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SUCESSÃO NOS EUA / VERDADES E MENTIRAS
"Naftagate" pode custar Estado de Ohio a Obama
Reunião entre assessor e canadenses contradiz discurso econômico do senador
No Texas, que também vota hoje, empate técnico em pesquisa sugere que voto latino está deixando base
da senadora Hillary Clinton
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A AUSTIN (TEXAS)
Um escândalo que o comando da campanha de Hillary
Clinton já batizou de "Naftagate" pode custar o Estado de
Ohio a Barack Obama. Veio à
tona ontem o relato de um encontro em que um dos assessores econômicos do senador sugere a autoridades canadenses
que as críticas públicas do candidato ao Tratado de Livre Comércio da América do Norte
(Nafta) não são para valer.
Na reunião, o professor da
Universidade de Chicago Austan Goolsbee diz a um funcionário do governo do Canadá
que as críticas feitas em público
por Obama são "mais um posicionamento político do que
uma articulação clara de planos". Em pesquisas de opinião
em Ohio, o acordo entre EUA,
Canadá e México tem altas taxas de rejeição e é apontado como um dos culpados pelo desemprego nos Estados.
No Texas, 40% dois ouvidos
num levantamento do instituto
de pesquisa Mason-Dixon desaprovam o acordo; o índice
salta para 59% em Ohio. Ricos
em delegados, os dois Estados
vão às urnas hoje para escolher
seus candidatos democratas à
sucessão de George W. Bush.
Uma vitória em um dos dois
pode indicar mais claramente a
liderança de Obama e forçar
Hillary a abandonar a corrida
-o contrário pode fazer com
que a ex-primeira-dama arraste a disputa pelo menos até as
primárias da Pensilvânia, que
acontecem em 22 de abril.
A candidata aproveitou o imbróglio para retomar o tema de
sua campanha, de que trata de
ações enquanto o oponente trata de palavras. "Eu não acho
que você deva ir a Ohio e dizer
ao povo local uma coisa e então
mandar sua campanha dizer
outra a um governo estrangeiro
em reuniões fechadas", disse
em Toledo, no Texas. "Essa é a
diferença entre palavras e
ações de que eu venho falando."
O senador a princípio havia
negado que o encontro existiu.
Ontem, voltou atrás ao dizer
que quando negou não sabia
que ele tinha ocorrido. Sua
campanha afirma que o professor Goolsbee agiu como acadêmico, não como representante
do candidato. Procurado pela
Folha para entrevista mais ampla sobre o programa econômico do candidato, o pivô do "Naftagate" respondeu por e-mail:
"O comando da campanha nos
disse para não falarmos ainda
com a imprensa estrangeira".
Ontem, ainda, começou o julgamento do especulador imobiliário Anton "Tony" Rezko,
ex-amigo do casal Obama e importante doador do candidato,
acusado de tentar corromper
funcionários do governo. O caso voltou a suscitar questões
sobre a natureza da relação entre eles, que o senador diz terem se resumido a uma transação de terrenos dentro da lei.
Vencedor das últimas 11 prévias, o senador caminhava
tranqüilo em direção às disputas de hoje, em que quatro Estados vão às urnas -além de
Texas e Ohio, Vermont e Rhode
Island realizam suas prévias. A
série de denúncias recentes
contra ele marca o que o crítico
de mídia do jornal "Washington Post", Howard Kurtz, chamou de "fim da lua-de-mel" entre a imprensa e Obama.
Que contra-atacou. Ontem,
ainda, sua campanha vazou para a imprensa suposto de Mark
Penn, estrategista-chefe de Hillary, em que este tenta dividir
responsabilidades no caso de
derrota nas prévias de hoje, ao
dizer que não tinha voz de comando em aspectos importantes da campanha. Antes favorita, a ex-primeira-dama viu sua
vantagem nas pesquisas ser
corroída, até manter uma ligeira vantagem em Ohio e chegar
ao empate técnico no Texas.
Desperate Housewives
No Estado com maior número de delegados em jogo hoje,
228, Barack Obama avança
num universo até então dominado por Hillary Clinton: eleitores latinos. É o que mostra levantamento feito pelo instituto
SurveyUSA na quarta-feira
passada: Hillary Clinton tem 13
pontos percentuais de vantagem sobre o senador entre hispânicos que moram no Texas.
Essa vantagem era de 33
pontos na semana anterior, o
que dá um ganho para o senador de quase três pontos percentuais por dia. No Texas, os
latinos representam 36% da
população e 25% dos votos, segundo o secretário de Estado
do Texas, Phil Wilson.
Assim, os dois candidatos
passaram o dia ontem a cortejar esse universo. Obama investiu pesado nos anúncios em espanhol -e os artistas ligados ao
rapper will.i.am colocaram no
ar "We Are The Ones", uma
versão hispânica do vídeo "Yes
We Can", sucesso no You Tube
calcado em discurso dele.
Já Hillary convocou no começo da noite de ontem uma
"reunião na cidade" virtual, em
Austin, em que respondeu a
perguntas de eleitores em todo
o Estado. A mediá-la, a atriz
Eva Longoria, a Gabrielle de
"Desperate Housewifes", texana nascida em Corpus Christi e
de ascendência mexicana.
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