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ÁSIA
Pequim aplica forte esquema de segurança e busca impedir protestos para marcar os 15 anos dos distúrbios de Tiananmen
China reprime aniversário de massacre
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
A China terá hoje, dia do 15º aniversário do massacre da praça
Tiananmen (Paz Celestial), um
forte esquema de segurança em
torno do local para impedir manifestações populares. Há algumas
semanas, o país vem mantendo
dissidentes que tiveram envolvimento com os protestos pró-democracia (estudantes, líderes sindicais, acadêmicos etc.) sob um
programa de "liberdade controlada" para evitar novos protestos.
Na noite do dia 3 para o dia 4 de
junho de 1989, o Exército chinês
levou tanques às ruas do centro de
Pequim e matou centenas de pessoas que participavam ou só assistiam a protestos pró-democracia.
Na última terça-feira, Liu Jianchao, porta-voz da Chancelaria
chinesa, defendeu a ação do governo, argumentando que ela garantira a manutenção da estabilidade e a prosperidade do país.
Liu disse que a ação do governo
"desempenhou um papel muito
importante na estabilização da situação, o que permitiu que a China desenvolvesse sua economia e
fizesse contribuições para a paz e
o desenvolvimento do mundo".
Desde 1989, Pequim acatou parte das exigências dos manifestantes, pondo fim a leis que estabeleciam onde as pessoas podiam
morar ou trabalhar. O crescimento econômico melhorou a vida de
milhões de chineses, e o governo
busca combater a corrupção.
Mesmo assim, inúmeros dissidentes foram postos em prisão
domiciliar nas últimas semanas, e
outros estão desaparecidos, segundo relatos de grupos de defesa
dos direitos humanos.
De acordo com analistas ouvidos pela Folha, a situação da liberdade de expressão melhorou
na China nos últimos 15 anos,
mas o país ainda tem um "longo
caminho a percorrer" nessa área.
"A imprensa está hoje inserida
num quadro quase competitivo,
no qual jornais pertencentes ao
governo ou ao Partido Comunista
Chinês competem para atrair leitores", analisou M. Taylor Fravel
especialista em China do Instituto
Olin de Estudos Estratégicos, da
Universidade Harvard (EUA).
"O PCC não permite críticas diretas ou abertas, porém apóia debates sobretudo nas esferas econômica e cultural. Por outro lado,
a mídia não é "livre", já que não
pode publicar tudo o que quer."
Em março passado, na sessão
anual do Congresso Nacional do
Povo, os deputados chineses decidiram colocar na Constituição o
respeito aos direitos humanos.
Segundo Sara Davis, pesquisadora da Human Rights Watch, todavia, isso não tem grande significado prático. "Infelizmente, a
Constituição chinesa é um documento vazio em muitos aspectos.
Por ora, a China não pretende implementar os direitos constitucionais relacionados à defesa dos direitos humanos", apontou Davis.
Para ela, "o peso econômico da
China cresceu bastante desde
1989, mas pouco mudou em relação ao respeito aos direitos humanos" no país desde o massacre.
A chegada do presidente Hu
Jintao e do premiê Wen Jiabao ao
poder, em 2003, gerou a expectativa de que o país pudesse escolher a via da abertura política, já
que a econômica teve início em
1978. Contudo o balanço até agora não é claro nesse aspecto.
"Os novos líderes parecem ser
mais abertos que os anteriores.
Porém eles também não querem
abrir mão do poder nem permitir
a existência de partidos de oposição, o que mostra que há limites.
No entanto o desenvolvimento da
economia privada mina bastante
sua influência. E o desejo oficial
de criar uma economia que opere
de acordo com o Estado de Direito poderá ser estendido para outras áreas", explicou Fravel.
Segundo o dissidente e defensor
dos direitos humanos chinês Yan
Dunzheng, 74, que vive nos EUA,
todavia, as mudanças autorizadas
pelos novos líderes são apenas
"cosméticas", não alterando o cotidiano dos chineses, que "permanecem sob o jugo do regime comunista". "Ainda há perseguições, prisões sem justificativa, julgamentos sumários etc."
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