São Paulo, terça-feira, 04 de março de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / VERDADES E MENTIRAS

"Naftagate" pode custar Estado de Ohio a Obama

Reunião entre assessor e canadenses contradiz discurso econômico do senador

No Texas, que também vota hoje, empate técnico em pesquisa sugere que voto latino está deixando base da senadora Hillary Clinton

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A AUSTIN (TEXAS)

Um escândalo que o comando da campanha de Hillary Clinton já batizou de "Naftagate" pode custar o Estado de Ohio a Barack Obama. Veio à tona ontem o relato de um encontro em que um dos assessores econômicos do senador sugere a autoridades canadenses que as críticas públicas do candidato ao Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) não são para valer.
Na reunião, o professor da Universidade de Chicago Austan Goolsbee diz a um funcionário do governo do Canadá que as críticas feitas em público por Obama são "mais um posicionamento político do que uma articulação clara de planos". Em pesquisas de opinião em Ohio, o acordo entre EUA, Canadá e México tem altas taxas de rejeição e é apontado como um dos culpados pelo desemprego nos Estados.
No Texas, 40% dois ouvidos num levantamento do instituto de pesquisa Mason-Dixon desaprovam o acordo; o índice salta para 59% em Ohio. Ricos em delegados, os dois Estados vão às urnas hoje para escolher seus candidatos democratas à sucessão de George W. Bush.
Uma vitória em um dos dois pode indicar mais claramente a liderança de Obama e forçar Hillary a abandonar a corrida -o contrário pode fazer com que a ex-primeira-dama arraste a disputa pelo menos até as primárias da Pensilvânia, que acontecem em 22 de abril.
A candidata aproveitou o imbróglio para retomar o tema de sua campanha, de que trata de ações enquanto o oponente trata de palavras. "Eu não acho que você deva ir a Ohio e dizer ao povo local uma coisa e então mandar sua campanha dizer outra a um governo estrangeiro em reuniões fechadas", disse em Toledo, no Texas. "Essa é a diferença entre palavras e ações de que eu venho falando."
O senador a princípio havia negado que o encontro existiu. Ontem, voltou atrás ao dizer que quando negou não sabia que ele tinha ocorrido. Sua campanha afirma que o professor Goolsbee agiu como acadêmico, não como representante do candidato. Procurado pela Folha para entrevista mais ampla sobre o programa econômico do candidato, o pivô do "Naftagate" respondeu por e-mail: "O comando da campanha nos disse para não falarmos ainda com a imprensa estrangeira".
Ontem, ainda, começou o julgamento do especulador imobiliário Anton "Tony" Rezko, ex-amigo do casal Obama e importante doador do candidato, acusado de tentar corromper funcionários do governo. O caso voltou a suscitar questões sobre a natureza da relação entre eles, que o senador diz terem se resumido a uma transação de terrenos dentro da lei.
Vencedor das últimas 11 prévias, o senador caminhava tranqüilo em direção às disputas de hoje, em que quatro Estados vão às urnas -além de Texas e Ohio, Vermont e Rhode Island realizam suas prévias. A série de denúncias recentes contra ele marca o que o crítico de mídia do jornal "Washington Post", Howard Kurtz, chamou de "fim da lua-de-mel" entre a imprensa e Obama.
Que contra-atacou. Ontem, ainda, sua campanha vazou para a imprensa suposto de Mark Penn, estrategista-chefe de Hillary, em que este tenta dividir responsabilidades no caso de derrota nas prévias de hoje, ao dizer que não tinha voz de comando em aspectos importantes da campanha. Antes favorita, a ex-primeira-dama viu sua vantagem nas pesquisas ser corroída, até manter uma ligeira vantagem em Ohio e chegar ao empate técnico no Texas.

Desperate Housewives
No Estado com maior número de delegados em jogo hoje, 228, Barack Obama avança num universo até então dominado por Hillary Clinton: eleitores latinos. É o que mostra levantamento feito pelo instituto SurveyUSA na quarta-feira passada: Hillary Clinton tem 13 pontos percentuais de vantagem sobre o senador entre hispânicos que moram no Texas.
Essa vantagem era de 33 pontos na semana anterior, o que dá um ganho para o senador de quase três pontos percentuais por dia. No Texas, os latinos representam 36% da população e 25% dos votos, segundo o secretário de Estado do Texas, Phil Wilson.
Assim, os dois candidatos passaram o dia ontem a cortejar esse universo. Obama investiu pesado nos anúncios em espanhol -e os artistas ligados ao rapper will.i.am colocaram no ar "We Are The Ones", uma versão hispânica do vídeo "Yes We Can", sucesso no You Tube calcado em discurso dele.
Já Hillary convocou no começo da noite de ontem uma "reunião na cidade" virtual, em Austin, em que respondeu a perguntas de eleitores em todo o Estado. A mediá-la, a atriz Eva Longoria, a Gabrielle de "Desperate Housewifes", texana nascida em Corpus Christi e de ascendência mexicana.


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