São Paulo, quarta-feira, 04 de agosto de 2004

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GUERRA SEM LIMITES

Advogados americanos e britânicos dizem que detidos pelos EUA eram obrigados a praticar sodomia

Guantánamo tortura presos, diz relatório

DO "INDEPENDENT"

Prisioneiros de Guantánamo foram sujeitos a torturas e humilhações sexuais ao estilo do que foi cometido na prisão iraquiana de Abu Ghraib. Foram obrigados a ficar nus e a praticar sodomia uns com os outros e foram tratados com escárnio por soldadas americanas nuas. As informações estão em um relatório que acaba de vir a público. Alguns dos abusos foram captados em vídeo.
Baseado nos depoimentos de ex-prisioneiros, entre os quais três britânicos, o relatório traz detalhes sobre um regime brutal, mas orquestrado cuidadosamente, vigente no campo de prisioneiros dos EUA, regime no qual os abusos eram distribuídos com vistas a causar "impacto máximo". Os prisioneiros de formação muçulmana mais rígida eram os que tinham mais probabilidade de sofrer humilhações e abusos sexuais, enquanto os que já tinham tido contato com a cultura ocidental geralmente eram confinados em solitária e se tornavam alvos de maus-tratos físicos.
O relatório detalha como os presos ouviam sua religião ser tratada com escárnio. "Havia uma política clara de tentar forçar as pessoas a abandonar sua fé religiosa", diz um trecho do relatório. Incluindo depoimentos de médicos que examinaram os prisioneiros após sua libertação, o documento detalha como os prisioneiros recebiam injeções de drogas desconhecidas durante sessões de interrogatório e ouviam que só receberiam remédios se cooperassem.
Cinco prisioneiros britânicos foram libertados de Guantánamo em março, sem qualquer acusação, e soltos um dia depois pelas autoridades britânicas. Outros quatro britânicos permanecem na prisão dos EUA em Cuba, junto com quase 600 outros detidos. Consta que dois deles estariam sendo mantidos em solitária há mais de um ano.
O relatório que descreve esses abusos foi compilado por um grupo de advogados britânicos e americanos e será divulgado hoje, em Nova York, pelo Centro de Direitos Constitucionais. Investigadores estão estudando alegações de abusos cometidos contra grande número de prisioneiros iraquianos em Abu Ghraib, nos quais presos do sexo masculino foram abusados, torturados e sexualmente humilhados por seus guardas americanos. Os investigadores também estão estudando os fatos por trás da morte de uma série de prisioneiros sob custódia dos militares americanos.
Um fator que liga Guantánamo a Abu Ghraib é o general Geoffrey Miller, ex-comandante de Guantánamo que, em agosto do ano passado, deixou a base americana para assumir o comando da prisão perto de Bagdá. Consta que Miller teria dito a seus subordinados no Iraque que sua intenção era transformar Abu Ghraib num centro de coleta de inteligência e "guantanamizar" a operação.
Os incidentes descritos no novo relatório -que também alega que autoridades de inteligência britânicas estiveram envolvidos no interrogatório não apenas de prisioneiros britânicos, mas também de detidos vindos de diversos países, incluindo França, Bélgica, Dinamarca e Bósnia- são semelhantes a acusações feitas em outros veículos por prisioneiros já libertados.
No início da semana, o jornal francês ""Libération" detalhou as alegações de dois ex-prisioneiros franceses que contaram ter sofrido abusos físicos e sexuais. Eles disseram que seus captores urinaram sobre eles e lhes recusaram tratamento médico enquanto estiveram detidos. Nizar Sassi e Mourad Benchellali disseram que mulheres seminuas interrogavam detentos e que eram forçados a ver filmes pornográficos.
Outro ex-prisioneiro britânico afirmou ter sido interrogado por horas a fio enquanto era acorrentado a um anel de metal preso ao chão, como um cachorro. Em depoimento juramentado, Tarek Dergoul contou que foi espancado, amarrado "como um animal", pulverizado com um spray de pimenta e teve sua cabeça enfiada numa privada. Ele disse que a brutalidade foi filmada.
Dergoul, que é um dos britânicos libertados em março, contou que, durante os 22 meses que passou detido sem acusação, foi atacado repetidas vezes por um esquadrão de castigo conhecido como Força de Reação Extrema.
Os presos em Cuba são considerados pelos EUA "combatentes inimigos" e serão julgados por cortes militares. Em junho último, a Suprema Corte dos EUA determinou que eles têm direito a recorrer a tribunais americanos.


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