São Paulo, sábado, 04 de abril de 2009

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Jornalista é alvo de investigação chavista

Teodoro Petkoff, ex-candidato presidencial, é acusado na Assembleia de não ter declarado bens herdados da mãe, morta há 35 anos

Para diretor de jornal, ação é parte da "ofensiva geral" de Chávez contra a oposição; general diz que sua prisão foi ordenada por presidente


FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

O ex-candidato presidencial Teodoro Petkoff é o mais novo líder opositor sob investigação, por suspeita de não ter declarado bens herdados de sua mãe, morta há 35 anos. A lista da antichavistas com problemas na Justiça inclui o prefeito de Maracaibo, Manuel Rosales, que ontem pediu licença do cargo por 90 dias, e o general dissidente Raúl Baduel, transferido a um presídio militar, entre outros adversários do presidente Hugo Chávez.
Anteontem, a Comissão de Finanças da Assembleia Nacional, controlada pelo chavismo, aprovou um pedido da deputada Iris Varela para investigar o imposto de renda de Petkoff, atualmente diretor do jornal oposicionista "Tal Cual", um tabloide que imprime 25 mil exemplares diários e cuja capa é quase sempre ocupada por editoriais contra Chávez.
Varela acusa Petkoff e um irmão dele de não terem declarado os bens herdados de sua mãe, morta no ano de 1974.
"Por meio de seu diário, [Petkoff] faz juízos e desqualifica muitas pessoas, principalmente o seu alvo favorito: o presidente Chávez. Mas aqui há provas da qualidade moral e ética desse senhor", disse Varela, conhecida na Venezuela por ter invadido um estúdio para agredir a tapas e ao vivo um apresentador de TV.
"Essa denúncia já foi feita há uns quatro, cinco anos e não deu em nada, não estou preocupado", disse Petkoff à Folha. Ele atribui a investigação parlamentar à "ofensiva geral" de Chávez contra a oposição.
Ontem, o ex-ministro da Defesa Raúl Baduel, preso na véspera, compareceu a um tribunal militar, que determinou sua transferência ao presídio Ramo Verde, na região metropolitana de Caracas.
À rádio Unión, Baduel disse que sua prisão foi uma "ordem" de Chávez, que "utiliza como mercenários tanto a Justiça quanto os diferentes Poderes para amedrontar".
Um antigo aliado de Chávez, Baduel é acusado de desviar até R$ 11,4 milhões quando era ministro da Defesa, cargo que deixou em meados de 2007 -pouco depois, rompeu politicamente com o presidente.
Outro que virou alvo de investigação fiscal é o governador oposicionista de Miranda (região metropolitana de Caracas), Henrique Capriles, que recebeu uma carta da Receita notificando que sua declaração do ano passado será "revisada".
A lista tem ainda o governador de Táchira, César Pérez Vivas. O Tribunal Superior de Justiça (TSJ) recebeu recentemente um pedido de investigação do chavismo por suposta fraude cometida nas eleições de novembro.
Além dos processos judiciais, a oposição, que hoje governa os centros mais importantes do país, vem sofrendo com uma onda de transferência de instalações e instituições ao governo nacional, como escolas, hospitais e, mais recentemente três importantes portos.
Anteontem, a Assembleia aprovou em primeira votação um projeto de lei que cria um governador para Caracas nomeado por Chávez, a quem caberá a administrar os recursos federais para a capital do país. A medida deve retirar a maior parte das atribuições do governo distrital, liderada pelo oposicionista Antonio Ledezma.

Pedido de afastamento
Já o prefeito da segunda cidade do país, Manuel Rosales, completou ontem o seu quarto dia "escondido", alegando perseguição política. Uma audiência judicial marcada para o próximo dia 20 decidirá sobre um pedido do Ministério Público para que seja preso, também num processo de corrupção.
No final da tarde, o presidente da Câmara Municipal de Maracaibo anunciou ter aprovado um pedido de Rosales para se licenciar do cargo por 90 dias.
"Chávez está usando a mais pura tática hitleriana", disse Petkoff, tido como um dos críticos mais moderados do governo. "Primeiro, prende o inimigo político para depois inventar um crime para puni-lo. É assim com Rosales e com Baduel."


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