São Paulo, terça-feira, 04 de abril de 2006

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GUERRA SEM LIMITES

Juíza decide pena a partir de quinta; para jurados, mentiras do terrorista causaram mortes no 11 de Setembro

Júri diz que Moussaoui pode ser executado

DA REDAÇÃO

Após quatro dias de discussão, o júri federal que atua no caso de Zacarias Moussaoui declarou que o terrorista confesso preso em 2001 é passível de receber a pena de morte. A próxima fase do processo, que começa nesta quinta, consiste na definição da sentença.
Desde quarta-feira passada, o júri tentava decidir por unanimidade se o fato de Moussaoui ter mentido a seus interrogadores no mês anterior ao 11 de Setembro levou ou não à morte de pelo menos uma pessoa nos ataques, requisito para que pudesse receber a pena capital. Os seis homens e três mulheres decidiram que sim.
Se o consenso fosse o contrário, a sentença seria a prisão perpétua.
O advogado de defesa levantou-se para ouvir a leitura do veredicto pela juíza Leonie Brinkema. Já Moussaoui, 37, ficou sentado, rezando silenciosamente. "Vocês jamais terão meu sangue. Que Deus amaldiçoe todos vocês", vociferou o réu depois do anúncio.
O francês de origem marroquina foi preso em agosto de 2001, quando fazia um curso de pilotagem de aviões. Na época, ele negou qualquer envolvimento com a Al Qaeda. Em abril passado, Moussaoui confessou sua intenção terrorista, e, neste ano, revelou que seu papel no atentado seria jogar um avião contra a Casa Branca.
A Promotoria pediu a pena de morte alegando que, se Moussaoui não tivesse mentido, o 11 de Setembro poderia ter sido -pelo menos parcialmente- evitado, e vidas teriam sido salvas.
Além de concordarem que o terrorista tem responsabilidade nas mortes, os jurados responderam positivamente às três acusações que pesam sobre ele: conspiração para cometer terrorismo internacional, para destruir aeronaves e para usar armas de destruição em massa.
O único esclarecimento pedido pelos jurados durante suas reuniões de deliberação foi a definição de "arma de destruição em massa". Eles foram informados pelas autoridades que o uso de um avião como míssil -como foi feito no 11 de Setembro e como Moussaoui disse que planejava fazer também- configura uma arma de destruição em massa.
Os ataques orquestrados pela Al Qaeda em 11 de setembro de 2001 envolveram quatro aviões seqüestrados, que atingiram as torres do World Trade Center, em Nova York, e o Pentágono, na Virgínia. O quarto avião caiu em um campo na Pensilvânia. Quase 3.000 pessoas morreram nos ataques.

Novos testemunhos
Para determinar a pena para Moussaoui -prisão perpétua ou morte-, o júri assistirá a novos testemunhos, inclusive de parentes de vítimas do 11 de Setembro.
Os advogados de defesa determinados pela corte, os quais Moussaoui quis rejeitar, trarão especialistas para sugerir que ele sofre de esquizofrenia agravada por uma infância pobre, durante a qual ele foi vítima de racismo na França devido a sua ascendência marroquina.
Moussaoui, no entanto, além de se declarar culpado e revelar, ele mesmo, a intenção de atacar a Casa Branca, já declarou que prefere morrer a passar o resto da vida preso. A juíza Brinkema chegou a autorizar que uma gravação sigilosa, em que o réu oferece sua confissão à Promotoria para assegurar a pena de morte, fosse mostrada ao júri.
A revelação de informações sigilosas a testemunhas quase causou prejuízos à Promotoria. Quando Carla Martin, advogada da Administração de Segurança no Transporte, utilizou ilegalmente depoimentos com a intenção de dirigir as novas testemunhas, o caso correu o risco de ser desqualificado -o que impediria a aplicação da pena capital contra o terrorista.
Moussaoui é o único terrorista julgado por envolvimento nos atentados do 11 de Setembro.
Hamilton Peterson, que perdeu o pai e a madrasta no avião que caiu na Pensilvânia, esperou o veredicto diante do tribunal. "Sou grato ao júri por tomar essa decisão e sinto-me confiante, à luz do testemunho do próprio Moussaoui, de que é a decisão correta".


Com agências internacionais

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