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São Paulo, segunda-feira, 04 de agosto de 2003

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GUERRA AO TERROR

Representante da OEA afirma em Foz do Iguaçu que dinheiro da região "acaba chegando às mãos de terroristas"

Diplomata liga Tríplice Fronteira ao terror

DA AGÊNCIA FOLHA

O diplomata americano Steven Monblatt, secretário-executivo do Comitê Interamericano contra o Terrorismo da OEA (Organização dos Estados Americanos), disse ontem que a comunidade muçulmana da Tríplice Fronteira (Brasil, Argentina e Paraguai) ajuda, mesmo que indiretamente, a financiar grupos terroristas islâmicos no Oriente Médio.
"Não há dúvida de que, seja isso intencional ou não, dinheiro daqui acaba chegando às mãos de terroristas", disse Monblatt em Foz do Iguaçu (PR), onde participou no fim de semana de encontro com líderes árabes locais.
A comunidade árabe esperava que a presença do diplomata na região representasse um atestado de que a Tríplice Fronteira está fora da rota das atividades de grupos radicais do Oriente Médio.
Depois dos atentados do 11 de Setembro, a área foi relacionada pela CIA (serviço secreto norte-americano) como ponto de encontro para terroristas islâmicos, mas nenhuma prova concreta foi apresentada.
Monblatt, que já ocupou o cargo de subsecretário antiterrorismo do Departamento de Estado dos Estados Unidos na administração George W. Bush, afirmou que não há evidência de que a região abrigue campos de treinamento ou células terroristas. A ligação da Tríplice Fronteira com o terrorismo estaria, de acordo com ele, no financiamento -mesmo que indiretamente.
"Li reportagens sobre supostas células da [rede terrorista] Al Qaeda aqui, mas até o Departamento de Estado descarta essa possibilidade."

Lavagem de dinheiro
O diplomata recomendou à comunidade árabe de Foz do Iguaçu que tomasse precauções para que remessas de dinheiro enviadas a parentes, entidades beneficentes e organizações assistenciais e políticas de países do Oriente Médio não caíssem nas mãos de grupos terroristas.
Ele afirmou que "gente de boa-fé pode estar sendo usada" para financiar "terrorista ou outras atividades ilícitas" e sugeriu que se estabeleçam critérios mais rigorosos nos sistemas de doações. Defendeu ainda uma ação conjunta e permanente entre Brasil, Argentina e Paraguai na fiscalização de lavagem de dinheiro.
Para Monblatt, parte do dinheiro que sai da região -de US$ 10 bilhões a US$ 12 bilhões por ano, pelas estimativas de autoridades norte-americanas- está chegando a organizações classificadas como terroristas pelo Departamento de Estado dos EUA, como o libanês Hizbollah e o palestino Hamas.
Nos países árabes, o Hizbollah é visto como uma resistência contra a ocupação israelense. No Líbano, é um partido político que possui uma TV e faz ações sociais.
Ele disse que a imagem da Tríplice Fronteira no exterior não está associada ao terror. "Vocês estão mais preocupados com isso do que lá fora", afirmou. "Lá essas notícias não têm tanto impacto como têm aqui."
Monblatt chegou a Foz do Iguaçu na sexta-feira. No sábado, participou de jantar com representantes da comunidade árabe local. Hoje ele deve embarcar para o Rio de Janeiro.
O diplomata afirmou que sua viagem a Foz não foi feita em caráter oficial, mas para desfazer eventuais mal-entendidos sobre a visão norte-americana da suposta ligação entre a Tríplice Fronteira e grupos terroristas.


Com agências internacionais


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