São Paulo, sábado, 04 de junho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAÚDE

Fabricantes de remédios como o Viagra estimulam consumo com prêmios

Farmacêuticas nos EUA têm "programa de milhagem"

PEDRO DIAS LEITE
DE NOVA YORK

Quanto mais você usa, mais benefícios você recebe. O que antes era um slogan válido para programas de milhagem de companhias aéreas agora chegou à indústria farmacêutica norte-americana. Medicamentos como o Viagra, para disfunção erétil, e o Restylane, usado para preencher rugas e vincos, lançaram cartões de fidelidade para seus usuários nos EUA, que dão desde remédios de graça a bônus de US$ 100 em spas.
No caso do Viagra, depois de se inscrever pela internet ou por telefone, o usuário recebe "The Value Card for Viagra", uma espécie de cartão de milhagem válido em mais de 33 mil estabelecimentos em todo o país. A cada seis caixinhas compradas, a sétima é de graça.
O programa de fidelidade foi lançado há pouco mais de um ano. A Pfizer, fabricante do Viagra, não revela números de adesão ao "Value Card" nem quantas pílulas já foram distribuídas de graça, mas afirma estar satisfeita com os resultados e que pretende manter o projeto.
Já o Restylane lançou sua campanha no início de março. A distribuidora do medicamento anunciou a medida como "o primeiro e único programa de lealdade do consumidor para um remédio cosmético". Aplicado em injeções, o Restylane é usado para o preenchimento de rugas e de vincos de expressão.
O remédio foi lançado há menos de dois anos nos EUA, em dezembro de 2003, e, assim como o Viagra, é vendido no Brasil.
A inscrição nesse programa é feita exclusivamente pela internet, e o paciente precisa enviar as caixinhas para o fabricante. A cada seis meses de tratamento, recebe prêmios, que variam de vales-compra de US$ 25 a bônus de US$ 100 em spas.
A indústria farmacêutica norte-americana vivencia uma competição cada vez mais feroz entre os fabricantes, que têm feito de tudo para garantir seu lugar no mercado. Na TV, são comuns as ofertas de amostras grátis pelo correio (leia texto nesta página).
No início de março, a Pfizer foi criticada por prever o lançamento de uma promissora nova droga contra o colesterol apenas em conjunto com um outro remédio seu já existente, o Lipitor, líder de vendas. Como a patente do Lipitor vence em 2010, a venda casada com o novo remédio, chamado Torcetrapib e previsto para ser lançado em 2007, prolongaria seu sucesso comercial.

"É só mais uma venda"
"O que você aprende com tudo isso é que a indústria farmacêutica utiliza qualquer método para aumentar seus lucros. Da perspectiva delas, é só mais uma venda", afirmou à Folha David Rothman, 65, professor de medicina social da Escola de Medicina da Universidade Columbia (EUA).
Rothman, que esteve no Brasil há um ano e meio para conhecer o programa governamental de fabricação de remédios contra a Aids, afirma que a tendência é que os fabricantes e distribuidores utilizem estratégias cada vez mais agressivas.
A FDA (agência governamental que fiscaliza remédios e alimentos nos EUA) informou que não tem nenhum tipo de regra sobre os "programas de milhagem" da indústria farmacêutica, nem sobre a distribuição de amostras grátis de remédios por correio. Suas atuais regras dizem respeito, principalmente, à veracidade da publicidade dessas empresas. Por isso é comum que anúncios publicitários gastem quase tanto tempo falando dos riscos que oferecem quanto dos possíveis benefícios.


Texto Anterior: Preconceito: Agências de emprego nos EUA discriminam candidatos
Próximo Texto: Indústria muda alvo de anúncios
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.