São Paulo, sábado, 04 de abril de 2009

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Obama muda tom, mas cobra europeus

Em cúpula da Otan, americano exige mais compromisso de aliados e afirma que ameaça terrorista não sumiu com sua chegada à Casa Branca

Aliança militar ocidental, que completa hoje 60 anos, adia, ante impasse com a Turquia por conta de charge, escolha de secretário-geral


Charles Dhaparak/Associated Press
Obama fala a jovens em Estrasburgo, que com a alemã Baden-Baden sedia a cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A ESTRASBURGO

Numa clara mudança de tom em relação a seu antecessor, o presidente americano, Barack Obama, estendeu a mão ontem aos europeus, admitiu que seu país agiu com arrogância nos últimos anos e reconheceu que o papel dos EUA no mundo está em transformação -menos líder, mais parceiro.
As afirmações marcam um recomeço nas relações transatlânticas após os oitos anos de turbulências com George W. Bush na Casa Branca. E ganharam um simbolismo especial por terem sido feitas na fronteira entre França e Alemanha, na véspera do aniversário da Otan, a aliança militar ocidental que conteve o avanço soviético e hoje completa 60 anos.
Mas em sua primeira viagem ao continente como presidente, Obama também cobrou da Europa mais compromisso na resolução dos desafios globais, sobretudo na luta contra o terrorismo. Um dia após sua bem-sucedida estreia internacional, na reunião do G20, em Londres, ele alertou que é ingenuidade achar que a mudança no governo americano reduziu o perigo do terrorismo islâmico.
"É importante que a Europa entenda que mesmo com a minha chegada à Presidência e a saída do presidente Bush, a Al Qaeda continua sendo uma ameaça", disse ele a jovens em Estrasburgo (França).
Obama parecia apreciar cada minuto de sua lua-de-mel com os europeus. Em meio a uma atmosfera extremamente receptiva, que se estendeu do abraço caloroso do presidente francês, Nicolas Sarkozy, à fileira de crianças com bandeiras americanas nas ruas de Estrasburgo e da vizinha Baden-Baden, a cidade alemã que cossedia a cúpula anual da Otan, Obama estava à vontade.

Afeganistão
O presidente americano aproveitou o clima positivo para tocar no assunto mais premente desta cúpula, a guerra no Afeganistão. Na semana passada, Obama anunciou uma nova estratégia de combate à Al Qaeda e ao Taleban, com o envio de mais soldados.
Mas os EUA vem enfrentando resistência dos aliados europeus em fazer o mesmo. O presidente americano reiterou ontem o elo entre o conflito e o terror que ameaça o mundo inteiro, sobretudo a Europa.
"Eu entendo que haja dúvidas na Europa sobre esta guerra", disse. "Mas sei de uma coisa: os EUA não escolheram lutar a guerra no Afeganistão. Nós sofremos um ataque da Al Qaeda, que matou milhares em solo americano, incluindo franceses e alemães".
Em seguida, advertiu que os terroristas continuam atuando na fronteira entre Afeganistão e Paquistão. "Se houver outro atentado, o mais provável é que ele ocorra aqui na Europa, devido às proximidade."
Ao falar da deterioração nas relações transatlânticas nos últimos anos, admitiu a culpa dos EUA, que por vezes agiram com "arrogância". Mas também criticou o "antiamericanismo" que impediu os europeus de verem ações positivas do país.
Questionado por um jovem da plateia em Estrasburgo sobre qual é o plano dos EUA para a nova estratégia que a Otan apresentará hoje, Obama deu uma demonstração de humildade que indica uma possível mudança do papel que vê para os EUA, em uma era de crise econômica e menos recursos.
"Não temos um grande plano", disse Obama. "Não queremos ser os líderes da Otan, mas mais um dos seus membros."

Sucessão e charges
Outra questão que ficou para hoje e está provocando controvérsia é a escolha do sucessor do secretário-geral da Otan, Jaap de Hoop-Scheffer, cujo mandato termina em julho. O favorito para substituí-lo era o premiê da Dinamarca, Anders Fogh Rasmussen, mas a Turquia se opõe a ele.
Único país muçulmano da Otan e segundo maior Exército da aliança, a Turquia rejeita Rasmussen em retaliação a seu comportamento no episódio das charges publicadas em 2005 por um jornal dinamarquês, que ironizavam o profeta Maomé. Na época, o premiê se negou a pedir desculpas, mesmo depois que o incidente deflagrou uma onda de protestos em países islâmicos.


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