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Reino Unido é
o objetivo final
dos imigrantes
KIM SENGUPTA
DO "THE INDEPENDENT", EM CALAIS
Uma onda de pessoas deixa
todas as noites o campo de Sangatte, perto de Calais, "em direção à cidade". Poucos refugiados admitem sua verdadeira
intenção, que é a de entrar na
estação ferroviária de La Coquelle para, com um pouco de
sorte, ingressar no Reino Unido dentro de um trem que atravessa o canal da Mancha.
Eles caminham no mais absoluto silêncio, fugindo das luzes dos carros que passam pelas ruas. Todos sabem que as
chances de atingir o objetivo
são mínimas, a maior parte deles será detida e enviada de volta ao campo de Sangatte.
Rahima Dostur, que é curda,
diz: "Se tentarmos várias vezes,
acabaremos conseguindo". A
persistência dos refugiados é
tamanha que a empresa que
administra a ferrovia submarina que atravessa o canal da
Mancha, a Eurotunnel, entrou
na Justiça para pleitear o fechamento do centro de Sangatte.
Segundo a Eurotunnel, no
primeiro semestre deste ano,
mais de 18 mil refugiados foram detidos tentando entrar
em trens que partiam de La Coquelle. Mais de 200 pessoas por
dia tentam fazê-lo, cem foram
detidas no último sábado.
A Eurotunnel gastou quase
US$ 5 milhões para proteger o
terminal. Há uma cerca de
mais de 30 quilômetros de extensão e um circuito fechado de
televisão com 200 câmeras.
Porém outros números preocupam a Eurotunnel ainda
mais. O Ministério do Interior
britânico pretende começar a
cobrar da empresa uma multa
de cerca de US$ 3.000 por imigrante ilegal encontrado dentro de seus trens.
A Eurotunnel pediu que a Alta Corte de Londres analisasse
a decisão do governo. O processo em Lille, na França, faz
parte da mesma batalha legal.
Com o processo francês, a empresa quer que a Justiça obrigue o governo a fechar o campo
de refugiados de Sangatte.
O prédio de Sangatte pertencia à Eurotunnel, que o utilizava para abrigar trabalhadores
durante a construção do túnel
sob o canal da Mancha. Depois
foi requisitado pelo governo
para abrigar refugiados.
Os refugiados costumam andar perto da cerca de La Coquelle, procurando buracos pelo qual possam passar. Rahima
não quer falar, pois está muito
nervosa. A poucos metros dali,
o afegão Selim Afridi aceita falar. "Quatro amigos meus já
conseguiram passar. Já tentei
três vezes, mas ainda não consegui. Sei que vou conseguir,
mas é difícil porque a polícia
está sempre atenta."
No dia seguinte, no centro de
Sangatte, Selim desabafa: "Por
que os britânicos querem tanto
nos impedir de entrar no Reino
Unido? Sou um bom trabalhador, tenho diploma de faculdade e sou bem educado. Além
disso, não há mais nada para
mim no Afeganistão."
"O Afeganistão voltou ao
passado. Não podemos voltar.
Os ocidentais não entendem a
situação", diz Balbir Singh.
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