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Hospitais dos EUA mandam de volta imigrantes doentes
Sem documentos e sem seguro-saúde, eles são repatriados a países de origem
Instituições alegam que
são responsabilizadas pelo mau funcionamento dos sistemas de saúde e de imigração americanos
DEBORAH SONTAG
DO "NEW YORK TIMES"
Inconsciente em uma pequena casa no interior da Guatemala, Luis Alberto Jiménez, 35,
não tem idéia da batalha legal
que está sendo travada na Flórida por sua causa, colocando
em questão dois sistemas: o de
saúde e o de imigração.
Oito anos atrás, Jiménez, um
imigrante ilegal que trabalhava
como jardineiro em Stuart, na
Flórida, ficou seriamente ferido em uma acidente de carro
envolvendo um motorista norte-americano bêbado.
O hospital ao qual foi levado
salvou sua vida, mas, após fracassar em conseguir um centro
de reabilitação que aceitasse
um paciente não-segurado, o
Memorial Martin o manteve
por anos sob sua guarda, ao
custo de US$ 1,5 milhão.
O que ocorreu em seguida foi
uma batalha legal de repercussão nacional: Jiménez foi deportado -pelo próprio hospital. Ao custo de US$ 30 mil, o
Memorial Martin alugou um
avião-ambulância "e o devolveu à força a seu país natal", como descreve um dos administradores da instituição.
Desde então, quando foi levado em uma cadeira de rodas para Jolomcu, Jiménez, que sofreu danos cerebrais graves,
deixou de receber cuidados
médicos e remédios -só Alka-Seltzer e orações, diz sua mãe,
Petrona Gervacio Gaspar, 72.
No ano passado, sua saúde se
deteriorou, passando a sofrer
de ataques súbitos seguidos de
quedas e convulsões, vômitos
de sangue e, enfim, um colapso
que o deixou inconsciente.
O caso de Jiménez expõe
uma prática pouco conhecida,
mas amplamente utilizada.
Muitos hospitais norte-americanos estão decidindo repatriar
imigrantes doentes ou seriamente feridos porque não conseguiram encontrar clínicas de
recuperação que aceitem pacientes não-segurados.
A Previdência não cobre tratamentos de longo prazo para
imigrantes ilegais ou para legais recém-chegados. Isso cria
um dilema para os hospitais,
obrigados por lei federal a obter
tratamento pós-hospitalar a
pacientes que dele necessitem.
Repatriamento privado
As autoridades da Imigração
não interferem nesses casos de
repatriamento privados, realizados por ambulâncias, aviões-ambulância ou em vôos comerciais. A maior parte dos hospitais diz só realizá-los se os pacientes estiverem clinicamente
estáveis e se houver como deixá-los sob cuidados médicos.
Porém agem em um vácuo,
deixando ampla margem para
transgressões éticas e legais em
ambos os lados da fronteira. Alguns advogados de imigrantes
vêem essas repatriações como
uma espécie de golpe internacional nos pacientes.
Já os hospitais as vêem como
custosas, jogando sobre eles o
ônus do mau funcionamento
dos sistemas de saúde e de imigração. Em muitos casos, dizem, a única alternativa é manter os pacientes indefinidamente em prontos-socorros.
As repatriações médicas têm
ocorrido com variados níveis
de consentimento por parte
dos pacientes, conforme os
hospitais e os Estados envolvidos. Mas nenhuma agência do
governo nem advogado acompanha esses casos, o que torna
difícil quantificá-los.
Muitos hospitais promovem
repatriações apenas em último
caso. "Já enviamos pacientes
para Lituânia, Polônia, Honduras, Guatemala e México", explica Cara Pacione, diretora de
trabalho social do hospital
Monte Sinai, em Chicago.
"Mas, de uma média de 12 pessoas ao ano nessa situação, repatriamos no máximo duas."
Outros são mais agressivos.
Um hospital de Tucson tentou
despachar para o México um cidadão americano -um bebê
doente cujos pais eram imigrantes ilegais. Alertada, a polícia impediu o vôo.
A irmã Margaret McBride, do
hospital St. Joseph, em Phoenix (Arizona), diz que as famílias não ficam felizes com as repatriações. Mas, diz, "não pedimos seu consentimento".
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