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Supremo dá vitória a Bush sobre terror
IURI DANTAS
DE WASHINGTON
A Suprema Corte dos EUA evitou ontem uma decisão polêmica
sobre o direito do governo de
manter suspeitos de terrorismo
em prisões militares sem julgamento ao rejeitar o recurso do
americano Jose Padilla, detido
desde junho de 2002 sob acusação
de planejar um atentado usando
uma "bomba suja" radioativa.
Após manter Padilla por três
anos e meio em uma solitária na
brigada militar da Carolina do
Sul, a Casa Branca determinou
sua transferência para uma prisão
federal, de onde responderá a
processo judicial. Como o recurso
fora feito antes da transferência,
uma maioria de seis juízes da Suprema Corte -dois deles nomeados por George W. Bush- decidiu não avaliar a apelação.
Três juízes que discordaram da
conclusão manifestaram-se publicamente a respeito do caso, algo raro nos EUA. Como a questão
envolve um cidadão americano e
o uso de poderes excepcionais pelo presidente, o processo é visto
por muitos como um marco a ser
definido pelo Judiciário.
"Apesar de o governo ter apresentado recentemente acusações
contra Padilla em uma corte civil,
nada pode evitar que o Executivo
retorne ao caminho que antes
construiu e defendeu", anotou
Ruth Ginsberg, uma dos dissonantes na Suprema Corte.
A prisão de Padilla, capturado
no aeroporto de Chicago quando
voltava de uma viagem ao Paquistão, assemelha-se ao método usado com os prisioneiros mantidos
na base militar americana em
Guantánamo (Cuba). A Suprema
Corte também avalia hoje um recurso de detentos sobre a aplicabilidade de comissões militares,
uma espécie de tribunal, aos detentos de Guantánamo. A decisão
deve sair nos próximos dias.
A maior diferença entre os presos de Guantánamo e Padilla é o
fato de o último ter nascido no
país. O governo justifica a detenção dos "combatentes inimigos"
em prisões militares dizendo que
os EUA estão em guerra -a
"guerra ao terrorismo" iniciada
por Bush após o 11 de Setembro.
Organizações de direitos humanos e a ONU questionam essa
classificação, na qual o governo
americano se ampara para não
conceder direitos previstos pela
Convenção de Genebra sobre prisioneiros de guerra. Apesar de indícios em contrário, o governo insiste em que trata todos os detentos de maneira "humana".
Acesso a advogados
Como "combatentes inimigos"
os prisioneiros não têm direito a
advogado, as comunicações com
o mundo exterior são vistoriadas
pelos militares, e as regras de encarceramento, duríssimas. Padilla
só pode ter acesso a aconselhamento jurídico após um ano detido. A Suprema Corte já reiterou
seu direito a um advogado.
Ontem, Andrew Patel, um dos
advogados de Padilla, considerou
positiva a decisão da Suprema
Corte. "Acredito haver uma mensagem mostrando que, se o governo tentar isso de novo, não levará
mais quatro anos para que [os juízes] endireitem a situação."
Revisão das convenções
O secretário da Defesa britânico, John Reid, pediu ontem a revisão das Convenções de Genebra,
firmadas em 1949, e disse que as
regras internacionais de combate
devem ser atualizadas para refletir
a ameaça do terrorismo global.
Ele não especificou quais mudanças gostaria de ver, mas disse
que a possibilidade de grupos e
países desenvolverem armas de
destruição em massa levanta perguntas sobre a legalidade de ataques preventivos.
Com agências internacionais
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