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Regionalismo marca líderes do referendo
Empresários, governador e presidente do Comitê Cívico de Santa Cruz não têm visão política nacional, diz analista
Associação que reúne elite econômica é berço de Costas e do radical Marinkovic, que impulsionam autonomia contra governo de Morales
DO ENVIADO ESPECIAL A SANTA CRUZ DE
LA SIERRA
O referendo de Santa Cruz
transformou o governador Rubén Costas e o empresário
Branko Marinkovic nas principais referências da oposição
boliviana, deixando para trás lideranças como o ex-presidente
Jorge "Tuto" Quiroga, segundo
colocado nas eleições presidenciais de 2005.
Aliados políticos, os dois têm
em comum a associação com o
Comitê Cívico Pró-Santa Cruz,
entidade criada em 1950 e que
reúne a elite econômica do departamento mais rico do país.
De forte acento regionalista,
um dos seus objetivos é "inserir
valores cruzenhos na educação" e "incentivar a disciplina
do cruzenho com respeito ao
cumprimento de sua palavra,
da pontualidade, da sinceridade e da confiabilidade".
Em 2005, Costas deixou a
presidência do comitê para se
tornar o primeiro governador
eleito da história de Santa Cruz
-até então, o cargo era nomeado pelo governo nacional. Com
a campanha montada em torno
da bandeira da autonomia e
forte apoio empresarial, obteve
47,8% dos votos.
Agrônomo de formação, Costas, 52, é ligado aos grandes fazendeiros da região. Plantador
de cana, já foi dirigente da Confederação dos Pecuaristas da
Bolívia, da Associação de Produtores de Leite e da Câmara
Agropecuária do Oriente.
À frente do Comitê Pró-Santa Cruz desde o ano passado, o
empresário Marinkovic, 40, de
origem croata, é considerado
um dos homens mais ricos da
região. Seus principais negócios são a fábrica de óleo comestível IOL e uma participação no banco Econômico.
De discurso inflamado, Marinkovic costuma chamar o
presidente Evo Morales de
"fantoche" de Hugo Chávez e
disse no mês passado que não
aceitaria uma mediação internacional com a presença do
Brasil, a quem chamou de "amigo do MAS [partido governista], e não da Bolívia".
Para o analista político Fernando Mayorga, a escolha de
Marinkovic para presidir o comitê "é resultado da polarização política" do país.
Mayorga avalia que tanto
Costas como Marinkovic têm
posições sobretudo regionalistas e refletem a fragmentação e
a divisão da oposição a Morales.
"Nos dois casos, não temos
uma proposta de caráter nacional, eles não olham a reforma
do Estado de forma integral,
mas apenas como uma reação
de Santa Cruz ao centralismo.
Por isso, suas perspectivas políticas são limitadas."
De acordo com o analista,
não há como saber qual dos cargos ocupados por Costas e Marinkovic tem mais peso em
Santa Cruz. "Mas é difícil pensar num governador que tenha
inimizade com o comitê."
(FM)
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