São Paulo, domingo, 04 de maio de 2008

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Regionalismo marca líderes do referendo

Empresários, governador e presidente do Comitê Cívico de Santa Cruz não têm visão política nacional, diz analista

Associação que reúne elite econômica é berço de Costas e do radical Marinkovic, que impulsionam autonomia contra governo de Morales


DO ENVIADO ESPECIAL A SANTA CRUZ DE LA SIERRA

O referendo de Santa Cruz transformou o governador Rubén Costas e o empresário Branko Marinkovic nas principais referências da oposição boliviana, deixando para trás lideranças como o ex-presidente Jorge "Tuto" Quiroga, segundo colocado nas eleições presidenciais de 2005.
Aliados políticos, os dois têm em comum a associação com o Comitê Cívico Pró-Santa Cruz, entidade criada em 1950 e que reúne a elite econômica do departamento mais rico do país. De forte acento regionalista, um dos seus objetivos é "inserir valores cruzenhos na educação" e "incentivar a disciplina do cruzenho com respeito ao cumprimento de sua palavra, da pontualidade, da sinceridade e da confiabilidade".
Em 2005, Costas deixou a presidência do comitê para se tornar o primeiro governador eleito da história de Santa Cruz -até então, o cargo era nomeado pelo governo nacional. Com a campanha montada em torno da bandeira da autonomia e forte apoio empresarial, obteve 47,8% dos votos.
Agrônomo de formação, Costas, 52, é ligado aos grandes fazendeiros da região. Plantador de cana, já foi dirigente da Confederação dos Pecuaristas da Bolívia, da Associação de Produtores de Leite e da Câmara Agropecuária do Oriente.
À frente do Comitê Pró-Santa Cruz desde o ano passado, o empresário Marinkovic, 40, de origem croata, é considerado um dos homens mais ricos da região. Seus principais negócios são a fábrica de óleo comestível IOL e uma participação no banco Econômico.
De discurso inflamado, Marinkovic costuma chamar o presidente Evo Morales de "fantoche" de Hugo Chávez e disse no mês passado que não aceitaria uma mediação internacional com a presença do Brasil, a quem chamou de "amigo do MAS [partido governista], e não da Bolívia".
Para o analista político Fernando Mayorga, a escolha de Marinkovic para presidir o comitê "é resultado da polarização política" do país.
Mayorga avalia que tanto Costas como Marinkovic têm posições sobretudo regionalistas e refletem a fragmentação e a divisão da oposição a Morales. "Nos dois casos, não temos uma proposta de caráter nacional, eles não olham a reforma do Estado de forma integral, mas apenas como uma reação de Santa Cruz ao centralismo. Por isso, suas perspectivas políticas são limitadas."
De acordo com o analista, não há como saber qual dos cargos ocupados por Costas e Marinkovic tem mais peso em Santa Cruz. "Mas é difícil pensar num governador que tenha inimizade com o comitê." (FM)


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