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São Paulo, sexta-feira, 04 de abril de 2003

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REAÇÃO

Pressionado, rei da Jordânia muda de tom, critica os EUA e chama civis mortos de "mártires"

Árabes decidem radicalizar discurso

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

O clima na região mudou. Da apatia que a dominava, a população árabe começa a protestar contra seus governantes e a pressioná-los a tomar uma posição mais firme contra os Estados Unidos.
É o que, segundo especialistas em política internacional entrevistados pela Folha, explica o pronunciamento do rei Abdullah, da Jordânia, que, após ter liberado seu espaço aéreo e dado apoio logístico aos norte-americanos, decidiu condenar a ação no Iraque.
Ele a definiu como uma "invasão" e chamou os civis iraquianos mortos no conflito de "mártires".
"É um dos primeiros sinais de que o mundo árabe, após a guerra, terá uma nova ordem. E certamente não será tão favorável aos EUA", diz o cientista político Mustafa Hamarneh, professor da Universidade da Jordânia.
Para ele, se antes do conflito os árabes se mostravam "apáticos", agora passaram a expressar sua indignação com a postura de alguns de seus líderes. "Aqueles que são vistos como colaboradores dos EUA terão de se explicar. A resistência iraquiana está comovendo todo o povo árabe."
Emad Shahin, professor de relações internacionais da Universidade Americana do Cairo, também acha que o pronunciamento do rei Abdullah significa uma nova postura, mostra que "os líderes [árabes] começam a perceber qual é o clamor das ruas".
E ele vai mais longe. "Por mais que o governo de Saddam possa ser questionado, a sensação é que se trata de uma agressão contra todos os árabes, há uma identificação com o sofrimento dos civis, do cidadão comum. Como resultado, o antiamericanismo está crescendo e quem é aliado dos EUA [caso da Jordânia] deve alguma satisfação à sociedade."
Na segunda-feira, um grupo de 57 personalidades jordanianas, incluindo políticos, empresários e líderes religiosos, fizeram um manifesto pedindo para o rei condenar a ação dos EUA. Na terça, outras 42 fizeram o mesmo.
Eles diziam que as mortes de civis iraquianos exibidas na TV têm enfurecido os jordanianos e que, num futuro próximo, a estabilidade do país ficaria em risco se o governo não endurecesse o discurso, pois a indignação é geral.
No Egito, Mohammed Ramadan, que lidera um grupo de dirigentes de organizações não-governamentais, organizou um abaixo-assinado a ser enviado a todos os governos de países árabes. Ele pede ações imediatas contra o ataque norte-americano e uma mudança de postura dos líderes simpáticos aos EUA.
No texto, Ramadan prevê um aumento no número de atentados terroristas contra cidadãos norte-americanos e britânicos.
"Terrorismo não se combate com terrorismo [como o egípcio define a ação norte-americana no Iraque]. A violência que estamos vendo acontecer só vai gerar mais violência e estimular os grupos extremistas da região."

Irã
É a mesma teoria do presidente Mohammad Khatami, do Irã. Segundo ele, a invasão do Iraque será interpretada pelos terroristas como um "sinal verde" para atacar alvos americanos. Ações de extremistas, portanto, devem crescer, opinou o presidente.
Em entrevista para a imprensa iraniana, Khatami pediu ainda para os EUA acordarem e pararem imediatamente a guerra.
"Quem joga bombas e mísseis provoca destruição e a ira das pessoas. Se a guerra não parar, suas consequências para o mundo e a região serão muito piores do que a tragédia que foi o Vietnã."


Com agências internacionais


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