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ANÁLISE
"Estilo Berlusconi" não funciona na UE
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
O arrependimento expressado
pelo premiê italiano, Silvio Berlusconi, a seu colega alemão, Gerhard Schröder, por seu infausto
comentário sugerindo que um
eurodeputado social-democrata
alemão pudesse desempenhar o
papel de um nazista num campo
de concentração fictício atenua a
primeira crise da recém-inaugurada presidência italiana da UE
(União Européia), porém não dissipa os temores dos críticos -ou
nem tanto- do magnata italiano.
Não é nenhuma surpresa que o
caráter explosivo do premiê italiano gere crises diplomáticas. Em
2001, pouco depois do 11 de Setembro, ele declarou que o Ocidente deveria "ter consciência da superioridade" de sua civilização.
No início do mês passado, afirmou que a França tinha perdido
"uma boa oportunidade" de
manter-se calada em referência às
críticas que recebera por não ter-se reunido com líderes palestinos
durante uma visita a Israel.
Todavia ligar um político alemão ao nazismo, mesmo ironicamente, como disse o gabinete de
Berlusconi em nota divulgada ontem, é algo impensável na cena diplomática. Aliás, qualquer alusão
ao passado nazista da Alemanha
tem graves repercussões no país,
cuja população é hoje majoritariamente pacifista, segundo pesquisas realizadas anualmente.
Em setembro de 2002, a então
ministra da Justiça alemã, Herta
Däubler-Gmelin, comparou os
métodos de George W. Bush aos
de Adolf Hitler e perdeu seu lugar
no gabinete de Schröder.
Mas as maiores preocupações
referem-se aos críticos seis meses
em que a Itália presidirá a UE. Até
o final de 2003, todos os 25 atuais
ou futuros países-membros do
bloco deverão aprovar o projeto
de Constituição apresentado pela
Comissão sobre o Futuro da Europa durante a cúpula de Tessalônica, na Grécia, em junho.
Caberá, portanto, ao país que
responde pela presidência buscar
unir os europeus, visando um
consenso nada evidente em alguns casos, como o da reavaliação
do peso de cada Estado nas diversas instituições do bloco.
Ora, nesse contexto, o primeiro
discurso de Berlusconi foi um
péssimo presságio. Ademais, seu
obscuro pedido de desculpas, em
que diz que foi mal interpretado
pela audiência e ofendido pelo eurodeputado alemão Martin
Schulz, não melhora a situação.
Teme-se ainda que seu caráter
imprevisível e as trapalhadas por
ele provocadas possam ofuscar os
outros objetivos da presidência
italiana, como a retomada do
crescimento econômico, o controle da imigração ilegal e o fortalecimento da Política Externa e de
Segurança Comum (Pesc).
Por conta das graves divergências geradas pela Guerra do Iraque entre os 15 atuais membros
da UE, a Pesc está mais ameaçada
do que nunca. E a França, a Alemanha e a Bélgica já acenam com
a possibilidade de conceber uma
política externa comum que só seria aplicada aos três países.
Além disso, há o risco de Berlusconi levar à presidência européia
seu estilo de governo, privilegiando objetivos pessoais ou da Itália.
Vale lembrar que não se trata de
um posto em que os Estados devam buscar vantagens específicas.
Em tese, a meta de qualquer
presidência européia é fazer avançar o bloco. Neste momento crítico -antes de uma histórica expansão ao leste do continente-,
resta esperar que o susto inicial
sirva de lição ao premiê italiano.
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