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EUA fomentam extremismo islâmico, diz professor
OTÁVIO DIAS
DA REDAÇÃO
A invasão do Iraque -e a reação do governo americano após
os atentados de 11 de setembro de
2001- fomentam, embora de
forma não intencional, o extremismo islâmico e o apelo a um
"jihad" contra os EUA.
É o que diz o professor Mark
Juergensmeyer, diretor do programa de Estudos Globais e Internacionais da Universidade da Califórnia, especialista em terrorismo religioso. Ele é autor do livro "Terror in the Mind of God: The
Global Rise of Religious Violence"
(O Terror na Mente de Deus: O
Crescimento Global da Violência
Religiosa), publicado pela editora
da Universidade da Califórnia em
2000 (revisada neste ano).
Leia entrevista concedida por
telefone à Folha.
Folha - Saddam Hussein divulgou
mensagem nesta semana na qual
fez um forte apelo ao "jihad", embora seu regime seja historicamente laico (não religioso). Que efeito
terá no Iraque e no Oriente Médio?
Juergensmeyer - O apelo ao "jihad" pode ser ouvido não porque
tenha sido feito por Saddam, em
quem muçulmanos militantes
não confiam, mas porque a agressão americana é vista como uma
violação do solo muçulmano.
Folha - O sr. acha que haverá ataques suicidas em grande escala?
Juergensmeyer - Não acho que
haja, no momento, uma paixão
religiosa no Iraque e pelo Iraque a
tal ponto. Logo, não acho que ataques suicidas serão usados como
uma técnica para defender o país.
Mas poderá haver um encorajamento de ataques suicidas não
para proteger Saddam, mas para
se opor ao invasor estrangeiro.
Estamos numa situação curiosa
em que o presidente dos EUA,
George W. Bush, poderá estar fomentando uma reação islâmica
extremista. Se você analisa a ideologia de Osama bin Laden [líder
da rede Al Qaeda, responsável pelos atentados de 11 de setembro],
ela se sustenta na idéia de que os
EUA são uma potência global beligerante que força seu caminho
mundo afora. Quanto mais os
EUA agirem dessa maneira, mais
crescerá o apoio ao extremismo.
Embora de forma não intencional, os EUA estão dando credibilidade a Osama bin Laden.
Folha - Não é intencional, mas o
governo dos EUA está bem ciente
de que isso aconteceria.
Juergensmeyer - É verdade. Pessoas como eu, que estudam o extremismo muçulmano, alertaram
sobre essa possibilidade. O apelo
ao "jihad" terá maior ou menor
eco dependendo da duração da
guerra e do que acontecerá depois. Se os EUA transferirem a tarefa de estabilizar o Iraque a uma
força de paz da ONU e estruturarem uma administração civil iraquiana o mais rápido possível, as
chances de que ocorra diminuem.
Folha - Assim como Saddam,
Bush também cita Deus em seus
pronunciamentos sobre a guerra.
Que análise o sr. faz da conotação
religiosa do conflito entre os dois?
Juergensmeyer - Foi uma grande
surpresa para mim a resposta do
governo dos EUA após o 11 de setembro. Antes, os EUA viam os
ataques terroristas islâmicos como criminosos, mas não como
atos de guerra cometidos por uma
rede terrorista global poderosa.
Mas o mais perturbador é que os
EUA passaram a adotar uma retórica similar à de Bin Laden. Bush
dividiu o mundo em termos absolutos -preto e branco, bem e
mal, verdade e escuridão. Essa é a
visão da Al Qaeda do mundo, e é
muito perturbador ver os EUA
adotarem essa lógica. Espero que
essa lição seja aprendida.
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