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São Paulo, sexta-feira, 04 de abril de 2003

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EUA usam "sumiço" de Saddam como arma

DAVID E. SANGER
JAMES RISEN
DO "NEW YORK TIMES"

O governo Bush intensificou a campanha -empregando transmissões de rádio e outras formas de comunicação com os líderes militares iraquianos- para semear dúvidas sobre se o ditador Saddam Hussein está vivo e no controle do país, disseram altos funcionários do governo e oficiais das Forças Armadas.
As imagens de Saddam exibidas na rede de TV iraquiana não podem ser consideradas prova de que ele esteja vivo. A rede de TV CNN afirmou que análises da inteligência americana indicam que as imagens foram gravadas antes da eclosão da guerra.
Funcionários americanos alegam não ter chegado a conclusões firmes sobre se Saddam sobreviveu ao ataque contra ele no primeiro dia da guerra. Mas tentam transformar essa incerteza em uma vantagem, suscitando dúvidas nos comandantes iraquianos sobre sua obrigação de continuar lutando por um líder que talvez já esteja morto ou incapacitado.
Esse esforço dos EUA surgiu depois que militares americanos informaram ao Pentágono que a maioria dos iraquianos que eles vêm encontrando acredita que Saddam ainda esteja vivo.
O presidente George W. Bush discutiu a questão em pelo menos uma reunião nesta semana e está "profundamente intrigado" quanto ao paradeiro de Saddam, de acordo com um participante. "O consenso foi que o mistério sobre Saddam está crescendo, e que isso poderia nos ser útil", disse.
O porta-voz da Casa Branca, Ari Fleischer, e o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, ressaltaram repetidamente que Saddam -cujas aparições públicas escassearam nos últimos anos-, não fora visto em público desde o começo da guerra, duas semanas atrás.
As declarações de Fleischer e Rumsfeld, traduzidas para o árabe, estão agora sendo transmitidas em diversas freqüências para o Iraque pelas forças americanas.
Alguns prisioneiros de guerra iraquianos disseram às forças americanas que os boatos de que a família de Saddam estava fugindo vinham se espalhando velozmente, e funcionários do governo alegam que os EUA estão fazendo tudo que podem para alimentar esse tipo de especulação.
Outros funcionários expressaram preocupação com o fato de que, até os últimos dias, os iraquianos comuns tinham poucas razões para questionar se Saddam estava ou não no poder. Os escritórios regionais do partido governista Baath estavam relativamente incólumes até o final da semana passado. Forças paramilitares e a polícia secreta seguiam ativas, convencendo muitos iraquianos de que o governo estava intacto.
Em cidades do sul, as sedes locais do Baath foram atacadas em bombardeios. Um funcionário americano lembrou que quando os xiitas se revoltaram em Basra, em 1991, a primeira coisa que atacaram foi a sede local do partido.
"Se subestimamos alguma coisa, foi a capacidade de Saddam de projetar a percepção de que continua no comando", disse um funcionário dos serviços de inteligência americanos.


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