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SAÚDE
Fabricantes de remédios como o Viagra estimulam consumo com prêmios
Farmacêuticas nos EUA têm "programa de milhagem"
PEDRO DIAS LEITE
DE NOVA YORK
Quanto mais você usa, mais benefícios você recebe. O que antes
era um slogan válido para programas de milhagem de companhias
aéreas agora chegou à indústria
farmacêutica norte-americana.
Medicamentos como o Viagra,
para disfunção erétil, e o Restylane, usado para preencher rugas e
vincos, lançaram cartões de fidelidade para seus usuários nos EUA,
que dão desde remédios de graça
a bônus de US$ 100 em spas.
No caso do Viagra, depois de se
inscrever pela internet ou por telefone, o usuário recebe "The Value Card for Viagra", uma espécie
de cartão de milhagem válido em
mais de 33 mil estabelecimentos
em todo o país. A cada seis caixinhas compradas, a sétima é de
graça.
O programa de fidelidade foi
lançado há pouco mais de um
ano. A Pfizer, fabricante do Viagra, não revela números de adesão ao "Value Card" nem quantas
pílulas já foram distribuídas de
graça, mas afirma estar satisfeita
com os resultados e que pretende
manter o projeto.
Já o Restylane lançou sua campanha no início de março. A distribuidora do medicamento
anunciou a medida como "o primeiro e único programa de lealdade do consumidor para um remédio cosmético". Aplicado em
injeções, o Restylane é usado para
o preenchimento de rugas e de
vincos de expressão.
O remédio foi lançado há menos de dois anos nos EUA, em dezembro de 2003, e, assim como o
Viagra, é vendido no Brasil.
A inscrição nesse programa é
feita exclusivamente pela internet, e o paciente precisa enviar as
caixinhas para o fabricante. A cada seis meses de tratamento, recebe prêmios, que variam de vales-compra de US$ 25 a bônus de US$
100 em spas.
A indústria farmacêutica norte-americana vivencia uma competição cada vez mais feroz entre os
fabricantes, que têm feito de tudo
para garantir seu lugar no mercado. Na TV, são comuns as ofertas
de amostras grátis pelo correio
(leia texto nesta página).
No início de março, a Pfizer foi
criticada por prever o lançamento
de uma promissora nova droga
contra o colesterol apenas em
conjunto com um outro remédio
seu já existente, o Lipitor, líder de
vendas. Como a patente do Lipitor vence em 2010, a venda casada
com o novo remédio, chamado
Torcetrapib e previsto para ser
lançado em 2007, prolongaria seu
sucesso comercial.
"É só mais uma venda"
"O que você aprende com tudo
isso é que a indústria farmacêutica utiliza qualquer método para
aumentar seus lucros. Da perspectiva delas, é só mais uma venda", afirmou à Folha David Rothman, 65, professor de medicina
social da Escola de Medicina da
Universidade Columbia (EUA).
Rothman, que esteve no Brasil
há um ano e meio para conhecer o
programa governamental de fabricação de remédios contra a
Aids, afirma que a tendência é que
os fabricantes e distribuidores utilizem estratégias cada vez mais
agressivas.
A FDA (agência governamental
que fiscaliza remédios e alimentos
nos EUA) informou que não tem
nenhum tipo de regra sobre os
"programas de milhagem" da indústria farmacêutica, nem sobre a
distribuição de amostras grátis de
remédios por correio. Suas atuais
regras dizem respeito, principalmente, à veracidade da publicidade dessas empresas. Por isso é comum que anúncios publicitários
gastem quase tanto tempo falando dos riscos que oferecem quanto dos possíveis benefícios.
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