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Cerco aumenta tensão no Cáucaso
STEFAN WAGSTYL
TOM WARNER
DO "FINANCIAL TIMES"
A crise dos reféns numa escola
da Ossétia do Norte aumenta as
tensões em todo o Cáucaso, uma
região marcada por instabilidade,
conflitos étnicos e pobreza.
Para a maioria dos russos, Moscou é a potência dominante no
Cáucaso, e com razão. Eles lamentam os territórios perdidos
com a queda da União Soviética
-Azerbaijão, Armênia e Geórgia, especialmente esta última,
com a qual a Rússia mantinha
vínculos culturais estreitos.
Sob a égide do presidente Vladimir Putin, o Kremlin reafirmou
sua autoridade sobre as repúblicas russas do norte do Cáucaso,
incluindo a Tchetchênia, única república em guerra separatista
contra a Rússia, desde que declarou sua independência em 1991.
Mas o Kremlin teme que, se
uma república conquistar a independência, outras poderão começar a reivindicar autonomia
maior, ou algo ainda pior.
Os líderes tchetchenos compreendem muito bem a complexa
rede política e étnica da região e
procuram explorar a situação, levando sua luta para fora das fronteiras da Tchetchênia.
O cerco à escola na Ossétia do
Norte teve um precedente sinistro
no primeiro grande incidente terrorista causado por tchetchenos:
o cerco a um hospital em Buddenovsk, no sul da Rússia, em 1995,
que deixou cerca de cem mortos.
A maioria das vítimas era de etnia
russa. No cerco à escola, a maioria
das vítimas é formada por ossetianos, um grupo étnico que, de modo geral, é leal a Moscou.
Os terroristas teriam exigido a
libertação de 30 homens detidos
após o ataque lançado em junho
contra instalações do Ministério
do Interior em Nazran, na vizinha
Inguchétia, onde morreram 90
pessoas. Os prisioneiros são
tchetchenos e inguches -estes
têm vínculos estreitos com os
tchetchenos mas, de maneira geral, têm se mantido de fora do
conflito. Se for descoberto que há
inguchétios entre os terroristas
que invadiram a escola, esse fato
pode assinalar a existência de um
novo nível de cooperação entre
tchetchenos e inguches.
Também há sinais de intranqüilidade em Kabardino-Balkária,
república a noroeste da Tchetchênia, e no Daguestão, onde o controle da república vizinha à Tchetchênia é disputado por clãs adversários. Nesses casos, não há provas de envolvimento tchetcheno.
O analista político georgiano
Alex Rondeli comenta: "Hoje é a
Ossétia do Norte, com os problemas vindos da Inguchétia e da
Tchetchênia. Amanhã poderá ser
a Kabardino-Balkária ou o Daguestão. A Rússia não se sente forte na região do norte do Cáucaso.
Os problemas ali são muitos".
Para Putin, esses problemas são
causados em boa parte pelos
tchetchenos e sua capacidade de
espalhar a violência pela região,
impedindo o desenvolvimento
econômico de uma área onde a
pobreza impera há anos. A capacidade de ataque dos tchetchenos
é intensificada pelo fato de que
cerca de dois terços da população
hoje vivem fora da Tchetchênia.
Representantes russos já acusaram radicais islâmicos de fomentar sentimentos anti-russos. Desde o 11 de Setembro, Moscou tenta apontar vínculos entre os combatentes locais e a Al Qaeda e outros grupos do Oriente Médio.
Mas os serviços de inteligência
ocidentais vêm essas acusações
com ceticismo. Um de seus representantes afirmou: "Os terroristas
[na escola da Ossétia do Norte]
são um grupo de tchetchenos que
atuam no Cáucaso. O que os move não é a jihad ou a ideologia islâmica, mas a meta da retirada da
Rússia da Tchetchênia".
Sejam quais forem as causas do
problema, o Kremlin vai procurar
manter o controle na região. Analistas georgianos temem que
Moscou adote uma linha mais dura na defesa de seus interesses na
Geórgia, onde a Rússia mantém
bases militares, apesar de ter prometido retirá-las. Moscou também apoiou administrações separatistas nas repúblicas georgianas
da Ossétia do Sul e da Abkházia.
Um cessar-fogo está em vigor
na Ossétia do Sul, mas as tensões
entre camponeses ossetianos e
georgianos na região continuam
acirradas. Nesta semana, em
Moscou, Putin se reuniu com um
candidato na eleição para a presidência da Abkházia. A Geórgia
criticou o encontro, qualificando-o como apoio da Rússia ao movimento separatista abkhaz.
Rondeli diz temer que a linha
dura russa use a onda de terrorismo para justificar o aumento do
apoio aos separatistas na Geórgia.
Tradução de Clara Allain
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