalistas a irem
para o metrô. Eram 18h15; o
movimento murchou de vez.
Ontem, a Comissão Eleitoral
afirmou não ter visto irregularidades graves no pleito. O Partido Comunista, segundo colocado com 17,76% dos votos,
apontou várias: haveria zonas
com mais votos que eleitores,
denúncias de "enchimento" de
urnas em regiões distantes.
"O problema é provar o que
nos é relatado. Além disso, nosso trabalho foi bem mais monitorado", afirmou à Folha Tatiana Bogdanova, da ONG de
monitoramento eleitoral Golos. Um grupo do Parlamento
Europeu criticou as eleições,
mas afirmou que o resultado
reflete a vontade popular por
continuidade. Do Ocidente, algumas meias-palavras, mas nenhuma condenação explícita.
A oposição está em apuros,
pelo menos enquanto o preço
do gás e do petróleo sustentar o
crescimento russo e a polícia, o
governo. Como havia dito Kasparov, que afinal de contas não
apareceu, à Folha: "Nosso papel é mostrar para o povo que,
enquanto é possível lutar, ainda há esperança". Vai ser difícil.
(IGOR GIELOW)
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