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ANÁLISE
Acuado, Milosevic tenta agora se manter no poder
PHILIPPA FLETCHER
da "Reuters", em Belgrado
O presidente iugoslavo Slobodan Milosevic aceitou os termos da paz em Kosovo porque
não teve outra escolha.
A opinião é de analistas políticos para quem os mais de dois
meses de bombardeios da Otan
estavam ameaçando sua capacidade de manter-se no poder.
E é o desejo de conservar-se
no poder que atuou como força
motriz de todas as suas decisões políticas durante seus dez
anos no governo.
Mas a paz que parece estar
muito próxima encerra muitas
incertezas para o país. Ontem,
nova divergência veio dividir
os partidos políticos iugoslavos, que se uniram no repúdio
aos bombardeios da Otan.
A divergência foi manifestada pelo ultranacionalista Partido Radical, que fez oposição
acirrada ao plano de paz durante a sessão do Parlamento
que terminou por aceitá-lo.
Muitos temem que o governo
de Milosevic possa cair não por
causa do conflito de Kosovo,
mas num choque entre sérvios.
O vice-premiê Vojislav Seselj,
que representa um dos lados
possíveis nessa disputa, ameaçou abandonar o governo se
tropas da Otan forem autorizadas a entrar em Kosovo.
O principal bloco oposicionista pediu a realização de eleições na Sérvia após o término
do conflito.
O Partido Democrático, o
maior da oposição, disse que a
decisão de aceitar o plano de
paz chegou tarde demais."Essa
decisão deveria ter sido tomada
há muito tempo, antes da guerra começar."
Mas a mensagem passada pela imprensa estatal foi diferente. Um anúncio feito pelo Partido da Esquerda Unida (PEU),
liderado pela mulher de Milosevic, serviu de exemplo típico.
"O PEU vê como resultado
positivo da resistência o fato de
que Kosovo vai permanecer
parte da Iugoslávia e que uma
missão da ONU virá à Província para garantir a paz."
Milosevic, que concordou
com o plano submetido a Belgrado pelos enviados ocidental
e russo -sob a ameaça de uma
guerra terrestre e de seu indiciamento por um tribunal internacional- pode agora decidir que chegou o momento de
voltar-se ao Ocidente.
Um sinal de que ele escolheu
esse caminho poderia ser o retorno ao governo de Vuk Draskovic, o arqui-rival de Seselj,
demitido durante os bombardeios por criticar o regime.
O ex-líder oposicionista
Draskovic está interessado em
voltar à elite governante, e algumas fontes em Belgrado
acreditam que Milosevic poderá decidir que chegou a hora de
deixar Seselj de lado.
Mas é pouco provável que o
Ocidente ceda a gestos conciliatórios de Milosevic. A reação
ocidental à aceitação por Belgrado do acordo de paz também foi cautelosa, em função
do hábito que tem o líder iugoslavo de dar menos do que
promete.
A reação unificada iugoslava
aos ataques aéreos deveu-se ao
fato de que mesmo os adversários mais acirrados de Milosevic eram contra os ataques,
afirmando que a repressão política que os acompanharia faria a democracia retroceder
anos no país.
A República de Montenegro,
cujo governo é pró-ocidental,
teme que possa tornar-se a próxima vítima. "Faz parte da lógica de Milosevic, para conservar-se no poder, concluir uma
crise e dar início a outra", disse
o ministro da Justiça de Montenegro, Dragan Soc. "Depois de
Kosovo, tememos que chegue
nossa hora de sofrer."
Tradução de
Clara Allain
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