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Mídia iraquiana é mais madura que americana, diz editor da Al Jazeera
FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO
Desde o início da guerra, a disputa pela opinião pública mundial entre o presidente George W.
Bush e o ditador Saddam Hussein
tem sido quase tão importante
quanto as batalhas.
No centro desse conflito está a
rede de TV estatal Al Jazeera, do
Qatar. Responsável pela transmissão de imagens de civis iraquianos mortos, prisioneiros de
guerra e corpos de soldados americanos, a emissora mudou a imagem da guerra, principalmente se
comparada com a Guerra do Golfo (1991), marcada pelas imagens
de luzes verdes nos céus de Bagdá.
A audiência se multiplica junto
com seus problemas. Ontem, dois
jornalistas da emissora foram
proibidos de transmitir da capital
por ordem do governo iraquiano.
No dia anterior, o hotel de onde a
emissora transmitia em Basra, no
sul do Iraque, fora atacado por
mísseis americanos.
Em entrevista à Folha, Abdulaziz al Mahmoud, 42, editor-chefe
do site Aljazeera.net (cuja versão
em inglês está fora do ar após ser
atacada por hackers), disse que
sua empresa é independente e que
a mídia iraquiana é mais "estável
e madura" do que a americana. A
seguir, trechos da entrevista feita
por telefone a partir do Qatar.
Folha - O site em inglês da Al Jazeera ficou no ar durante apenas
um dia. Um de seus editores acusou
o Pentágono pelo ataque. Há alguma evidência disso?
Abdulaziz al Mahmoud - Não, ele
não deveria ter afirmado aquilo.
Não há nenhuma evidência de
quem atacou o nosso site.
Folha - Bush e o premiê Tony Blair
reclamaram da cobertura da Al Jazeera. De que forma essas pressões
afetam o trabalho diário?
Al Mahmoud - Estamos sob uma
enorme pressão, mas a política da
Al Jazeera é mostrar a guerra de
ambos os lados. Mostramos prisioneiros de guerra iraquianos
sendo maltratados por soldados
britânicos, corpos mutilados de
crianças, mas também mostramos o outro lado da guerra, até
mesmo prisioneiros de guerra e
soldados americanos mortos.
Folha - Muitos analistas ocidentais consideram que os EUA estão
perdendo a "guerra da propaganda" contra o Iraque e que a Al Jazeera tem um papel fundamental
nisso. O sr. concorda?
Al Mahmoud - Eu entendo esse
ponto de vista. No início do conflito, eles disseram que havia um
levante em Basra. Nosso correspondente na cidade entrevistou
várias pessoas, andou pelas ruas e
não encontrou nada contra Saddam Hussein. Isso mostra que
eles mentem.
Folha - Ao se contrapor à estratégia americana, o sr. concorda que
isso favorece o Iraque?
Al Mahmoud - Não, se o Iraque
mentir, nós mostraremos. Se o
Iraque disser que os EUA estão a
100 km de Bagdá, mas estiverem a
50 km, nós mostraremos isso.
Folha - Como o sr. analisa a cobertura da mídia americana?
Al Mahmoud - O patriotismo está
em alta nos EUA, veja o que aconteceu com Peter Arnett, despedido depois de conceder entrevista
à TV iraquiana, que não é nenhuma área proibida. Se alguém é entrevistado pela CNN ou BBC,
também é expulso pelo governo
iraquiano? Nesta guerra, a mídia
iraquiana está mais estável e madura do que a mídia americana.
Folha - A Al Jazeera pertence ao
governo do Qatar, que apóia os
EUA. Como é a relação entre a emissora e o governo?
Al Mahmoud - O governo não interfere na emissora, pois sabe que
o sucesso da Al Jazeera vem disso.
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