UOL


São Paulo, sexta-feira, 04 de abril de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESTRATÉGIA

País tem de decidir se invade agora a capital ou espera reforços ou um golpe interno

Às portas de Bagdá, EUA vivem dilema

RUPERT CORNWELL
DO "INDEPENDENT"

O drama está chegando ao seu clímax. Tropas norte-americanas estão agora posicionadas nas cercanias de Bagdá e a campanha, se não a batalha final, pela capital iraquiana já começou. Uma escolha momentosa, obscurecida por diversos fatores imponderáveis, terá de ser feita pelos EUA.
Lançam seu ataque à cidade agora ou aguardam a chegada de reforços, na esperança de que o poderio aéreo incontestável, as operações de forças especiais ou alguma forma de golpe ou levante popular contra Saddam Hussein (presumindo que ele ainda esteja vivo) os livre de seu pior pesadelo, uma batalha nas ruas da cidade?
Há argumentos poderosos em favor de ambas as soluções. Os próximos dias oferecerão noites sem lua, o que amplia a vantagem dos atacantes dotados de equipamento de visão noturna e aviões sem piloto capazes de localizar alvos em qualquer visibilidade.
A força que provavelmente formará a espinha dorsal de qualquer defesa organizada de Bagdá será significativamente menor do que o esperado, presumindo que os danos infligidos às divisões Medina e Bagdá da Guarda Republicana na quarta-feira sejam tão devastadores quanto os comandantes norte-americanos alegam.
Uma das prioridades no momento é impedir que unidades dessas divisões recuem agora para a cidade, onde se somariam à guarda pretoriana de Saddam, os 15 mil soldados da Guarda Republicana Especial comandados por Qusay, filho do ditador, e às guerrilhas leais ao regime. Mas o otimismo norte-americano vem crescendo, e um porta-voz menciona "sinais fortes e confiáveis de que as forças iraquianas vêm sendo sobrepujadas e em breve entrarão em colapso".
Acredita-se que as melhores unidades de Saddam tenham sido divididas e espalhadas pela área de Bagdá, especialmente em bairros civis, para reduzir sua vulnerabilidade contra ataques aéreos e dificultar qualquer tentativa de reduzir sua força sem infligir o "dano colateral" que Washington está desesperado em evitar.
Mesmo assim, dias de bombardeios incansável dos depósitos e bases conhecidas da Guarda Republicana Especial teriam, estima-se, reduzido sua efetividade. Em um sentido político mais amplo, quanto mais cedo a guerra acabar, melhor, para permitir que os Estados Unidos e o Reino Unido comecem o trabalho de reconstrução não só do Iraque mas também de suas reputações em muitas regiões do mundo.
Mas os argumentos em favor de esperar um pouco mais são igualmente fortes. Muitos analistas não acreditam que as forças disponíveis hoje bastem para cercar e capturar uma cidade de cerca de 5 milhões de habitantes.
Caso o tentem, mesmo com apoio aéreo esmagador, a batalha talvez se prove sangrenta e indefinida, exatamente o que Washington deseja evitar. E isso provocaria o ressurgimento das críticas, amortecidas pelos estrondosos sucessos no campo de batalha desta semana, de que o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, optou por começar a guerra com uma força pequena demais.
Assim, por que não esperar uma ou duas semanas pela chegada da 4ª Divisão de Infantaria pára abrir uma frente ao norte de Bagdá? As indicações do comando em Washington indicam que, depois de avançarem tanto e com tamanha rapidez, as forças norte-americanas não deixarão que a pressa estrague tudo. Não se sabe se o general Tommy Franks, que tem o comando geral da guerra, decidiu ou não sobre a estratégia. O ataque aéreo incessante contra "alvos do regime" continuará, enquanto unidades de reconhecimento e de forças especiais reforçarão seus ataques de sondagem para determinar a resistência.
E se as divisões Bagdá e Medina foram mesmo destruídas, alguns dos principais comandantes iraquianos talvez concluam que a resistência é inútil. Se pode haver um golpe, é agora.


Texto Anterior: Forças especiais agem no centro da capital, dizem jornais
Próximo Texto: No calor da batalha
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.