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São Paulo, sexta-feira, 04 de julho de 2003

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UNIÃO EUROPÉIA

Após cobrar pedido de desculpas, Schröder diz que premiê italiano se arrependeu do comentário da véspera

Berlusconi "lamenta" gafe sobre nazismo

Plinio Lepri/Associated Press
Berlusconi, durante evento da Associação Italiana de Comércio


DA REDAÇÃO

Pressionado pelo governo alemão e pela mídia européia, o premiê italiano, Silvio Berlusconi, lamentou ontem a repercussão de seu comentário da véspera no Parlamento Europeu, quando sugeriu a um deputado alemão que interpretasse o papel de um nazista em um filme. O chefe de governo italiano também telefonou ao chanceler (premiê) alemão, Gerhard Schröder, para comentar o episódio de Estrasburgo.
Nota oficial divulgada por seu gabinete informou que Berlusconi "lamentava o fato de alguém ter interpretado mal o significado de uma piada que só pretendia ser irônica".
Horas antes, Schröder cobrara publicamente um pedido de desculpas por parte de Berlusconi e definira a "piada" de seu colega italiano como "inapropriada e completamente inaceitável".
Após a conversa por telefone, Schröder disse que Berlusconi "se arrependera das expressões que usara e das comparações que fizera". "Disse a ele que, por mim, isso encerrava o assunto", observou o chanceler alemão.
Em tom diferente, a nota do gabinete italiano disse que "as graves ofensas sofridas" por Berlusconi foram o tema do telefonema.
No episódio de anteontem, Berlusconi foi criticado pelo deputado social-democrata alemão Martin Schulz devido ao conflito de interesses entre seu cargo público e seu domínio de grande parte da mídia italiana.
O premiê respondeu imediatamente, dizendo que Schulz "seria perfeito" para o papel de comandante de um campo de concentração nazista em um filme. A frase revoltou os parlamentares e forçou o encerramento do debate.
Ainda ontem, antes da divulgação do comunicado, Berlusconi acusou a oposição italiana de ter inspirado o episódio. Os principais líderes italianos de centro-esquerda haviam atacado o premiê, como alguns integrantes da base governista.
"Em vez de acusar os outros, Berlusconi deveria simplesmente assumir responsabilidade por suas observações irresponsáveis, que são uma ofensa à memória do Holocausto", afirmou Graham Watson, líder liberal-democrata.
O presidente da Comissão Européia, Romano Prodi, ex-premiê italiano e adversário político de Berlusconi, não comentou oficialmente o episódio. Mas, segundo o jornal francês "Libération", Prodi não escondia seu contentamento nos corredores do Parlamento Europeu em Estrasburgo (França). O porta-voz da Comissão Européia classificou o incidente de "muito sério", acrescentando que "toda a Comissão Européia preferia que nada tivesse ocorrido".

"Amadorismo"
Os jornais europeus destacaram, de forma crítica, as declarações do premiê em Estrasburgo. Para o "Corriere della Sera", Berlusconi demonstrou "amadorismo" como político. O diário "La Stampa" argumentou, em editorial, que o premiê "não deveria ter aberto caminho para essa polêmica venenosa e interminável" e concluiu: "Uma piada pode arruinar tudo".
Já o tablóide alemão "Bild" optou pela ironia, dizendo que "o Espaguete Berlusconi não vai conquistar o mundo". O também alemão "Frankfurter Allgemeine Zeitung" analisou que Berlusconi "terá dificuldades para completar o trabalho que tem pela frente na Europa, se os próximos meses forem marcados por ataques e campanhas de ódio".

Com agências internacionais


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