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REAÇÃO
Pressionado, rei da Jordânia muda de tom, critica os EUA e chama civis mortos de "mártires"
Árabes decidem radicalizar discurso
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
O clima na região mudou. Da
apatia que a dominava, a população árabe começa a protestar contra seus governantes e a pressioná-los a tomar uma posição mais
firme contra os Estados Unidos.
É o que, segundo especialistas
em política internacional entrevistados pela Folha, explica o pronunciamento do rei Abdullah, da
Jordânia, que, após ter liberado
seu espaço aéreo e dado apoio logístico aos norte-americanos, decidiu condenar a ação no Iraque.
Ele a definiu como uma "invasão" e chamou os civis iraquianos
mortos no conflito de "mártires".
"É um dos primeiros sinais de
que o mundo árabe, após a guerra, terá uma nova ordem. E certamente não será tão favorável aos
EUA", diz o cientista político
Mustafa Hamarneh, professor da
Universidade da Jordânia.
Para ele, se antes do conflito os
árabes se mostravam "apáticos",
agora passaram a expressar sua
indignação com a postura de alguns de seus líderes. "Aqueles que
são vistos como colaboradores
dos EUA terão de se explicar. A
resistência iraquiana está comovendo todo o povo árabe."
Emad Shahin, professor de relações internacionais da Universidade Americana do Cairo, também acha que o pronunciamento
do rei Abdullah significa uma nova postura, mostra que "os líderes
[árabes] começam a perceber
qual é o clamor das ruas".
E ele vai mais longe. "Por mais
que o governo de Saddam possa
ser questionado, a sensação é que
se trata de uma agressão contra
todos os árabes, há uma identificação com o sofrimento dos civis,
do cidadão comum. Como resultado, o antiamericanismo está
crescendo e quem é aliado dos
EUA [caso da Jordânia] deve alguma satisfação à sociedade."
Na segunda-feira, um grupo de
57 personalidades jordanianas,
incluindo políticos, empresários e
líderes religiosos, fizeram um manifesto pedindo para o rei condenar a ação dos EUA. Na terça, outras 42 fizeram o mesmo.
Eles diziam que as mortes de civis iraquianos exibidas na TV têm
enfurecido os jordanianos e que,
num futuro próximo, a estabilidade do país ficaria em risco se o governo não endurecesse o discurso, pois a indignação é geral.
No Egito, Mohammed Ramadan, que lidera um grupo de dirigentes de organizações não-governamentais, organizou um
abaixo-assinado a ser enviado a
todos os governos de países árabes. Ele pede ações imediatas contra o ataque norte-americano e
uma mudança de postura dos líderes simpáticos aos EUA.
No texto, Ramadan prevê um
aumento no número de atentados
terroristas contra cidadãos norte-americanos e britânicos.
"Terrorismo não se combate
com terrorismo [como o egípcio
define a ação norte-americana no
Iraque]. A violência que estamos
vendo acontecer só vai gerar mais
violência e estimular os grupos
extremistas da região."
Irã
É a mesma teoria do presidente
Mohammad Khatami, do Irã. Segundo ele, a invasão do Iraque será interpretada pelos terroristas
como um "sinal verde" para atacar alvos americanos. Ações de
extremistas, portanto, devem
crescer, opinou o presidente.
Em entrevista para a imprensa
iraniana, Khatami pediu ainda
para os EUA acordarem e pararem imediatamente a guerra.
"Quem joga bombas e mísseis
provoca destruição e a ira das pessoas. Se a guerra não parar, suas
consequências para o mundo e a
região serão muito piores do que
a tragédia que foi o Vietnã."
Com agências internacionais
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