São Paulo, quinta-feira, 04 de junho de 2009

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Europeus elegem deputados em meio à crise

Questões locais influenciarão na escolha de novos membros do Parlamento Europeu, cuja importância é vista com desdém

Hoje, Comissão e Conselho Europeus têm mais poder normativo dentro da UE; isso só mudará caso Tratado de Lisboa supere veto irlandês

JOÃO BATISTA NATALI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Em termos puramente numéricos, é um imenso evento democrático: 375 milhões de eleitores de 27 países estão aptos a eleger entre hoje e domingo 736 deputados ao Parlamento Europeu, para mandatos de cinco anos. Mas há alguns importantes senões.
Na eleição, que começa hoje por Holanda e Reino Unido, o voto só é obrigatório em Luxemburgo, Bélgica, Chipre e Grécia. Com o voto facultativo nos demais 23 membros da União Europeia, a abstenção, segundo institutos de pesquisas, será de 57% na Alemanha ou de 63% na França -dois países atingidos em cheio pela crise econômica internacional.
Isso explica o uso de recursos emocionais para baixar a abstenção. O site do Parlamento Europeu destacou durante a semana apelos de atletas e celebridades. Ontem foi a vez de Franck de Winne, astronauta belga que agora tripula uma estação orbital. De certo modo, a Europa e suas instituições não são necessariamente vistas como uma ferramenta para superar a crise.
Há também a percepção de que a União Europeia é bem mais um obstáculo do que uma solução aos problemas cotidianos dos cidadãos do continente. Na Itália, e é apenas um exemplo, o primeiro-ministro direitista Silvio Berlusconi culpa o euro pela inflação e associa as normas comunitárias sobre a imigração -a seu ver muito frouxas- à presença crescente de cidadãos ilegais, que seu governo associa ao aumento da criminalidade.
Existe, por fim, o fato de o Parlamento Europeu, mesmo sendo eleito há 30 anos pelo voto direto, não ser um Legislativo de verdade. Na atual hierarquia da União Europeia, ele perde em número de iniciativas legislativas para a Comissão Europeia, formada por 27 comissários nomeados; eles são mais ou menos como ministros. E perde para o Conselho Europeu, formado pelos presidentes e primeiros-ministros dos Estados-membros.
Essa norma seria modificada pelo Tratado de Lisboa, que ainda não vigora em razão do veto provisório da Irlanda. A partir do novo tratado, o Parlamento teria plena iniciativa legislativa, com poderes, por exemplo, de reformular as regras de convivência entre os Estados. Por enquanto, no entanto, esse Legislativo funciona como poderosa caixa de ressonância para a pressão de estimados 3.500 grupos (sobretudo de agricultores, ambientalistas ou interesses regionais) em Bruxelas ou Estrasburgo.
Nessas duas cidades, que abrigam as reuniões periódicas dos chamados eurodeputados, as sessões plenárias são verdadeiras torres de Babel. Cada um tem o direito de se expressar em seu próprio idioma. Há quase 500 tradutores nas cabines de tradução simultânea. Os líderes das bancadas (socialistas, liberais, verdes) sentam-se nas fileiras da frente e lideram as votações.
De certo modo, entretanto, as eleições de hoje têm pouco de europeias e funcionam bem mais como um termômetro da correlação de forças interna em cada país. Em Londres, a previsível superioridade dos conservadores pressiona o debilitado premiê trabalhista Gordon Brown.
Na Alemanha (99 deputados, a maior bancada, seguida da Itália, França e Reino Unido, com 72 cada um), a chanceler Angela Merkel e seus aliados (CDU-CSU) terão pelas pesquisas 39%, contra 26% para os sociais democratas. Há um cheiro de prévia para as eleições legislativas deste ano.
E, na França, o bloco ligado ao presidente Nicolas Sarkozy certamente vencerá, frente a uma esquerda em frangalhos.


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