São Paulo, terça-feira, 04 de setembro de 2001

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EUROPA

Objetivo é desafogar centro da Cruz Vermelha para os que tentam obter asilo no Reino Unido; plano é criticado por britânicos

França quer ter novo campo de refugiados

SYLVAIN LEFÈVRE
DA REUTERS, EM BAILLEUL

A França está estudando a possibilidade de abrir um segundo campo de refugiados perto do canal da Mancha, para desafogar um campo usado pela Cruz Vermelha para abrigar refugiados que tentam conseguir asilo político no Reino Unido, segundo informação divulgada ontem pelas autoridades francesas.
Porém as autoridades admitem que o novo centro, que deverá ser construído em Bailleul, a noroeste de Lille, não terá grande efeito sobre o fluxo de refugiados do campo de Sangatte (perto de Calais) em direção ao Reino Unido.
O Reino Unido expressou descontentamento em relação aos planos franceses, dizendo não ver como um novo campo de refugiados poderá ajudar a lutar contra o problema da imigração clandestina através do canal da Mancha.
"Posso confirmar que estamos estudando a construção de um novo campo para aliviar a pressão que existe em Sangatte", afirmou Marc Gendilini, presidente da Cruz Vermelha francesa, que administra o campo de Sangatte.
Uma porta-voz da Cruz Vermelha disse que o novo campo seria construído em Bailleul, a 60 km do túnel sob o canal da Mancha.
Um funcionário do Ministério do Interior francês, que é responsável pelos campos, disse que vários locais estavam sendo estudados. O novo centro deverá abrigar 200 dos 1.600 refugiados afegãos, iraquianos, iranianos, curdos e turcos que vivem em Sangatte.
Porém ele não deverá conter o fluxo de imigrantes clandestinos para o Reino Unido. "O novo campo não fará muita diferença, pois só abrigará refugiados que quiserem ficar na França. Aqueles que quiserem ir para o Reino Unido continuarão em Sangatte", disse François Muselet, assessor do prefeito de Sangatte.
"A única forma de pôr fim à imigração clandestina a partir de Sangatte é fechar o campo de refugiados", acrescentou.
A Eurotunnel, a empresa que gere a ferrovia submarina que liga a França ao Reino Unido, já entrou com ação na Justiça francesa para pedir o fechamento do campo de Sangatte. Segundo a empresa, ele é responsável pelo aumento do número de imigrantes ilegais que entram no Reino Unido.
Autoridades francesas dizem que o campo foi aberto para abrigar pessoas que se aglomeravam nas ruas de Calais antes de sua abertura. Para as autoridades, o campo não é responsável pelos problemas de segurança do terminal ferroviário de La Coquelle, situado em Calais.
Em Londres, o porta-voz do Ministério do Interior afirmou que um novo campo de refugiados não ajudaria a resolver o problema da imigração clandestina.
Segundo o prefeito de Bailleul, Jean Delobel, o governo francês lhe perguntou há dez dias se a cidade podia abrigar um centro de acolhimento de refugiados. Ele disse ainda que um terreno que pertence a um hospital psiquiátrico poderia abrigar o novo campo se Paris decidisse construí-lo.
De acordo com a Cruz Vermelha, mais de mil refugiados conseguiram entrar no Reino Unido -passando pela França- desde janeiro. Quatro pessoas morreram tentando fazê-lo. Outras 50 mil pessoas, ainda segundo a Cruz Vermelha, desistiram de tentar e foram para outros países da União Européia. Cerca de 500 mil pessoas pediram asilo a países da UE nos últimos dez anos.


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