São Paulo, segunda-feira, 04 de abril de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

João Paulo 2º deve ser seguido, diz d. Eugenio

JANAINA LAGE
DA FOLHA ONLINE, NO RIO

O arcebispo emérito do Rio, d. Eugenio Salles, afirmou ontem esperar que o novo papa siga o caminho de João Paulo 2º.
Sem descartar a hipótese de um sucessor de perfil mais liberal, d. Eugenio defendeu que o mais importante na escolha de um sucessor é o zelo pelos ensinamentos de Jesus Cristo.
D. Eugenio participou dos conclaves que elegeram João Paulo 1º e João Paulo 2º. Aos 84 anos, pretende viajar na terça-feira para o Vaticano a fim de acompanhar o sepultamento do papa João Paulo 2º. O arcebispo emérito, no entanto, não votará, pois a idade limite é de 80 anos.
Mesmo sem direito a voto, D. Eugenio afirma que o novo papa será guiado pelo Espírito Santo. "Creio que o novo papa vá ser fiel a Jesus Cristo e, se for fiel a Jesus Cristo, continuará o caminho de João Paulo 2º", disse.
O arcebispo emérito destacou a fidelidade à doutrina de Cristo e à doutrina social da igreja, com o combate à pobreza e a miséria, como os aspectos mais marcantes do papado de João Paulo 2º.
Apesar das diferentes correntes de pensamento que existem hoje na igreja, d. Eugenio afirmou que não cabe ao papa fazer transformações radicais nos procedimentos. "Sinto que a igreja não é um supermercado, onde quem vai escolhe o que quer e a integra. O papa faz adaptações naquilo que não é essencial à igreja para responder ao momento do tempo, mas contanto que isso seja fiel à igreja", afirmou.
D. Eugenio sempre teve uma relação muito próxima com João Paulo 2º. O papa ficou hospedado em sua residência no Sumaré em duas das visitas ao Brasil, em 1980 e em 1997. O arcebispo disse ter recebido a notícia da morte de João Paulo 2º como a perda de um familiar. "Foi como quando se perde um pai, um irmão. É um sentimento muito similar a esse."
O reconhecimento da luta pela paz de João Paulo 2º foi verificado nas preces de muçulmanos e judeus, segundo d. Eugenio.
"Com a idade que tenho hoje, nunca vi nada que se assemelhasse a isso que ocorreu no mundo inteiro. Não vi uma voz discordante", disse.
D. Eugenio afirmou que cabe a todos os católicos a tarefa de apoiar a memória de João Paulo 2º e de agradecer pelos 27 anos de seu papado, que trouxeram benefícios à igreja.
"Acho importante que as pessoas se manifestem como são. Certamente, passado esse período extraordinário, virão vários que, como já acusaram antes, voltarão a acusar novamente o papa."
Sem citar nominalmente o teólogo Leonardo Boff, d. Eugenio mencionou o caso de uma pessoa que foi proibida de falar pelo papa. "Ele passou para todos os efeitos que foi chamado e amordaçado. Não foi amordaçado porque devem sair dos lábios de um padre palavras que são de Jesus Cristo, e não propriamente palavras que são de [Karl] Marx", disse, em referência ao silêncio obsequioso que a Cúria Romana impôs a Boff em 1984 e 1992.


Texto Anterior: A morte do papa: D. Cláudio dá largada do debate sucessório
Próximo Texto: Roleta papal: Arcebispo de Milão é favorito em apostas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.